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quarta-feira, novembro 30, 2011
terça-feira, novembro 29, 2011
quinta-feira, novembro 24, 2011
Entrevista exclusiva com John Piper
O autor e teólogo vislumbra a falência
do teísmo aberto e destaca a importância da pregação sobre o sacrifício de
Cristo.
Presenciei debates entre integrantes da chamada Igreja emergente, em que proponentes da versão brasileira do teísmo aberto – a chamada teologia relacional – foram bem ofensivos ao senhor. Cheguei a ouvir um pastor bastante influente entre jovens chamar o senhor publicamente de “fundamentalista enrustido de neo-calvinista”. Como o senhor lida com esse tipo de reação?
Adepto de uma teologia ortodoxa, defensor de posições que levammuitos a acusá-lo de fundamentalista e dono de
um discursobastante incisivo, John Stephen
Piper é uma figura que se destacanuma época da história do cristianismo em que se tornoucharmoso seguir o discurso heterodoxo da Igreja emergente,ostentar a crença no liberalismo teológico, manter um discursobaseado num amor divino água-com-açúcar ou mergulhar decabeça na teologia da prosperidade. Esse posicionamento levou o
pastor da Igreja Batista Bethlehem, em Minneapolis (EUA), a
setornar uma referência para os mais conservadores –
e,simultaneamente, uma figura rejeitada pelos mais liberais, que oacusam de “não pregar o Evangelho do
amor”.
Piper tem uma história de vida cheia de marcos dolorosos. Filho de
um evangelista ausente, que viajava por todo o país plantandoigrejas. Perdeu a mãe numa batida de ônibus.
E, aos 60 anos,
nodia de seu aniversário, recebeu a notícia de que estava com câncerde próstata –
do qual se recuperou após uma cirurgia. Com
65 anosde idade, é casado com Noël Piper desde 1968,
com quem temquatro filhos, uma filha e
um grupo grande de netos. Formado emTeologia pelo Wheaton
College em 1968, tornou-se mestre em divindade pelo Fuller
Theological Seminary três anos depois. O doutorado veio em
1974, em Estudos do
Novo Testamento, naUniversidade de Munique, na Alemanha. Seu ministério pastoralcomeçou em
1980, após o que Piper
define como “um chamadoirresistível de
Deus para pregar”. Por fim, ganhou notoriedadenacional e internacional após a publicação de seu livro Desiring
God, originalmente chamado no Brasil de Teologia da alegria eposteriormente rebatizado de Em busca de
Deus (Shedd Publicações).
Em 1994,
Piper criou o ministério Desiring God, que, nas suaspalavras, foi idealizado para “disseminar a paixão pela supremaciade Deus
em todas as coisas para a alegria de todos os povos em
Jesus Cristo”. A quem segue essa filosofia,
Piper cunhou o termo“hedonista cristão”. Amado ou criticado,
o conferencista, poeta eescritor de
37 livros tem sido uma voz que vem ecoando nos quatrocantos
do chamado universo evangélico.
John
Piper concedeu esta entrevista exclusiva a CRISTIANISMOHOJE, onde fala sobre assuntos que têm movimentado os debatesteológicos e pastorais dos nossos dias. Temas com teísmo aberto,heterodoxia da fé e os efeitos da modernidade sobre o cristianismo,
entre outros. E preferiu não responder
a outras questões, como suareação polêmica ao suposto universalismo do
pastor emergente Rob
Bell, considerada por muitos como falta de
amor cristão.
CRISTIANISMO HOJE – Depois da tragédia no Japão,
em março,
o senhor declarou que toda calamidade é um chamado de
Deus para que os que permaneceram vivos venham a
se arrepender. Essa declaração entra em choque direto com
o chamado teísmo aberto, que estabelece umasuposta incapacidade de
Deus
de interferir nessassituações. Qual é exatamente a sua visão sobre essacorrente teológica?
JOHN PIPER – A menos que eu esteja desinformado,
o teísmoaberto não teve muita repercussão nos Estados Unidos. Não vejoessa teologia ganhando terreno.
As pessoas mais informadasbiblicamente enxergam a negação da presciência de
Deus como umconceito espiritualmente e intelectualmente repugnante. Elassabem intuitivamente que Deus não é Senhor se não pode sabertudo o que virá a acontecer no futuro.
O caso exegético que Greg Boyd, Clark Pinnock [principais expoentes dessa corrente teológicanos EUA]
e outros tentaram estabelecer não convenceu os leitoresmais cuidadosos da Bíblia.
E quanto às implicações
pastorais do teísmo aberto?
