quarta-feira, julho 25, 2012

Amor Abundante / R.C. Sproul

Amor de Complacência 

Em sua magnífica biografia de Jonathan Edwards, George Marsden cita um trecho da Narrativa Pessoal, de Edwards: “Desde que cheguei a esta cidade [Northampton], eu tenho experimentado freqüentemente uma doce complacência em Deus, em vista das suas gloriosas perfeições, e da excelência de Jesus Cristo. Deus têm se mostrado para mim um ser glorioso e fascinante, por conta de sua santidade. A santidade de Deus sempre me pareceu ser o mais adorável de todos os seus atributos” (p. 112). 

Se nós considerarmos a linguagem de Edwards e a sua escolha das palavras para descrever seu deleite arrebatador na glória de Deus, observaremos sua ênfase na doçura, na graça e na excelência de Deus. Ele relata desfrutar de uma “doce complacência” em Deus. O que ele quer dizer? O termo complacência não é uma palavra que usamos para descrever certa presunção, um comodismo autoconfiante, um tipo de inércia indolente que resulta de um tipo superficial de satisfação? Talvez. Mas vemos aqui um exemplo claro de como as palavras mudam de significado com o passar do tempo. 

O que Edwards queria expressar com uma “doce complacência” não tinha nada a ver com uma dose contemporânea de presunção, e sim com uma sensação de prazer. Esse “prazer” não deve ser entendido como uma crassa sensação hedonista ou sensual, mas um deleite naquilo que é supremamente agradável à alma. 
As raízes desse significado de “complacência” têm origem no Oxford English Dictionary (vol. 3), onde o sentido principal é “o fato ou o estado de se agradar de alguma coisa ou pessoa; o plácido prazer ou a satisfação em algo ou alguém”. As referências citadas para esse uso vêm de John Milton, Richard Baxter, e J. Mason. Este último é citado: “Deus não pode ter complacência verdadeira em ninguém senão naqueles que são como ele”. 
Eu insisto no uso mais antigo do inglês para a palavra complacência por ser ela usada de forma crucial na linguagem da teologia histórica e ortodoxa. Quando falamos do amor de Deus, fazemos uma distinção entre as três categorias desse amor: o amor de benevolência, o amor de beneficência e o amor de complacência. O motivo da distinção é atentarmos para as diferentes formas pelas quais Deus ama a todas as pessoas, em um sentido, e de forma especial a seu povo, os remidos.

O Amor de Benevolência

Benevolência é uma palavra derivada do prefixo latino bene, que significa “bem,” ou “bom,” e é a raiz da palavra vontade. As criaturas que exercitam a faculdade da vontade pela tomada de decisões são chamadas de criaturas volitivas. Ainda que Deus não seja uma criatura, ele é um ser volitivo à medida que tem também a capacidade decisão. 

Todos nós conhecemos bem o relato de Lucas do nascimento de Jesus, no qual o exército celestial louva a Deus, declarando: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens” (Lc 2.8-14, ARC). Ainda que se argumente que a bênção é dada aos homens de boa vontade, o significado principal é o mesmo. O amor de benevolência é a qualidade da boa vontade para com as pessoas. O Novo Testamento está repleto de referências da boa vontade de Deus para com toda a humanidade, mesmo em nossa condição caída. Apesar de satanás ser um ser malévolo (que fomenta má vontade para conosco e para com Deus), nunca se pode dizer devidamente de Deus que Ele é malévolo. Ele não tem malícia em sua pureza, nem malignidade em suas ações. Deus não se “deleita” na morte do ímpio — ainda que a decrete. Seus julgamentos sobre o mal estão fundamentados em Sua justiça, e não em alguma malícia distorcida em Seu caráter. Como um juiz terreno lamenta ao mandar o culpado para o castigo, Deus se alegra na justiça desse ato, mas não tem prazer nenhum na dor dos que são merecidamente punidos. 
Esse amor de benevolência, ou boa vontade, se estende a todas as pessoas, sem distinção. Nesse sentido, Deus é amoroso até para com os condenados ao inferno.

O Amor de Beneficência 

Este tipo de amor, o amor de beneficência, está intimamente relacionado ao amor de benevolência. A diferença entre benevolência e beneficência é a mesma que há entre a disposição e a ação. Eu posso me sentir favorável a alguém, mas a minha boa vontade continuará desconhecida até ou a menos que eu a manifeste por alguma ação. Nós freqüentemente associamos beneficência com atos de bondade ou caridade. Notamos aqui que a própria palavra “caridade” é freqüentemente usada como sinônimo de amor. No sentido de beneficência, atos de bondade são atos do amor de beneficência. 

