domingo, outubro 27, 2013

10 Marcas Distintivas da Pregação de João Calvino / por: Steven Lawson

No livro João Calvino: amor à devoção, doutrina e glória de Deus (Editora Fiel), editado por Burk Parsons, há um capítulo intitulado O Pregador da Palavra de Deus, escrito por Steven Lawson. Aqui está um resumo desse capítulo, delineando o que Steven Lawson sugere ser as dez marcas distintivas da pregação de Calvino. 

1. A pregação de Calvino era bíblica em seu conteúdo.
“O reformador se manteve firme no principal fundamento da Reforma — sola Scriptura (somente a Escritura)… Calvino acreditava que o pregador não tinha nada a dizer além das Escrituras.” (pp. 96-97)

2. A pregação de Calvino seguia um padrão sequencial.
“Durante o ministério de Calvino, o seu procedimento era pregar sistematicamente sobre livros inteiros da Bíblia… Na manhã dos domingos, Calvino pregava o Novo Testamento; à tarde, o Novo Testamento e os Salmos; e, em semanas alternadas, pregava o Antigo Testamento todas as manhãs da semana. Servindo-se desse método consecutivo, Calvino pregou quase todos os livros da Bíblia.” (pp. 97-98)

3. A pregação de Calvino era direta em sua mensagem.
“Quando expunha as Escrituras, Calvino era notoriamente direto e centrado no ensino principal. Ele não iniciava sua mensagem com uma história cativante, uma citação estimulante ou uma anedota pessoal. Em vez disso, Calvino introduzia de imediato os seus ouvintes no texto bíblico. O foco da mensagem era sempre as Escrituras, e Calvino falava o que precisava ser dito com economia de palavras. Não havia frases desperdiçadas.” (p. 98)

4. A pregação de Calvino era extemporânea em seu apresentação.
“Quando subia ao púlpito, ele não levava consigo um rascunho escrito ou esboço do sermão. O reformador fez uma escolha consciente de pregar extempore, ou seja, espontaneamente. Ele queria que seus sermões tivessem uma desenvoltura natural e cheia de paixão, enérgica e envolvente; acreditava que a pregação espontânea era mais conveniente para cumprir esses objetivos.” (p. 99)

5. A pregação de Calvino era exegética em sua abordagem.
“Calvino insistia que as palavras da Escritura têm de ser interpretadas conforme o ambiente histórico específico, as línguas originais, as estruturas gramaticais e o contexto bíblico… Calvino insistiu no sensus literalis, o sentido literal do texto bíblico.” (p. 100)

6. A pregação de Calvino era acessível em sua simplicidade.
“Como pregador, o principal objetivo de Calvino não era comunicar-se com outros teólogos, e sim alcançar as pessoas comuns, assentadas no banco… Ocasionalmente, Calvino explicaria mais cuidadosamente o significado de uma palavra, sem citar o grego ou o hebraico original. Todavia, Calvino não hesitava em usar a linguagem da Bíblia.” (p. 101-102)

7. A pregação de Calvino possuía um tom pastoral.
“O reformador de Genebra nunca perdia de vista o fato de que ele era um pastor. Assim, ele aplicava calorosamente as Escrituras, com exortação amável a fim de pastorear o seu rebanho. Ele pregava com a intenção de estimular e encorajar suas ovelhas a seguirem a Palavra.” (p. 102)

8. A pregação de Calvino era polêmica em sua defesa da verdade.
“Para Calvino, a pregação necessitava de uma defesa apologética da verdade. Ele acreditava que os pregadores tinham de resguardar a verdade; por isso, a exposição sistemática exigia a confrontação das mentiras do Diabo em todas as suas formas enganosas.” (p. 103)

9. A pregação de Calvino era cheia de paixão em seu alcance.
“Em nossos dias, há uma noção errônea de que, por acreditar na predestinação, Calvino não era evangelístico. O mito persistente é que ele não tinha paixão por alcançar almas perdidas para trazê-las a Cristo. Nada pode estar mais distante da verdade. Calvino possuía uma grande paixão por alcançar as almas perdidas. Por essa razão, ele pregava o evangelho com uma persuasão que afetava o coração e com amor, apelava aos pecadores desgarrados a se renderem à misericórdia de Deus.” (p. 104)