Essas implicações não são percebidas
pela maioria dos cristãos como algo reconfortante – a saber, o fato de que o
mal que você vivencia pode ter surpreendido Deus da mesma forma que surpreendeu
você. A maior parte dos crentes em Jesus entende que existe uma esperança
bíblica muito maior de conseguirmos alcançar paz ao vivenciarmos o problema do
mal por meio da sábia soberania de Deus – a posição reformada – ou da concessão
do Senhor à autodeterminação humana (posição arminiana). Nenhuma dessas duas
visões nega a presciência de Deus do jeito que o teísmo aberto faz.
Presenciei debates entre integrantes da chamada Igreja emergente, em que proponentes da versão brasileira do teísmo aberto – a chamada teologia relacional – foram bem ofensivos ao senhor. Cheguei a ouvir um pastor bastante influente entre jovens chamar o senhor publicamente de “fundamentalista enrustido de neo-calvinista”. Como o senhor lida com esse tipo de reação?
Lido com esse tipo de crítica
principalmente ao preparar e disponibilizar sermões, livros e artigos sólidos
que são basedos mais explicitamente na Bíblia que sou capaz de fazer.
Rótulos desse tipo vão pegar ou não, em longo prazo, em função do que nós
dizemos e fazemos e nunca pelo modo como respondemos aos nossos críticos. A
pergunta é: ao longo de 30 anos de vida pastoral, de testemunho público e de
uma produção literária sólida, a maioria dos cristãos espiritualmente saudáveis
é auxiliada ou é ferida pelo que eu faço e digo? Conhecemos a árvore pelos
frutos. Eu quero ser bíblico; então, ser “enrustido”, “fundamentalista” ou
“calvinista” é bastante secundário. Desejo que, no todo, meu ministério seja definido
pelas Escrituras. O Corpo de Cristo fará esse julgamento no curto prazo – e
Jesus fará no fim.
O senhor já se manifestou criticamente
em relação ao fato de o homem fazer planos – deixando claro que, em sua
opinião, Deus não deseja que confiemos em nossos próprios meios. Como fechar
a conta de maneira equilibrada, uma vez que a própria Escritura
recomenda o planejamento das atividades humanas?
Respondo isso com a Bíblia. “Prepara-se
o cavalo para o dia da batalha, mas o Senhor é que dá a vitória” (Provérbios
21.31). “Em seu coração o homem planeja o seu caminho, mas o Senhor determina
os seus passos” (Provérbios 16.9). Deus nos deu vontade e raciocínio. Ele
deseja que nós os usemos para discernir sua vontade e realizá-la, conforme
Romanos 12.2. E Deus é absolutamente soberano sobre os mais ínfimos aspectos de
nossas vidas. “A sorte é lançada no colo, mas a decisão vem do Senhor”, diz o
autor de Provérbios. Assim, Deus deseja que nós decidamos na dependência de sua
graça capacitadora, que planejemos na dependência de sua maravilhosa graça e
que ajamos na dependência de sua maravilhosa graça.
Qual seria a razão para isso?
A razão para isso é tamanha que, quando
decidimos, planejamos e agimos, Deus recebe a glória por todas as coisas boas
que advirão: “Se alguém serve, faça-o com a força que Deus provê, de forma que
em todas as coisas Deus seja glorificado mediante Jesus Cristo, a quem sejam a
glória e o poder para todo o sempre (I Pedro 4.11).
E de que modo saber que Deus é soberano
em todas as nossas ações deve influenciar nossas ações cotidianas?
Essa certeza deveria tornar-nos
humildes, ousados e prontos para arriscar tudo pela glória do Senhor.
Recentemente o senhor tirou um período
sabático de oito meses. Qual foi o seu propósito ao se retirar da igreja por um
períodotão extenso?
Uma situação de estresse e a avaliação
de questões espirituais em três áreas de minha vida me conduziram ao ponto de
solicitar esse período de afastamento. Eu queria fazer uma análise em aspectos
relacionados à minha alma, à minha família e ao meu ministério. E, quando me
refiro a essa análise, estou me referindo a um esforço dedicado a discernir as
motivações do meu coração, os padrões adotados em minha vida familiar e o ritmo
de meu ministério. Às vezes, a melhor maneira de discernir a natureza de suas
motivações é parar de fazer o que você está motivado a fazer. E, às vezes, os
motivos de estresse podem ser de tal natureza que a melhor maneira de ver se
eles são recompensadores – e podem ser – é removê-los. Fico feliz por ter me
afastado esses meses.
E quais foram os resultados
que esse período sabático lhe proporcionou?
Vou mencionar apenas um resultado: ao
participar dos momentos de louvor em uma igreja irmã, confirmei para minha
própria alma que amo Jesus em adoração e não apenas me realizo ao ajudar outras
pessoas a amá-lo. Além disso, amei ouvir pregações bíblicas, mesmo quando não
era eu o pregador. E também amei cantar junto com o povo de Deus, mesmo quando
aquelas pessoas não faziam parte do rebanho que eu discípulo na
igreja que pastoreio.