Jesus enfatizou esse aspecto do amor de Deus no ensino a respeito daqueles que se beneficiam da providência de Deus: “Ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. ’ Eu, porém, vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão havereis?” (Mt 5.43ss. ARC). 

Nessa passagem, Jesus prescreve a prática do amor para com os inimigos. Percebamos que esse amor não é definido em termos de sentimentos ardentes, vagos ou sanguíneos, mas em termos de comportamento. Neste contexto, amor é mais um verbo que um substantivo. Amar nossos inimigos é sermos amorosos para com eles. E isso envolve fazer-lhes o bem.
Sob esse aspecto, o amor que devemos demonstrar é um reflexo do amor de Deus para com seus inimigos. Àqueles que o odeiam e o maldizem, Ele mostra o amor de beneficência. A benevolência (boa vontade) de Deus é demonstrada em sua beneficência (ações benignas). Seu sol e chuva são concedidos igualmente ao justo e ao injusto. 
Vemos então que o amor benevolente e o amor beneficente de Deus são universais. Eles se estendem a toda a humanidade. 
Aqui, porém, está a principal diferença entre esses tipos de amor e o amor de complacência de Deus. Seu amor de complacência não é universal, nem incondicional. Tristemente, em nossos dias, o caráter glorioso desse tipo de amor divino é geralmente negado ou obscurecido por uma universalização coletiva do amor de Deus. Declarar indiscriminadamente às pessoas que Deus as ama “incondicionalmente” (sem distinguir com cuidado os tipos diferentes de amor divino) é promover uma falsa sensação de segurança nos ouvintes. 
O amor de complacência de Deus é o deleite e o prazer especiais que Deus tem primeiramente em seu Filho unigênito. É Cristo o amado do Pai, acima de todos; Ele é o Filho em quem o Pai “se compraz.” 
Pela adoção em Cristo, cada crente participa desse divino amor de complacência. Esse é o amor desfrutado por Jacó, mas não por Esaú. Esse amor é reservado para os remidos em quem Deus se deleita – não porque haja algo inerentemente amável ou prazeroso em nós – mas porque estamos tão unidos a Cristo, o Amado do Pai, que o amor que o Pai tem pelo Filho é derramado sobre nós. O amor de Deus por nós é agradável e doce para Ele e para nós, como Jonathan Edwards compreendeu tão bem.

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domingo, julho 15, 2012

A Maior Luta do Mundo / Charles H. Spurgeon

“Se quisermos armas temos de buscá-las nas Escrituras e só nas Escrituras. Quer busquemos a espada de ataque quer o escudo de defesa, nós os encontraremos somente nas páginas do Livro inspirado. Se outros têm qualquer outro paiol, eu confesso desde já que não tenho. Se eu puser de lado este Livro, não tenho mais nada para pregar. E, na verdade, não terei mais desejo de pregar, se não puder continuar a expor os assuntos que encontro nestas páginas. Há mais alguma coisa que valha a pena ser pregada?
Irmãos, a verdade de Deus é o único tesouro que procuramos, e a Escritura é o único campo onde podemos cavar para encontrá-lo. Nós não necessitamos nada mais do que aquilo que Deus achou próprio revelar. Há certas pessoas de espírito errante, que só se sentem bem quando saem a vaguear em todas as direções: elas anseiam por algo que, penso eu, nunca encontrarão enquanto tiverem essa inclinação, quer seja no alto dos céus, quer debaixo da terra, quer nos mares. Elas nunca descansam, porque não querem aceitar uma revelação infalível; por conseguinte, estão destinadas a vaguear através dos tempos e da eternidade, sem encontrarem uma cidade onde habitar.
Elas regozijam-se momentaneamente, como se ficassem satisfeitas com o seu último brinquedo; mas, dentro de alguns meses, divertem-se em despedaçar todas as noções que anteriormente tinham ostentado com prazer. Sobem um monte, apenas para descerem de novo. De fato, essas pessoas dizem que a busca da verdade é melhor do que a própria verdade. Elas gostam mais de pescar do que do próprio peixe; o que pode muito bem ser verdade, visto que o seu peixe é pequeno e cheio de espinhas. Estes homens são tão hábeis em destruir as suas próprias teorias como o são certos mendigos em rasgar suas próprias roupas. Começam sempre de novo, vezes sem conta; estão sempre a cavara os alicerces de sua própria casa. Eles devem ser bons em construir alicerces, porque desde que os conhecemos nunca passaram do início. Eles são como um objeto rodopiando ao vento, ou “como o mar agitado por longos períodos, cujas águas lançam à superfície lodo e sujeira”. Embora a sua nuvem não seja aquela que manifesta a presença divina, sempre está se movendo diante deles. Mal acabam de levantar a sua tenda e é tempo de mudar novamente. Estas pessoas nem sequer estão procurando uma certeza; o seu prazer consiste em evitar toda a verdade estabelecida e em procurar qualquer vislumbre de especulação; estão sempre aprendendo mas nunca chegam ao conhecimento da verdade (2Tm 3.7)” 