10. A pregação de Calvino era doxológica em sua conclusão.
“Todos os sermões de Calvino eram completamente teocêntricos, mas seus apelos conclusivos eram sinceros e amorosos. Ele não podia descer do púlpito sem exaltar o Senhor e instar seus ouvintes a se rederem à absolutamente supremacia dEle. Os ouvintes tinham de se humilhar sob a poderosa mão de Deus. Quando concluía, Calvino exortava regularmente sua congregação: ‘Prostremo-nos todos ante a majestade do nosso grande Deus’. Não importando o texto bíblico sobre o qual ele pregava, essas palavras demandavam uma submissão incondicional de seus ouvintes.” (p. 105)

Tradução: Felipe Sabino (agosto/2013)

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Solus Christus / por: Joel Beeke

A teologia reformada afirma que a Escritura e sua doutrina sobre a graça e fé enfatizam que a salvação é solus Christus, “somente por Cristo”, isto é, Cristo é o único Salvador (Atos 4:12). B.B. Warfield escreveu: “O poder salvador da fé reside, portanto, não em si mesma, mas repousa no Salvador Todo Poderoso”.

A centralidade de Cristo é o fundamento da fé protestante. Martinho Lutero disse que Jesus Cristo é o “centro e a circunferência da Bíblia” — isso significa que quem ele é e o que ele fez em sua morte e ressurreição são o conteúdo fundamental da Escritura. Ulrich Zwingli disse: “Cristo é o Cabeça de todos os crentes, os quais são o seu corpo e, sem ele, o corpo está morto”.

Sem Cristo, nada podemos fazer; nele, podemos fazer todas as coisas (João 15:5; Filipenses 4:13). Somente Cristo pode trazer salvação. Paulo deixa claro em Romanos 1-2 que, embora haja uma auto-manifestação de Deus além da sua obra salvadora em Cristo, nenhuma porção de teologia natural pode unir Deus e o homem. A união com Cristo é o único caminho da salvação.

Nós precisamos urgentemente ouvir solus Christus em nossos dias de teologia pluralista. Muitas pessoas hoje questionam a crença de que a salvação é somente pela fé em Cristo. Como Carl Braaten diz, eles “estão voltando à velha e falida forma de abordagem cristológica do século XIX, do liberalismo protestante, e chamando-a de “nova”, quando, na verdade, é pouco mais que uma “Jesusologia” superficial”. O resultado final é que, atualmente, muitas pessoas, como H.R. Niebuhr disse em sua famosa frase a respeito do liberalismo — proclamam e adoram “um  Deus sem ira, o qual trouxe homens sem pecado para um reino sem julgamento por meio de ministrações de um Cristo sem a cruz”.

Nossos antepassados reformados, aproveitando uma perspectiva que rastreia todo o caminho de volta aos escritos de Eusébio de Cesaréia, no século IV, acharam útil pensar a respeito de Cristo como Profeta, Sacerdote e Rei. A Confissão Batista de Londres de 1689, por exemplo, coloca isso da seguinte forma: “Cristo, e somente Cristo, está apto a ser o mediador entre Deus e o homem. Ele é o profeta, sacerdote e rei da igreja de Deus” (8.9). Observemos mais detalhadamente esses três ofícios.

Cristo, o Profeta
Cristo é o Profeta que precisamos para nos instruir nas coisas de Deus, a fim de curar a nossa cegueira e ignorância. O Catecismo de Heidelberg o chama de “nosso principal Profeta e Mestre, que nos revelou totalmente o conselho secreto e a vontade de Deus a respeito da nossa redenção” (A. 31). “O Senhor, teu Deus”, Moisés declarou em Deuteronômio 18:15, “te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás”. Ele é o Filho de Deus, e Deus exige que nós o escutemos (Mateus 17:5).