Muitos pastores hoje em dia dividem o
púlpito das igrejas que lideram com uma série de outras atividades
eclesiásticas, além de atuar como escritores e palestrantes – o que é o seu
caso. Essa diversidade não prejudica o chamado intrínseco ao pastorado?
Um ministério mais amplo fora da igreja
local pode impedir o pastoreio do rebanho. Afinal, se estou palestrando em uma
conferência ou me dedicando a escrever um livro, não estou junto às minhas
ovelhas nesses momentos. Logo, minha presença pessoal no pastoreio pessoal é
menos frequente. É então que surge a pergunta: será que um pastoreio que
segue esse modelo deve ser impedido? Não, desde que você tenha parceiros no
ministério – vocacionados ou não-vocacionados – que o auxiliam na
condução desse trabalho.
Há possibilidade de a Igreja
contemporânea resgatar a ortodoxia bíblica? Em sua opinião, quando o pêndulo
vai se inclinar na direção da fé impoluta?
Todas as coisas são possíveis para
Deus. Nenhum cronograma escatológico bíblico exige que as coisas se tornem
piores no período da História do mundo em que estamos vivendo. Historicamente,
Deus provocou reviravoltas espirituais, teológicas e sociais em alguns dos
piores momentos da caminhada da humanidade. Não tenho nenhuma percepção clara
nem discernimento da parte do Senhor para os nossos dias, tanto no que
tange a um possível despertamento, a uma depuração ou a uma reforma de sua
Igreja. Minha tarefa não é saber o que ele vai fazer, mas
trabalhar e orar para o que ele pode fazer por meio da
fidelidade de seus servos.
No Brasil, a teologia da prosperidade
impregnou os setores da Igreja que estão com mais visibilidade na mídia,
importada de ensinamentos de Kenneth Hagin e outros. Isso gerou uma enorme
reação negativa da sociedade à Igreja e desvirtuou profundamente a mensagem do
Evangelho. De que modo os setores mais ortodoxos da Igreja devem reagir a isso?
Parece-me que uma das testemunhas mais
claras contra o “evangelho” herético da prosperidade é uma Igreja humilde,
pronta a se sacrificar e a sofrer pela causa do verdadeiro Evangelho. E, com
essa finalidade, nós precisamos de uma teologia bíblica robusta que fale de
sofrimento e da soberania de Deus. Então, creio que os pastores deveriam
abordar em suas pregações o tema do sofrimento.
De que modo?
Através de uma abordagem saudável da
verdade de que Deus é mais glorificado em nós quando nos contentamos nele. E a
grandeza de seu valor brilha mais reluzentemente quando esse contentamento é
sustentado por meio do sofrimento e não da prosperidade. Isso redunda em que a
glória de Cristo é nosso maior tesouro – e não riqueza, saúde, família ou mesmo
a nossa própria vida. Logo, a pregação deve continuamente mostrar não que Jesus
é o caminho para a prosperidade, mas que ele é melhor que prosperidade.
Outro movimento teológico que cresce no
Brasil é o dos chamados "cristãos cansados da igreja": pessoas que
foram feridas por pastores, membros, hierarquias, liturgias e instituições e
que, por isso, defendem o exercício da fé cristã fora das estruturas eclesiásticas
tradicionais. Como devemos responder a esse fenômeno, como indivíduos e como
comunidade de fé?
É impossível seguir o Senhor Jesus sem
amar o seu povo. O apóstolo João disse que sabemos que já passamos da morte
para a vida porque amamos nossos irmãos – e que quem não ama, permanece na
morte (I João 3.14). O olho não pode dizer para a mão que não precisa dela.
Assim, mesmo que uma pessoa abandone uma igreja institucional, o espírito de
adoção vai conduzi-la a outros crentes em Jesus. E, mais cedo ou mais tarde,
essa comunhão vai desenvolver algo como “estruturas eclesiásticas”
institucionais. A Bíblia regulamenta a igreja por meio de presbíteros e
diáconos, conforme I Timóteo 3. Algo parecido com isso vai surgir, a menos que
a referida comunhão se retire da Palavra de Deus e do amor.
E qual é a atitude cristã correta em
relação a esses que se afastaram?
Deveríamos nos arrepender em amor dos
pecados que eventualmente tenham afastado essas pessoas e estabelecer reformas
que removam todos os tropeços antibíblicos. E, então, deveríamos, com toda
humildade, tentar trazê-los de volta.