Charles H. Spurgeon
A Maior Luta do Mundo
Editora Fiel
Páginas 15 – 16

sábado, julho 14, 2012

Como é, e como deve ser o louvor da Igreja Brasileira? / Renato Vargens




Foi realizado na 14ª Consciência Cristã o 4º Seminário sobre a Realidade da Igreja Brasileira. Este evento recebeu como um de seus palestrantes o Pr. Renato Vargens, e tinha como princípio analisar criticamente os dramas vividos pela Igreja Brasileira na atualidade, apontando um caminho de fortalecimento dentro dos ensinamentos da Palavra de Deus. Como é e como deve ser o Louvor da Igreja Brasileira é a palestra que você pode assistir agora.
"Cantamos porque somos gratos... E o louvor deve ser centrado na pessoa de Cristo e não em nós... Precisamos Cantar as Escrituras!" - Renato Vargens

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quarta-feira, julho 11, 2012

Pregação de Prosperidade: Enganosa e Mortífera / John Piper

Quando leio sobre pregação de prosperidade nas igrejas, minha resposta é: “Se não estivesse dentro do Cristianismo, eu não desejaria estar.” Em outras palavras: se essa é a mensagem de Jesus, não, obrigado! Atrair as pessoas a Cristo prometendo riqueza é tanto enganoso como mortífero. Éenganoso porque quando o próprio Jesus nos chamou, ele disse coisas como: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:33). E é mortífero porque o desejo de ser rico faz com que as pessoas caiam “na ruína e perdição” (1 Timóteo 6:19). Assim, aqui está o meu apelo aos pregadores do evangelho.
1. Não desenvolva uma filosofia de ministério que torne difícil as pessoas entrar no céu. Jesus disse: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” Seus discípulos ficaram estupefatos, como muitos no movimento de “prosperidade” deveriam ficar. Assim, Jesus aumentou ainda mais o assombro deles dizendo: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus”. Eles responderam em descrença: “Então, quem pode ser salvo?” Jesus disse: “Para os homens é impossível; contudo, não para Deus, porque para Deus tudo é possível” (Marcos 10:23-27). Minha pergunta para os pregadores da prosperidade é: Por que você desejaria desenvolver um foco ministerial que torna difícil as pessoas entrar no céu?
2. Não desenvolva uma filosofia de ministério que atice desejos suicidas nas pessoas. Paulo disse: “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1 Timóteo 6:6-10). Assim, minha pergunta para os pregadores da prosperidade é: Por que você desejaria desenvolver um ministério que encoraja as pessoas a se atormentarem com muitas dores e se afogarem na ruína e perdição?
3. Não desenvolva uma filosofia de ministério que encoraje a vulnerabilidade à traça e à ferrugem. Jesus adverte contra o esforço de ajuntar tesouro na terra. Isto é, ele nos manda ser doadores, e não guardiões. “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam” (Mateus 6:19). Sim, todos nós guardamos algo. Mas dada a nossa tendência inerente em todos nós para com a ambição, por que deveríamos tirar o foco de Jesus e invertê-lo totalmente?
4. Não desenvolva uma filosofia de ministério que faça trabalho duro significar acúmulo de riqueza. Paulo disse que não deveríamos roubar. A alternativa era trabalhar duro com as nossas próprias mãos. Mas o propósito principal não era meramente acumular ou mesmo ter. O propósito era “ter para dar.” “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (Efésios 4:28). Isso não é justificação para ser rico a fim de dar mais. É um chamado para fazer mais e acumular menos, para que possa dar mais. Não há razão pela qual uma pessoa que ganha R$ 500.000,00 por ano deva viver diferentemente de uma pessoa que ganha R$ 200.000,00. Descubra um estilo de vida moderado; corte os seus gastos supérfluos; então, dê o restante. Por que você desejaria encorajar as pessoas a pensar que elas deveriam possuir riqueza para serem um doador generoso? Por que não encorajá-las a manter suas vidas mais simples e serem um doador ainda mais generoso? Isso não adicionaria à generosidade deles um forte testemunho que Cristo, e não as possessões, é o seu tesouro?