Como o Profeta, Jesus é o único que pode revelar o que Deus tem planejado na história “desde a fundação do mundo”, e que pode ensinar e manifestar o real significado das “escrituras dos profetas” (o Antigo Testamento, ver Romanos 16:25-26). Podemos esperar progredir em nossa vida cristã apenas se dermos ouvidos à sua instrução e ensino.

Cristo, o Sacerdote
Cristo é também o Sacerdote—nosso extremamente necessário Sumo Sacerdote que, como diz o Catecismo de Heidelberg: “pelo sacrifício de Seu corpo, nos redimiu, e faz contínua intercessão junto ao Pai por nós” (A. 31). Nas palavras da Confissão Batista de Londres de 1689 “por causa do nosso afastamento de Deus e da imperfeição de nossos melhores serviços, precisamos de seu ofício sacerdotal para nos reconciliar com Deus e nos tornar aceitáveis por ele” (8.10).

A salvação está somente em Jesus Cristo, porque há duas condições que, não importa o quanto nos esforcemos, nunca poderemos satisfazer. No entanto, elas devem ser cumpridas se estamos para ser salvos. A primeira é satisfazer a justiça de Deus pela obediência à lei. A segunda é pagar o preço de nossos pecados. Nós não podemos cumprir nenhuma dessas condições, mas Cristo as cumpriu perfeitamente. Romanos 5:19 diz: “ por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. Romanos 5:10 diz: “nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho”. Não há outra maneira de entrar na presença de Deus a não ser por meio de Cristo somente.

O sacrifício de Jesus ocorreu apenas uma vez, mas ele ainda continua sendo nosso grande Sumo Sacerdote, aquele através do qual toda a oração e louvor são feitos aceitáveis a Deus. Nos lugares celestiais, ele continua sendo nosso constante Intercessor e Advogado (Romanos 8:34; 1 João 2:1). Não é de se admirar, então, que Paulo diz que a glória deve ser dada a Deus “por meio de Jesus Cristo pelos séculos dos séculos” (Romanos 16:27). O gozo de achegarmo-nos a Deus pode crescer apenas por uma confiança profunda nele como nosso sacrifício e intercessor.

Cristo, o Rei
Finalmente, Cristo é o Rei, que reina sobre todas as coisas. Ele reina sobre sua Igreja por meio de seu Espírito Santo (Atos 2:30-33). Ele soberanamente dá o arrependimento ao impenitente e concede perdão ao culpado (Atos 5:31). Cristo é “o nosso Rei eterno que nos governa por sua Palavra e Espírito, e que defende e preserva-nos no gozo da salvação que ele adquiriu para nós” (O Catecismo de Heidelberg, P&R.31). Como o Herdeiro real da nova criação, ele nos levará a um reino de eterna luz e amor.

Neste sentido, podemos concordar com João Calvino quando ele diz: “Nós podemos passar pacientemente por esta vida com sua miséria, frieza, desprezo, injúrias e outros problemas—satisfeitos com uma coisa: que o nosso Rei nunca nos deixará desamparados, mas suprirá as nossas necessidades, até que, ao terminar nossa luta, sejamos chamados para o triunfo”. Podemos crescer na vida cristã apenas se vivermos obedientemente sob o domínio de Cristo e pelo seu poder.

Se você é um filho de Deus, Cristo em seu tríplice ofício como Profeta, Sacerdote e Rei significará tudo para você. Você ama solus Christus? Você o ama em sua pessoa, ofícios, naturezas e benefícios? Ele é o seu Profeta para ensinar-lhe; o seu Sacerdote para sacrificar e interceder por você e lhe abençoar, e o seu Rei para governá-lo e guiá-lo?

Depois de uma execução empolgante da Nona Sinfonia de Beethoven, o famoso maestro italiano Arturo Toscanini disse à orquestra: “Eu não sou nada. Você não é nada. Beethoven é tudo”. Se Toscanini pode dizer isso sobre um compositor brilhante, mas que está morto, quanto mais os cristãos devem dizer o mesmo sobre o Salvador que vive, o qual, no que diz respeito à nossa salvação, é o compositor, músico e até mesmo a própria bela música.
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