O tráfego de informações e influências
por meio da internet tem feito as paredes denominacionais, doutrinárias e
teológicas caírem de modo inédito na história do cristianismo. Isso ocorre pela
ação de blogs, redes sociais, sites de transmissão de vídeos e similares,
essencialmente. O senhor consegue enxergar, em médio e longo prazo, que efeitos
esse fenômeno trará para a Igreja, em especial no processo de formação de
conceitos na mente de cada cristão?
Não, não consigo. É muito cedo para
dizer que efeitos advirão disso tudo. É fácil se tornar um profeta do
apocalipse e predizer os efeitos que a informação e o entretenimento
desenfreados terão sobre nós. Certo é que atualmente andamos mais distraídos.
Dedicamo-nos muito mais a buscar frivolidades na internet. Também estamos mais facilmente
em contato com material que pode nos corromper, como pornografia ou
imbecilidades que anestesiam a nossa alma. Porém, nada disso é irreversível. E
as possibilidades de colocar à disposição materiais positivos para uma
quantidade cada vez maior de pessoas devem superar os problemas. É por isso que
devemos orar – e é nesse sentido que devemos trabalha.
segunda-feira, novembro 21, 2011
Arthur W. Pink: A Cruz e o Ego
“Então, disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir
após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz, e siga-me” — (Mateus 16:24).
Antes de desenvolver o tema deste verso, comentemos os seus
termos. “Se alguém”: o dever imposto é para todos os que desejam se unir aos
seguidores de Cristo e alistar sob a Sua bandeira. “Se alguém quer”: o grego é
muito enfático, significando não somente o consentimento da vontade, mas o
pleno propósito de coração, uma resolução determinada. “Vir após mim”: como um
servo sujeito ao seu Mestre, um estudante ao seu Professor, um soldado ao seu
Capitão. “Negue”: o grego significa “negar totalmente”. Negar a si mesmo: sua
natureza pecaminosa e corrompida. “E tome”: não passivamente sofra ou suporte,
mas assuma voluntariamente, adote ativamente. “Sua cruz”: que é desprezada pelo
mundo, odiada pela carne, mas que é a marca distintiva de um cristão
verdadeiro. “E siga-me”: viva como Cristo viveu — para a glória de Deus.
O contexto imediato é mais solene e impressionante. O Senhor
Jesus tinha acabado de anunciar aos Seus apóstolos, pela primeira vez, a
aproximação de Sua morte de humilhação (v. 21). Pedro se assustou, e disse,
“Tem compaixão de Ti, Senhor” (v. 22). Isto expressou a política da mente carnal.
O caminho do mundo é a procura para si mesmo e a defesa de si mesmo. “Tenha
compaixão de ti” é a soma de sua filosofia. Mas a doutrina de Cristo não é
“salva a ti mesmo”, mas sacrifica a ti mesmo. Cristo discerniu no conselho de
Pedro uma tentação de Satanás (v. 23), e imediatamente a rejeitou. Então,
voltando-se para Pedro, disse: Não somente “deve” o Cristo subir à Jerusalém e
morrer, mas todo aquele que desejar ser um seguidor dEle, deve tomar sua cruz
(v. 24). O “deve” é tão imperativo num caso como no outro. Mediatoriamente, a
cruz de Cristo permanece sozinha; mas experiencialmente, ela é compartilhada
por todos que entram na vida.
O que é um “cristão”? Alguém que sustenta membresia em
alguma igreja terrena? Não. Alguém que crê num credo ortodoxo? Não. Alguém que
adota um certo modo de conduta? Não. O que, então, é um cristão? Ele é alguém
que renunciou a si mesmo e recebeu a Cristo Jesus como Senhor (Colossenses
2:6). Ele é alguém que toma o jugo de Cristo sobre si e aprende dEle que é
“manso e humilde de coração”. Ele é alguém que foi “chamado à comunhão de seu
Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Coríntios 1:9): comunhão em Sua obediência
e sofrimento agora, em Sua recompensa e glória no futuro sem fim. Não há tal
coisa como pertencer a Cristo e viver para agradar a si
mesmo. Não cometa engano neste ponto, “E qualquer que não tomar a sua cruz e
não vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27), disse Cristo. E
novamente Ele declarou, “Mas aquele (ao invés de negar a si mesmo) que me negar
diante dos homens (não “para” os homens: é conduta, o caminhar, que está aqui
em vista), também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mateus
10:33).
A vida cristã começa com um ato de auto-renúncia, e é
continuada pela auto-mortificação (Romanos 8:13). A primeira pergunta de Saulo
de Tarso, quando Cristo o apreendeu, foi, “Senhor, que queres que eu faça?”. A
vida cristã é comparada com uma “corrida”, e o corredor é chamado para “deixar
todo embaraço e o pecado que tão de perto nos assedia” (Hebreus 12:1), cujo
“pecado” é o amor por si mesmo, o desejo e a determinação de ter o nosso
“próprio caminho” (Isaías 53:6). O grande alvo, fim e tarefa posta diante do
Cristão é seguir a Cristo — seguir o exemplo que Ele nos deixou (1 Pedro 2:21),
e Ele “não agradou a si mesmo” (Romanos 15:3). E há dificuldades no caminho,
obstáculos na estrada, dos quais o principal é o ego. Portanto, este deve ser
“negado”. Este é o primeiro passo para se “seguir” a Cristo.