5. Não desenvolva uma filosofia de ministério que promova menos fé na promessa de Deus ser para nós o que o dinheiro não pode ser. A razão do escritor aos Hebreus nos mandar estarmos contentes com o que temos é que o oposto implica menos fé nas promessas de Deus. Ele diz: “Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei. Assim, afirmemos confiantemente: O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?” (Hebreus 13:5-6). Se a Bíblia nos diz que estarmos contentes com o que temos honra a promessa de Deus nunca nos abandonar, por que desejaríamos ensinar as pessoas a desejarem ser ricas?
6. Não desenvolva uma filosofia de ministério que contribua para que o seu povo fique sufocado até a morte. Jesus adverte que a palavra de Deus, que tem o intento de nos dar vida, pode ser sufocada pelas riquezas. Ele diz que isso é como uma semente que cresce entre espinhos, e é sufocada até a morte: “A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer” (Lucas 8:14). Por que desejaríamos encorajar as pessoas a buscar a própria coisa que Jesus adverte que nos sufocará até a morte?
7. Não desenvolva uma filosofia de ministério que tire o sabor do sal e coloque a candeia debaixo da vasilha. O que existe nos cristãos que os torna o sal da terra e a luz do mundo? Não é a riqueza! O desejo e a busca por riqueza têm o mesmíssimo sabor e aparência do mundo. Isso não oferece ao mundo nada diferente daquilo que ele já crê. A grande tragédia da pregação da prosperidade é que uma pessoa não tem que ser espiritualmente vivificada para abraçá-la; a pessoa precisa ser apenas gananciosa.  Ficar rico em nome de Jesus não é ser o sal da terra ou a luz do mundo. Nisso, o mundo simplesmente vê um reflexo de si mesmo. E se funciona, eles comprarão. O contexto do discurso de Jesus nos mostra o que é o sal e a terra. Eles são a disposição alegre de sofrer por Cristo. Aqui está o que Jesus disse: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. Vós sois o sal da terra…Vós sois a luz do mundo” (Mateus 5:11-14). O que fará o mundo provar (o sal) e ver (a luz) de Cristo em nós não é que amamos a riqueza da mesma forma que eles o fazem. Antes, será a disposição e a capacidade dos cristãos amarem os outros mesmo durante o sofrimento, enquanto se regozijam porque a recompensa deles está no céu com Jesus. Isso é inexplicável em termos humanos. É sobrenatural! Mas atrair as pessoas com promessas de prosperidade é simplesmente natural. Essa não é a mensagem de Jesus. Ele não morreu para assegurar isso.

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terça-feira, julho 10, 2012

Verdade e Amor / John Piper

Pense comigo por um momento sobre educação e relacionamentos. Alguns de vocês se preocupam profundamente para que a EDUCAÇÃO PARA EXULTAÇÃO não ignore ou marginalize relacionamentos de amor. Eles são essenciais numa educação real, duradoura e transformadora de vidas. Amém!
Assim, eu me volto para a Bíblia. Eu encontro no lugar das palavras “educação” e “relacionamento,” as palavras “verdade” e “amor.” Assim, o que a Bíblia diz sobre como a verdade e o amor se relacionam um com o outro? Há pelo menos quatro maneiras de falar sobre este relacionamento.

1. A verdade tem com objetivo o amor.
“O objetivo desta instrução é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera” (1Timóteo 1:5, NVI). Note: a instrução não é o objetivo, mas sim o amor. A instrução é o meio. Ela é subordinada. A verdade serve o amor. A educação serve os relacionamentos—principalmente o relacionamento entre nós e Deus, mas também entre cristão e cristão, e entre nós e os incrédulos. O “objetivo” de toda a nossa educação é o amor.
“Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel. E consideremos uns aos outros para nos incentivarmos ao amor e às boas obras... encorajar-nos uns aos outros” (Hebreus 10:23-25). O objetivo de “considerar uns aos outros” e “encorajar uns aos outros” é para que nos incentivemos ao amor. Misturamos a “esperança que professamos” com o “uns aos outros,” e o efeito é incentivar uns aos outros ao amor. A verdade da doutrina e a verdade do povo vigilante unidos objetivando o amor.

