Satanás não seria tão medíocre, a ponto de
ignorar o personagem central da História da humanidade — o Senhor Jesus. Pelo
contrário, o evangelho de Satanás reconhece o Senhor Jesus como o melhor homem
que já viveu. Este evangelho atrai a atenção das pessoas às obras de compaixão
e de misericórdia realizadas por Jesus, à beleza de seu caráter e à sublimidade
de seus ensinos. A sua vida é elogiada, mas a sua obra vicária é ignorada; a
importantíssima obra de expiação na cruz nunca é mencionada, enquanto a sua
triunfante ressurreição física, dentre os mortos, é considerada como uma das
credulidades de uma época de superstições. Este evangelho não contém o sangue
da expiação e apresenta um Cristo sem cruz, que é recebido não como Deus
manifestado na carne, e sim apenas como o Homem Ideal.
Em 2 Coríntios 4.3-4, temos uma passagem bíblica
que oferece muito esclarecimento sobre o nosso tema. Esta passagem nos diz: “Se
o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está en-
coberto, nos quais o deus deste século [Satanás] cegou o entendimento dos
incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de
Cristo, o qual é a imagem de Deus”. Satanás cega a mente dos incrédulos por
ocultar-lhes a luz do evangelho de Cristo e por substituí-lo pelo seu próprio
evangelho. Ele é apropriadamente chamado de “diabo e Satanás, o sedutor de todo
o mundo” (Ap 12.9). Apenas em apelar ao “melhor que existe no homem” e em
exortá-lo a “seguir uma vida nobre”, Satanás fornece uma plataforma geral sobre
a qual as pessoas de diferentes tons de opinião podem se unir e proclamar esta
mensagem comum.
Citamos, novamente, Provérbios 14.12: “Há caminho
que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte”. Alguém já
disse, com considerável verdade, que o caminho para o inferno está pavimentado
com boas intenções. Haverá muitos no lago de fogo que recomendaram suas
próprias vidas com boas intenções, resoluções honestas e ideais elevados —
aqueles que eram justos em seus relacionamentos, corretos em suas transações e
caridosos em todos os seus procedimentos; homens que se orgulhavam de sua
integridade, mas que procuravam justificar-se a si mesmos diante de Deus, por
meio de sua justiça própria; homens de boa moralidade, misericordiosos,
magnânimos, mas que nunca se viram como pecadores culpados, perdidos,
merecedores do inferno e necessitados de um Salvador. Este é o caminho que
“parece direito”; é o caminho que a si mesmo se recomenda à mente carnal e a
multidões de pessoas iludidas em nossos dias. O engano do diabo afirma que
podemos ser salvos por meio de nossas próprias obras e justificados por meio de
nossos atos; enquanto Deus nos declara em sua Palavra: “Pela graça sois salvos,
mediante a fé... não de obras, para que ninguém se glorie”; e: “Não por obras
de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia, ele nos salvou”.
Há alguns anos, conheci um homem que era um
pregador leigo e obreiro cristão entusiasta. Durante sete anos, ele estivera
engajado na pregação pública e em atividades religiosas. No entanto, por meio
das expressões que ele utilizava, eu mesmo duvidei se ele era “nascido de
novo”. Quando comecei a questioná-lo, descobri que ele tinha um conhecimento
muito imperfeito das Escrituras e apenas uma vaga noção sobre a obra de Cristo
em favor dos pecadores. Por algum tempo, procurei apresentar-lhe o caminho da
salvação, de uma maneira simples e impessoal, e encorajá-lo a estudar a Palavra
de Deus, na esperança de que, se meu amigo ainda não era salvo, Deus se
agradaria em revelar-lhe o Salvador que ele necessitava.
Uma noite, para nossa alegria, aquele que
estivera pregando o evangelho por vários anos, confessou que havia encontrado a
Cristo somente na noite anterior. Ele reconheceu (usando as suas próprias
palavras) que estivera apresentando “o Cristo ideal”, e não o Cristo da cruz.
Creio que existem milhares de pessoas semelhantes a este pregador, pessoas que,
talvez, foram trazidas à Escola Dominical, aprenderam sobre o nascimento, a
vida e os ensinos de Jesus Cristo; pessoas que crêem na historicidade da pessoa
de Cristo; pessoas que esporadicamente se esforçam para obedecer os preceitos
de Jesus e pensam que isso é tudo que é necessário para a sua salvação. Com
freqüência, esse tipo de pessoa, quando atinge a maturidade e sai para o mundo,
depara-se com os ataques de ateístas e infiéis, dizendo-lhes que Jesus de
Nazaré nunca viveu neste mundo. Mas as impressões dos primeiros contatos com o
evangelho não podem ser facilmente apagadas e tais pessoas permanecem firmes na
confissão de que crêem em Jesus. Apesar disso, quando a sua fé é examinada, com
muita freqüência descobre-se que, embora acreditem em muitas coisas sobre Jesus, tais pessoas realmente não crêem nEle. Em
sua mente, elas acreditam que Ele realmente viveu neste mundo (e, por crerem
nisso, imaginam que são salvas), mas nunca abaixaram as armas de sua guerra
contra Jesus, sujeitando-se a Ele, nem creram nEle verdadeiramente, com todo o
seu coração.