O que significa para um homem “negar a si mesmo” totalmente?
Primeiro, isto significa a completa repudiação de sua própria bondade.
Significa cessar de descansar sobre quaisquer obras nossas, para nos recomendar
a Deus. Significa uma aceitação sem reservas do veredicto de Deus que “todas as
nossas justiças [nossas melhores performances], são como trapo da imundícia”
(Isaías 64:6). Foi neste ponto que Israel falhou: “Porquanto, não conhecendo a
justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se
sujeitaram à justiça de Deus” (Romanos 10:3). Agora, contraste com a declaração
de Paulo: “E seja achado nEle, não tendo justiça própria” (Filipenses 3:9).
Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá
renunciar completamente sua própria sabedoria. Ninguém pode entrar no reino dos
céus, a menos que tenha se tornado “como criança” (Mateus 18:3). “Ai dos que
são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito!” (Isaías
5:21). “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Romanos 1:22). Quando o
Espírito Santo aplica o Evangelho em poder numa alma, é para “destruir os
conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e
levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10:5). Um
moto sábio para o todo cristão adotar é “não te estribes no teu próprio
entendimento” (Provérbios 3:5).
Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá
renunciar completamente sua própria força. É “não confiar na carne” (Filipenses
3:3). É o coração se curvando à declaração positiva de Cristo: “Sem mim, nada
podeis fazer” (João 15:5). Este é o ponto no qual Pedro falhou: (Mateus 26:33).
“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda”
(Provérbios 16:18). Quão necessário é, então, que prestemos atenção à 1
Coríntios 10:12: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia”! O
segredo da força espiritual reside em reconhecer nossa fraqueza pessoal: (veja
Isaías 40:29; 2 Crônicas 12:9). Então, “fortifiquemo-nos na graça que há em
Cristo Jesus” (2 Timóteo 2:1).
Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá
renunciar completamente sua própria vontade. A linguagem do não-salvo é, “Não
queremos que este Homem reine sobre nós” (Lucas 19:14). A atitude do cristão é,
“Para mim, o viver é Cristo” (Filipenses 1:21) — honrá-Lo, agradá-Lo, servi-Lo.
Renunciar sua própria vontade significa atender à exortação de Filipenses 2:5,
“Que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”, o qual é
definido nos versos que imediatamente seguem como de abnegação. É o
reconhecimento prático de que “não sois de vós mesmos, porque fostes comprados
por bom preço” (1 Coríntios 6:19,20). É dizer com Cristo, “Não seja, porém, o
que eu quero, mas o que tu queres” (Marcos 14:36).
Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá
renunciar completamente suas luxúrias ou desejos carnais. “O ego do homem é um
feixe de ídolos” (Thomas Manton, Puritano), e estes ídolos devem ser
repudiados. Os não-cristãos são “amantes de si mesmos” (2 Timóteo 3:1); mas
aquele que foi regenerado pelo Espírito diz com Jó, “Eis que sou vil” (40:4),
“Eu me abomino” (42:6). Dos não-cristãos está escrito, “todos buscam o que é
seu e não o que é de Cristo Jesus” (Filipenses 2:21); mas dos santos de Deus
está registrado,“eles não amaram a sua vida até à morte” (Apocalipse 12:11). A
graça de Deus está “ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às
concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e
piamente” (Tito 2:12).
Esta negação do ego que Cristo requer de todos os Seus
seguidores deve ser universal. Não há nenhuma reserva, nenhuma exceção feita:
“Nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Romanos
13:14). Deve ser constante, não ocasional: “Se alguém quer vir após mim, a si
mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23). Deve ser
espontânea, não forçada, realizada com satisfação, não relutantemente: “Tudo
quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para
homens” (Colossenses 3:23). Ó, quão impiamente o padrão que Deus colocou diante
de nós tem sido rebaixado! Como isso condena a vida acomodada, agradável à
carne e mundana de tantos que professam (mas, de maneira vã) que eles são
“cristãos”!