2. O amor tem com objetivo a verdade.
“O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade” (1Coríntios 13:6). O amor se alegra quando a verdade é proclamada. Portanto, o amor tem como objetivo a verdade. Ele apóia a verdade.
“Pois eu lhes escrevi com grande aflição e angústia de coração, e com muitas lágrimas, não para entristecê-los, mas para que soubessem como é profundo o meu amor por vocês” (2Coríntios 2:4). Aqui está um exemplo de como o amor tem como objetivo a verdade. Paulo está cheio de amor e isso o compele a escrever uma carta que foi severa, e que causou aflição nele e nos coríntios. Mas era necessário que aquilo fosse dito. O amor fala a verdade pessoal e doutrinariamente.

3. O amor muda como falamos a verdade.
“Antes, falando a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4:15, versão do autor). Há uma maneira não amável de falar a verdade. Deveríamos repudiar este tipo de discurso. Mas há uma forma de falar a verdade em amor, e esta deveríamos aspirar. Ela não é sempre uma forma delicada de se fala, caso contrário Jesus teria sido acusado de carecer de amor ao tratar com algumas pessoas nos Evangelhos. Mas ela pergunta qual é a coisa mais útil a se dizer quando todas as coisas são consideradas. Algumas vezes o que teria sido uma palavra dura para um grupo é um ato de amor necessário para outro, e não uma injustiça para com o grupo ao qual se dirigiu. Mas em geral, o amor dispõe a verdade em palavras e formas que são pacientes e gentis (2 Timóteo 2:24-25).

4. A verdade muda como demonstramos o amor.
“Assim sabemos que amamos os filhos de Deus: amando a Deus e obedecendo aos seus mandamentos. Porque nisto consiste o amor a Deus: em obedecer aos seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados” (1João 5:2). Não é sempre óbvio quais atos são amorosos. Assim, João nos diz uma verdade que nos ajudará a saber se nossos atos são amorosos ou não. Um teste verdadeiro para o nosso amor é se estamos obedecendo aos mandamentos de Deus para com as pessoas. Em outras palavras, o amor não pode ser separado da verdade da vontade de Deus. A verdade muda como demonstramos o amor.
Oremos para que Deus faça com que o seu amor e verdade abundem em nosso meio, de todas estas formas, para a glória do seu amor cheio de verdade e da sua verdade cheia de amor.

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domingo, julho 08, 2012

A Verdadeira Igreja / J.C. Ryle

Desejo que você pertença à verdadeira igreja, fora da qual não existe salvação. Não estou perguntando: “Aonde você vai aos domingos?” Simplesmente quero saber: “Você pertence à verdadeira igreja?”
Onde se encontra esta igreja? Quais suas características? Que marcas podem identificá-la? Talvez você faça estas perguntas. Preste atenção, lhe apresentarei algumas respostas.

1. A verdadeira igreja é constituída de todos os crentes no Senhor Jesus. É formada por todos os eleitos — homens e mulheres convertidos, verdadeiros cristãos. Em todo aquele que é capaz de reconhecer a eleição de Deus, o Pai, a aspersão do sangue de Deus, o Filho e a obra santificadora de Deus, o Espírito Santo — neste podemos ver um membro da verdadeira igreja de Cristo.

2. A verdadeira igreja possui membros que manifestam as mesmas características. Todos foram nascidos de novo por intermédio do Espírito Santo; possuem “o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor, Jesus Cristo”, bem como santidade em sua vida e conversa. Todos odeiam o pecado e amam a Cristo. (Adoram-No de maneiras e formas diferentes: alguns utilizam orações escritas, outros, as suas próprias palavras; alguns adoram ajoelhados, outros, em pé; mas todos adoram com todo o seu coração.) São guiados pelo Espírito Santo, edificam sua vida espiritual sobre o mesmo fundamento e aprendem sua religião de um único Livro — a Bíblia. Todos centralizam-se na mesma pessoa — Jesus Cristo; podem agora cantar unânimes, com inteireza

de coração: “Aleluia!”, e responder a uma voz: “Amém, Amém”.