A simples aceitação de uma doutrina ortodoxa
sobre a pessoa de Cristo, sem o coração haver sido conquistado por Ele e sem a
vida Lhe ser consagrada, é outra fase do “caminho que ao homem parece direito,
mas ao cabo dá em caminhos de morte”; em outras palavras, é outro aspecto do
evangelho de Satanás.
E, agora, qual é a sua situação? Você está no
caminho que “parece direito”, mas termina na morte, ou no caminho estreito que
conduz à vida? Você abandonou verdadeiramente o caminho largo que conduz à
perdição? O amor de Cristo criou em seu coração um ódio e horror por tudo
aquilo que é desagradável a Deus? Você tem desejo de que Ele reine sobre você
(Lc 19.14)? Você está descansando plenamente na justiça de Cristo e no sangue
dEle para a sua aceitação diante de Deus?
Aqueles que estão confiando em formas exteriores
de piedade, como o batismo ou a “confirmação”; aqueles que são religiosos
porque isto é considerado uma característica de respeitabilidade; aqueles que
freqüentam alguma igreja, porque fazê-lo está na moda; e aqueles que se unem a
alguma denominação porque supõem que esse passo os capacitará a se tornarem
cristãos — todos esses estão no caminho que “ao cabo dá em morte” — morte
espiritual e eterna. Não importa quão puros sejam os nossos motivos; quão bem
intencionados, os nosso propósitos; quão nobres, as nossas intenções; quão
sinceros, os nossos esforços, Deus não nos reconhece como seus filhos enquanto
não recebemos o seu Filho.
Uma forma ainda mais ilusória do evangelho de
Satanás consiste em levar os pregadores a apresentarem o sacrifício expiatório
de Cristo e, em seguida, dizerem aos seus ouvintes que a única exigência de
Deus para eles é que creiam no seu Filho. Por meio disso, milhões de almas que
não se arrependem são iludidas, pensando que foram salvas. Mas o Senhor Jesus
disse: “Se.... não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” (Lc 13.3).
Arrepender-se significa odiar o pecado, sentir tristeza por causa do pecado e
converter-se dele. É o resultado da obra do Espírito Santo em tornar o coração
contrito diante de Deus. Ninguém, exceto a pessoa de coração quebrantado, pode
crer de maneira salvífica no Senhor Jesus Cristo.
Afirmamos, mais uma vez, que milhares estão
iludidos, ao supor que “aceitaram a Cristo” como seu “Salvador pessoal”, quando
na realidade ainda não O receberam como seu SENHOR. O Filho de Deus não veio ao
mundo para salvar seu povo nos pecados deles, e sim para salvá-los “dos pecados
deles” (Mt 1.21). Ser salvo dos pecados significa ser salvo do ignorar e do
rejeitar a autoridade de Deus; significa abandonar o curso de vida
caracterizado pelo egoísmo e pela satisfação pessoal; ou, em outras palavras,
abandonar nosso próprio caminho (Is 55.7). Ser salvo significa sujeitar-se à
autoridade de Deus, render-se ao domínio dEle, oferecer-nos a nós mesmos para
sermos governados por Ele. Aquele que nunca tomou sobre si o jugo de Cristo;
aquele que não está verdadeira e diligentemente procurando agradar a Cristo, em
todos os aspectos da sua vida, e continua supondo que está confiando na obra
consumada de Cristo, esse está iludido por Satanás.
Em Mateus 7, há duas passagens que nos mostram os
resultados aproximados entre o evangelho de Cristo e a falsificação de Satanás.
Primeira, nos versículos 13 e 14: “Entrai pela porta estreita (larga é a porta,
e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram
por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a
vida, e são poucos os que acertam com ela”. Segunda, nos versículos 22 e 23:
“Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos
nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu
nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos
conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”.
Sim, querido leitor, é possível trabalhar em nome
de Cristo (até pregar em seu nome) e, embora o mundo e a igreja nos conheçam,
não sermos conhecidos pelo Senhor! Quão necessário é que descubramos em que
situação realmente estamos; que examinemos a nós mesmos, a fim de sabermos se
estamos na fé; que nos julguemos pela Palavra de Deus e verifiquemos se estamos
sendo enganados pelo nosso sutil inimigo; que descubramos se estamos edificando
nossa casa sobre a areia ou se ela está construída sobre a Rocha, que é Jesus
Cristo! Que o Espírito de Deus examine nosso coração, quebrante nossa vontade,
destrua nossa inimizade contra Deus, produza em nós um profundo e verdadeiro
arrependimento e faça os nossos olhos se fixarem no Cordeiro de Deus, que tira
o pecado do mundo.