“E tome a sua cruz”. Isto se refere não à cruz como um
objeto de fé, mas como uma experiência na alma. Os benefícios legais do
Calvário são recebidos através do crer, quando a culpa do pecado é cancelada,
mas as virtudes experimentais da Cruz de Cristo são somente desfrutadas à
medida que somos, de um modo prático, “conformados com a Sua morte”
(Filipeneses 3:10). É somente à medida que realmente aplicamos a cruz às nossas
vidas diárias, regulamos nossa conduta pelos seus princípios, que ela se torna
eficaz sobre o poder do pecado que habita em nós. Não pode haver ressurreição
onde não há morte, e não pode haver andar prático “em novidade de vida” até que
“carreguemos no corpo o morrer do Senhor Jesus” (2 Coríntios 4:10). A “cruz” é
o sinal, a evidência, do discipulado cristão. É sua “cruz”, e não o seu credo,
que distingue um verdadeiro seguidor de Cristo do mundano religioso.
Agora, no Novo Testamento a “cruz” tem o significado de
realidades definidas. Primeiro, ela expressa o ódio do mundo. O Filho de Deus
veio aqui não para julgar, mas par salvar; não para punir, mas para redimir.
Ele veio aqui “cheio de graça e verdade”. Ele sempre esteve à disposição dos
outros: ministrando aos necessitados, alimentando os famintos, curando os
enfermos, libertando os possessos pelo demônio, ressuscitando os mortos. Ele
era cheio de compaixão: gentil como um cordeiro; inteiramente sem pecado. Ele
trouxe com Ele felizes notícias de grande alegria. Ele procurou os perdidos,
pregou aos pobres, todavia, não desdenhou dos ricos; Ele perdoou pecadores. E,
como Ele foi recebido? Que tipo de recepção
os homens Lhe deram? Eles O “desprezaram e rejeitaram”
(Isaías 53:3). Ele declarou, “Eles Me odeiam sem uma causa” (João 15:25). Eles
tiveram sede de Seu sangue. Nenhuma morte ordinária os apaziguaria. Eles
demandaram que Ele deveria ser crucificado. A Cruz, então, foi a manifestação
do ódio inveterado do mundo pelo Cristo de Deus.
O mundo não mudou, não mais do que o etíope pode mudar sua
pele ou o leopardo suas manchas. O mundo e Cristo ainda estão em aberto
antagonismo. Por conseguinte, está escrito: “Aquele, pois, que quiser ser amigo
do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4:4). É impossível andar com
Cristo e comungar com Ele, até que tenhamos nos separado do mundo. Andar com
Cristo necessariamente envolve compartilhar Sua humilhação: “Saiamos, pois, a
Ele, fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hebreus 13:13). Isto foi o que
Moisés fez (veja Hebreus 11:24-26). Quanto mais próximo eu andar de Cristo,
mais eu serei mal-entendido (1 João 3:2), ridicularizado (Jó 12:4) e detestado
pelo mundo (João 15:19). Não cometa engano aqui: é extremamente impossível
continuar com o mundo e ter comunhão com o Santo Cristo. Portanto, “tomar”
minha “cruz” significa, que eu deliberadamente convido a inimizade do mundo
através da minha recusa em ser “conformado” a ele (Romanos 12:2). Mas, o que importa
o olhar carrancudo do mundo, se estou desfrutando os sorrisos do Salvador?
Tomar minha “cruz” significa uma vida voluntariamente
rendida a Deus. Como o ato dos homens ímpios, a morte de Cristo foi um
assassinato; mas como o ato do próprio Cristo, foi um sacrifício voluntário,
oferecendo a Si mesmo a Deus. Foi também um ato de obediência a Deus. Em João
10:18 Ele disse, “Ninguém a [Sua vida] tira de mim; pelo contrário, eu
espontaneamente a dou”. E por que Ele o fez? Suas próximas palavras nos dizem: “Este
mandato recebi de meu Pai”. A cruz foi a suprema demonstração da obediência de
Cristo. Nesta Ele foi o nosso Exemplo. Uma vez mais citamos Filipenses 2:5:
“Que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. E nos
versos seguintes nós vemos o Amado do Pai tomando a forma de um Servo, e
tornando-Se “obediente até a morte, e morte de cruz”. Agora, a obediência de
Cristo deve ser a obediência do cristão — voluntária, alegre, sem reservas,
contínua. Se esta obediência envolve vergonha e sofrimento, acusação e perda,
não devemos nos acovardar, mas por o nosso rosto “como um seixo” (Isaías 50:7).
A cruz é mais do que o objeto da fé do cristão, ela é o sinal de discipulado, o
princípio pelo qual sua vida deve ser regulada. A “cruz” significa rendição e
dedicação a Deus: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que
apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é
o vosso culto racional” (Romanos 12:1).