3. É uma igreja que não depende de qualquer ministro do evangelho, ainda que ela valoriza muito aqueles que o pregam a seus membros. A vida espiritual deles não está atrelada à sua membresia na igreja local, ou ao seu batismo, ou à sua participação na Ceia do Senhor, embora valorizem grandemente estas coisas, quando elas são realizadas.
A verdadeira igreja possui apenas um Cabeça, Pastor e Bispo — Jesus Cristo. Somente Ele, por intermédio de seu Espírito, recebe os membros desta igreja, embora os ministros do evangelho mostrem-lhes a porta. Enquanto Ele não abrir a porta, nenhum homem poderá fazê-lo — nem bispos, nem presbíteros, nem concílios ou sínodos. Quando o homem se arrepende e crê no evangelho, neste momento ele se torna membro desta igreja. Assim como o ladrão arrependido, o homem que se arrepende e crê talvez não tenha ocasião para ser batizado. Mas ele tem algo que é superior a qualquer batismo: o batismo do Espírito. Talvez ele não possa receber o pão e o vinho na Ceia do Senhor, mas se alimenta do corpo e do sangue de Cristo por meio da fé que a cada dia ele manifesta; e nenhum pastor ou sacerdote é capaz de impedi-lo. Homens consagrados ao ministério podem excomungá-lo e privá-lo da participação nas ordenanças exteriores da igreja professa; no entanto, todos os homens do mundo não são capazes de expulsá-lo da verdadeira igreja.
A existência da verdadeira igreja não depende de formas, cerimônias, grandes edifícios, púlpitos, vestes, instrumentos musicais, talentos, dinheiro, reis, governos, magistrados ou qualquer atos de favor da parte dos homens. Ela tem sobrevivido e permanecido mesmo quando todas essas coisas lhe foram retiradas. A verdadeira igreja tem sido expulsa para os desertos ou para as cavernas e antros da terra, por aqueles que deveriam ter sido seus amigos. Sua existência não depende de nada, exceto da presença de Cristo e do Espírito Santo. E, se Eles estão sempre ao lado da igreja, esta não poderá desaparecer.

4. A verdadeira igreja tem o direito bíblico de honra e privilégios no presente e as promessas da glória eterna, no futuro. Ela é o corpo e o rebanho de Cristo, a família e a casa de Deus; é o edifício construído por Deus e o templo do Espírito Santo. Ela é a igreja dos primogênitos, cujos nomes estão arrolados nos céus. A verdadeira igreja é o sacerdócio real, a nação eleita, o povo que pertence exclusivamente a Deus, a herança adquirida, a habitação de Deus, a luz do mundo, o sal e o trigo da terra. É a “santa igreja católica”, do credo apostólico, a “igreja católica e apostólica”, do credo niceno. A verdadeira igreja é aquela para a qual o Senhor Jesus prometeu: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela”; e: “Eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 16.18; 28.20).

5. É a única que possui verdadeira unidade. Seus membros concordam unanimemente em todas as grandes verdades do cristianismo, pois o Espírito Santo os instrui. No que diz respeito à pessoa de Deus, de Cristo e do Espírito Santo e no que se refere ao pecado, a seus próprios corações, à fé, ao arrependimento, à necessidade de santidade, ao valor da Bíblia, à importância da oração, à ressurreição e ao julgamento vindouro — em todos estes assuntos, eles possuem o mesmo pensamento. Converse com três ou quartos dentre eles, que não conhecem um ao outro, dos mais remotos lugares da terra; verifique separadamente suas opiniões sobre estes assuntos: descobrirá que todos demonstram o mesmo entendimento.

6. É a única igreja que possui a verdadeira santificação. Seus membros são santos, não apenas porque professam e têm esse nome ou porque, devido à sua caridade, os outros o reputam como santos. Eles realmente são santos em atitudes, vida e verdade. Todos eles se conformam à imagem de Jesus Cristo. Nenhum homem ímpio pertence a esta igreja.

7. É a única igreja verdadeiramente católica. Não pertence a um povo ou a uma nação. Seus membros se encontram em todas as partes do mundo, onde quer que o evangelho seja recebido pelas pessoas e estas creiam nele. Não está confinada às fronteiras de qualquer país ou enclausurada no âmbito de quaisquer formas de governo. Nesta igreja, não existe qualquer diferença entre judeus e gentios, pretos e brancos, episcopais e presbiterianos — a fé em Cristo é tudo que importa. O membros da verdadeira igreja serão reunidos do norte, do sul, do leste e do oeste; procederão de todas as línguas e nações — Em Cristo, eles serão um.

