A teologia reformada afirma
que a Escritura e sua doutrina sobre a graça e fé enfatizam que a salvação é
solus Christus, “somente por Cristo”, isto é, Cristo é o único Salvador (Atos
4:12). B.B. Warfield escreveu: “O poder salvador da fé reside, portanto, não em
si mesma, mas repousa no Salvador Todo Poderoso”.
A centralidade de Cristo é o
fundamento da fé protestante. Martinho Lutero disse que Jesus Cristo é o
“centro e a circunferência da Bíblia” — isso significa que quem ele é e o que
ele fez em sua morte e ressurreição são o conteúdo fundamental da Escritura.
Ulrich Zwingli disse: “Cristo é o Cabeça de todos os crentes, os quais são o
seu corpo e, sem ele, o corpo está morto”.
Sem Cristo, nada podemos
fazer; nele, podemos fazer todas as coisas (João 15:5; Filipenses 4:13).
Somente Cristo pode trazer salvação. Paulo deixa claro em Romanos 1-2 que,
embora haja uma auto-manifestação de Deus além da sua obra salvadora em Cristo,
nenhuma porção de teologia natural pode unir Deus e o homem. A união com Cristo
é o único caminho da salvação.
Nós precisamos urgentemente
ouvir solus Christus em nossos dias de teologia pluralista. Muitas pessoas hoje
questionam a crença de que a salvação é somente pela fé em Cristo. Como Carl
Braaten diz, eles “estão voltando à velha e falida forma de abordagem cristológica
do século XIX, do liberalismo protestante, e chamando-a de “nova”, quando, na
verdade, é pouco mais que uma “Jesusologia” superficial”. O resultado final é
que, atualmente, muitas pessoas, como H.R. Niebuhr disse em sua famosa frase a
respeito do liberalismo — proclamam e adoram “um Deus sem ira, o qual
trouxe homens sem pecado para um reino sem julgamento por meio de ministrações
de um Cristo sem a cruz”.
Nossos antepassados
reformados, aproveitando uma perspectiva que rastreia todo o caminho de volta
aos escritos de Eusébio de Cesaréia, no século IV, acharam útil pensar a
respeito de Cristo como Profeta, Sacerdote e Rei. A Confissão Batista de
Londres de 1689, por exemplo, coloca isso da seguinte forma: “Cristo, e somente
Cristo, está apto a ser o mediador entre Deus e o homem. Ele é o profeta,
sacerdote e rei da igreja de Deus” (8.9). Observemos mais detalhadamente esses
três ofícios.
Cristo, o Profeta
Cristo é o Profeta que
precisamos para nos instruir nas coisas de Deus, a fim de curar a nossa
cegueira e ignorância. O Catecismo de Heidelberg o chama de “nosso principal
Profeta e Mestre, que nos revelou totalmente o conselho secreto e a vontade de
Deus a respeito da nossa redenção” (A. 31). “O Senhor, teu Deus”, Moisés
declarou em Deuteronômio 18:15, “te suscitará um profeta do meio de ti, de teus
irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás”. Ele é o Filho de Deus, e Deus exige
que nós o escutemos (Mateus 17:5).
Como o Profeta, Jesus é o
único que pode revelar o que Deus tem planejado na história “desde a fundação
do mundo”, e que pode ensinar e manifestar o real significado das “escrituras
dos profetas” (o Antigo Testamento, ver Romanos 16:25-26). Podemos esperar
progredir em nossa vida cristã apenas se dermos ouvidos à sua instrução e
ensino.
Cristo, o Sacerdote
Cristo é também o
Sacerdote—nosso extremamente necessário Sumo Sacerdote que, como diz o
Catecismo de Heidelberg: “pelo sacrifício de Seu corpo, nos redimiu, e faz
contínua intercessão junto ao Pai por nós” (A. 31). Nas palavras da Confissão
Batista de Londres de 1689 “por causa do nosso afastamento de Deus e da
imperfeição de nossos melhores serviços, precisamos de seu ofício sacerdotal
para nos reconciliar com Deus e nos tornar aceitáveis por ele” (8.10).
A salvação está somente em Jesus
Cristo, porque há duas condições que, não importa o quanto nos esforcemos,
nunca poderemos satisfazer. No entanto, elas devem ser cumpridas se estamos
para ser salvos. A primeira é satisfazer a justiça de Deus pela obediência à
lei. A segunda é pagar o preço de nossos pecados. Nós não podemos cumprir
nenhuma dessas condições, mas Cristo as cumpriu perfeitamente. Romanos 5:19
diz: “ por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. Romanos
5:10 diz: “nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte
do seu Filho”. Não há outra maneira de entrar na presença de Deus a não ser por
meio de Cristo somente.
O sacrifício de Jesus ocorreu
apenas uma vez, mas ele ainda continua sendo nosso grande Sumo Sacerdote,
aquele através do qual toda a oração e louvor são feitos aceitáveis a Deus. Nos
lugares celestiais, ele continua sendo nosso constante Intercessor e Advogado
(Romanos 8:34; 1 João 2:1). Não é de se admirar, então, que Paulo diz que a
glória deve ser dada a Deus “por meio de Jesus Cristo pelos séculos dos
séculos” (Romanos 16:27). O gozo de achegarmo-nos a Deus pode crescer apenas
por uma confiança profunda nele como nosso sacrifício e intercessor.
Cristo, o Rei
Finalmente, Cristo é o Rei,
que reina sobre todas as coisas. Ele reina sobre sua Igreja por meio de seu
Espírito Santo (Atos 2:30-33). Ele soberanamente dá o arrependimento ao
impenitente e concede perdão ao culpado (Atos 5:31). Cristo é “o nosso Rei eterno
que nos governa por sua Palavra e Espírito, e que defende e preserva-nos no
gozo da salvação que ele adquiriu para nós” (O Catecismo de Heidelberg,
P&R.31). Como o Herdeiro real da nova criação, ele nos levará a um
reino de eterna luz e amor.
Neste sentido, podemos
concordar com João Calvino quando ele diz: “Nós podemos passar pacientemente
por esta vida com sua miséria, frieza, desprezo, injúrias e outros
problemas—satisfeitos com uma coisa: que o nosso Rei nunca nos deixará
desamparados, mas suprirá as nossas necessidades, até que, ao terminar nossa
luta, sejamos chamados para o triunfo”. Podemos crescer na vida cristã apenas
se vivermos obedientemente sob o domínio de Cristo e pelo seu poder.
Se você é um filho de Deus,
Cristo em seu tríplice ofício como Profeta, Sacerdote e Rei significará tudo
para você. Você ama solus Christus? Você o ama em sua pessoa, ofícios,
naturezas e benefícios? Ele é o seu Profeta para ensinar-lhe; o seu Sacerdote
para sacrificar e interceder por você e lhe abençoar, e o seu Rei para
governá-lo e guiá-lo?
Depois
de uma execução empolgante da Nona Sinfonia de Beethoven, o famoso maestro
italiano Arturo Toscanini disse à orquestra: “Eu não sou nada. Você não é nada.
Beethoven é tudo”. Se Toscanini pode dizer isso sobre um compositor brilhante,
mas que está morto, quanto mais os cristãos devem dizer o mesmo sobre o
Salvador que vive, o qual, no que diz respeito à nossa salvação, é o
compositor, músico e até mesmo a própria bela música.
www.antunesebd.com | Editora Fiel | Original aqui
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