A “cruz” significa serviço vicário e sofrimento. Cristo deu
a Sua vida pelos outros, e Seus seguidores são chamados a estarem dispostos
para fazerem o mesmo: “Devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1 João 3:16). Esta
é a lógica inevitável do Calvário. Somos chamados para seguir o exemplo de
Cristo, para a companhia de Seus sofrimentos, e para ser participantes em Seu
serviço. Assim como Cristo “a si mesmo se esvaziou” (Filipenses 2:7), assim
devemos fazer. Assim como Ele “veio para servir, e não para ser servido”
(Mateus 20:28), assim devemos ser. Assim como Ele “não agradou a si mesmo”
(Romanos 15:3), assim devemos fazer. Assim como Ele lembrou dos outros, assim
devemos lembrar: “Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles; dos
que sofrem maus tratos, como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fôsseis os
maltratados” (Hebreus 13:3).
“Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem
perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mateus 16:25). Palavras quase
idênticas a estas são encontradas novamente em Mateus 10:39. Marcos 8:35, Lucas
9:24; 17:33, João 12:25. Certamente, tal repetição mostra a profunda
importância de notar e prestar atenção a este dito de Cristo. Ele morreu para
que nós pudéssemos viver (João 12:24), e assim devemos fazer (João 12:25). Como
Paulo, devemos ser capazes de dizer “Em nada tenho a minha vida por preciosa”
(Atos 20:24). A “vida” que é vivida para a gratificação do ego neste mundo,
está “perdida” para eternidade; a vida que é sacrificada para os interesses
próprios e rendida a Cristo, será “achada” novamente, e preservada durante toda
a eternidade.
Um jovem universitário graduado, com prospectos brilhantes,
respondeu ao chamado de Cristo para uma vida de serviço a Ele na Índia, entre a
casta mais baixa dos nativos. Seus amigos exclamaram: “Que tragédia! Uma vida
lançada fora!” Sim, “perdida”, até onde diz respeito a este mundo, mas “achada”
novamente no mundo porvir !
quinta-feira, novembro 17, 2011
Arthur W. Pink - O Poder de Deus
Não
poderemos ter correto conceito de Deus, se não pensarmos nEle como onipotente,
igualmente como onisciente. Quem não pode fazer o que quer e não pode realizar
o que lhe agrada, não poder ser Deus. Como Deus tem uma vontade para decidir o
que julga bom, assim tem poder para executar a Sua vontade. "O poder de Deus
é aquela capacidade e força pela qual Ele pode realizar tudo que Lhe agrade,
tudo que a Sua sabedoria dirija, tudo que a infinita pureza da Sua vontade
resolva. "... como a santidade é a beleza de todos os atributos de Deus,
assim o poder é aquilo que dá vida e movimento a todas as perfeições da
natureza divina. Como seriam vãos os conselhos eternos, se o poder não
interviesse para executá-los! Sem o poder, a Sua misericórdia seria apenas uma
débil piedade, as Suas promessas um som vazio, as Suas ameaças mero espantalho.
O poder de Deus é como Ele mesmo: infinito, eterno, incompreensível; não pode
ser refreado, nem restringido, nem frustrado pela criatura"(S.Charnock).
Fonte: Arthur Pink, Os Atributos de Deus, Editora PES.
"Uma
coisa disse Deus, duas vezes a ouvi: que o poder pertence a Deus"
(Sl.62:11). "Uma coisa disse Deus", ou segundo a versão autorizada,
KJ, 1611, "Uma vez falou Deus": nada mais é necessário! Passarão os
céus e a terra, porém a Sua palavra permanece para sempre. "Uma vez falou
Deus": como Lhe fica bem a Sua majestade divina! Nós, pobres mortais,
podemos falar muitas vezes e, contudo, sem sermos ouvidos, Ele fala somente uma
vez, e o trovão do Seus poder é ouvido em mil montanhas. "E o Senhor
trovejou nos céus, o Altíssimo levantou a sua voz; e havia saraiva e brasas de
fogo. Despediu as suas setas, e os espalhou: multiplicou raios, e os perturbou.
Então foram vistas as profundezas das águas, e foram descobertos os fundamentos
do mundo; pela tua repreensão, Senhor, ao soprar das tuas narinas"
(Sl.18:13-15).
"Uma
vez falou Deus": vede a Sua imutável autoridade, "Pois quem no céu se
pode igualar ao Senhor? Quem é semelhante ao Senhor entre os filhos dos
poderosos?" (Sl.89:6). "E todos os moradores da terra são reputados
em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores
da terra: não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: que fazes?"
(Dn.4:35). Esta realidade foi amplamente descortinada quando Deus Se encarnou e
tabernaculou entre os homens. Ao leproso ele disse: "... sê limpo. E logo
ficou purificado da lepra" (Mt.8:3). A um que jazia no túmulo já fazia
quatro dias, ele bradou: "... Lázaro, sai para fora. E o defunto
saiu..."(Jo.11:43-44). Os ventos tempestuosos e as ondas bravias se
aquietaram a uma só palavra Dele. Uma legião de demônios não pôde resistir à
Sua ordem repassada de autoridade.