8. É a única igreja verdadeiramente apostólica. Está edificada sobre os fundamentos dos apóstolos e mantém as doutrinas que eles pregaram. Os dois grandes alvos de seus membros são a fé e a prática dos apóstolos. E seus membros consideram como “bronze que soa” e “címbalo que retine” a pessoa que professa seguir os ensinos dos apóstolos e não possui esses dois grandes alvos.

9. É a única igreja que com certeza permanecerá até ao fim. Nada pode destruí-la ou vencê-la. Seus membros são perseguidos, aprisionados, oprimidos, decapitados, afligidos e lançados ao fogo; mas a verdadeira igreja jamais foi extinta. Ela sempre ressurgiu de suas tribulações; sobreviveu ao fogo e a água. Quando desarraigada de um país, ela brotou em outro. Os faraós, Herodes, Neros e as Marias Sanguinárias têm se esforçado em vão para destruir essa igreja. Assassinam os seus milhares de membros e, em seguida, morrem, indo para seu próprio lugar. A verdadeira igreja sobrevive a todos eles e os vê perecer, cada um a seu tempo. Ela é uma bigorna que já quebrou e ainda destruirá muitos martelos neste mundo; é uma sarça que está sempre ardendo em fogo, mas não se consome.

10. É a única igreja cujos membros jamais perecerão. Uma vez que se tornem parte dessa igreja, os pecadores estão salvos por toda a eternidade; jamais serão lançados fora. A eleição da parte do Pai, a contínua intercessão do Filho e o poder santificador do Espírito Santo os cerca e protege tal como um jardim fechado. Nenhum dos ossos do corpo místico de Cristo jamais será quebrado; nenhuma ovelha do rebanho de Cristo jamais será arrebatada de suas mãos.

11. A verdadeira igreja realiza a obra de Cristo na terra. Seus membros constituem um pequeno rebanho; comparados aos filhos do mundo, seus membros são poucos em número. Um ou dois aqui, dois ou três ali; um pequeno grupo aqui, outro ali. Mas estes membros são aqueles que transtornam o mundo. Eles, por meio de suas orações, mudam o destino dos povos; são trabalhadores enérgicos na obra de propagar o conhecimento da verdadeira e pura religião; são o escudo, a defesa, a coluna e o suporte de qualquer país ao qual pertencem.

12. É a igreja que será realmente gloriosa no final de todas as coisas. Quando toda a glória terrena houver desaparecido, a igreja será apresentada sem mácula diante do trono de Deus. As potestades, os principados e poderes deste mundo se tornarão em nada. As dignidades, as posições elevadas e a sabedoria humana — todas passarão; mas, no final, a igreja dos primogênitos resplandecerá como as estrelas do firmamento e será apresentada com júbilo diante do trono do Pai, no dia da manifestação visível de Cristo. Quando as jóias do Senhor Jesus estiverem completas e os filhos de Deus se tornarem manifestos, episcopais, presbiterianos e congregacionais não serão mencionados; somente uma igreja será conhecida naquele dia, a igreja dos eleitos.
Leitor, esta é a verdadeira igreja à qual o homem tem de pertencer, se deseja ser salvo. Enquanto você não pertencer a esta igreja, sua alma estará perdida. Talvez você tenha a forma, a casca e a aparência da religião, mas não possui a essência e a vida. Sim, é provável que você desfrute de muitos privilégios visíveis, de bastante luz e de conhecimento — mas, se não pertence ao corpo de Cristo, sua luz, privilégios e conhecimento não lhe salvarão a alma.
Infelizmente, hoje prevalece muita ignorância sobre este assunto. Os homens imaginam que, se fazem parte desta ou daquela igreja, ou recebem a comunhão, ou passam por esta ou aquela cerimônia, tudo está bem com sua alma. Isto é iludir-se completamente e cometer um terrível engano. Nem todas as pessoas da nação de Israel eram, de fato, israelitas; nem todos os que professam ser membros do corpo de Cristo são verdadeiramente crentes. Preste atenção: você pode ser um convicto anglicano, batista, metodista, presbiteriano, etc., e, apesar disso, não pertencer à verdadeira igreja. E, se não pertence, seria melhor não haver nascido.

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