"O
poder pertence a Deus", e somente a Ele. Nem uma só
criatura, no universo inteiro, tem sequer um átomo de poder, salvo o que é
delegado por Deus. Mas o poder de Deus não é adquirido, nem depende do
reconhecimento de nenhuma outra autoridade. Pertence a Ele inerentemente.
"O poder de Deus é como Ele mesmo, auto-existente, auto-sustentado. O mais
poderoso dos homens não pode acrescentar sequer uma sombra de poder ao
Onipotente. Ele não se firma sobre nenhum trono reforçado; nem se apoia em
nenhum braço ajudador. Sua corte não é mantida por Seus cortesãos, nem toma Ele
emprestado das Suas criaturas o Seu esplendor. Ele próprio é a grande fonte
central e o originador de toda energia" (C.H.Spurgeon). Toda a criação dá
testemunho, não só do grande poder de Deus, mas também da Sua inteira
independência de todas as coisas criadas. Ouça o Seu próprio desafio:
"Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens
inteligência. Quem lhe pôs as medida, se tu o sabes? Ou quem estendeu sobre ela
o cordel? Sobre que estão fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra
de esquina? (Jó 38:4-6). Quão completamente o orgulho do homem é lançado ao pó!
"Poder
é usado também como um nome de Deus, "... o Filho do homem assentado à direita
do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu". (Mc.14:62), isto ;e, à
destra de Deus. Deus e poder são tão inseparáveis que são recíprocos. Como a
Sua essência é imensa, não pode ser confinada a um lugar; como é eterna, não
pode ser medida no tempo; assim a Sua essência é todo-poderosa, não sofrendo
limite para a ação"(S.Charnock). "Eis que isto não apenas as orlas
dos seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem pois entenderia
o trovão do seu poder? "(Jó 26:14). Quem é capaz de contar todos os
monumento do Seu poder? Mesmo aquilo que é demonstrado do Seu poder na criação
visível está inteiramente fora da nossa capacidade de compreensão, e menos
ainda podemos conceber da onipotência propriamente dita. Há infinitamente mais
poder abrigado na natureza de Deus do que o expresso em todas as Suas obras.
"Partes
dos Seus caminhos" contemplamos na criação, na providência, na redenção,
mas apenas uma "pequena parte" do Seu poder se vê nessas obras. Isto
nos é exposto extraordinariamente em Habacuque 3:4 "...e ali estava o
esconderijo da sua força". Dificilmente se pode imaginas algo mais
grandiloqüente do que as figuras deste capítulo todo, no entanto nele nada
supera a nobreza desta declaração. O profeta (numa visão) viu o poderoso Deus
espalhando os outeiros e abatendo os montes, o que se julgaria espantosa
demonstração de força. Nada disso, diz o nosso versículo; isso é mais o
ocultamento do que a exibição do seu poder. Que se quer dizer? Isto: é tão
inconcebível, tão imenso, tão incontrolável o poder da Deidade, que as
terríveis convulsões que Ele opera na natureza escondem mais do revelam do Seu
poder infinito!
É coisa
bela juntar as seguintes passagens: "O que só estende os céus, e anda
sobre os altos do mar"(Jó 9:8), que expressa o indomável pode de Deus.
"... Ele passeia pelo circuito dos céus"(Jó 22:14), que fala da
imensidade da sua presença. "...anda sobre as asas do vento"
(Sl.104:3), que expressa a espantosa rapidez das Suas operações. Esta ;ultima
expressão é deveras notável. Não é que "Ele voa" ou
"Corre", mas que Ele "anda", e isso, nas "asas do
vento"- sobre o mais impetuoso dos elementos, impelido com o máximo furor,
e varrendo tudo com quase inconcebível velocidade, todavia sob os Seus pés,
debaixo do Seu controle perfeito!
Consideremos
agora o poder de Deus na criação. "Teus são os céus, e tua é
a terra; o mundo e a sua plenitude tu os fundaste. O norte e o sul to os
criaste..."(Sl.89:11-12). Antes de poder trabalhar, o homem precisa ter
ferramentas e material , mas Deus começou com nada, e só por Sua palavra fez do
nada todas as coisas. O intelecto não pode captar isto. Deus "... falou, e
tudo se fez, mandou, e logo tudo apareceu"(Sl.33:9). A matéria primeva
ouviu a Sua voz. "Disse Deus: Haja... e assim foi"(Gn.1). Bem podemos
exclamar: "Tu tens um braço poderoso; forte é a tua mão, e elevada a tua
destra"(Sl.89:13).
Quem, que
olha para cima, para o céu da meia-noite e, com os olhos da razão, contempla as
suas maravilhas em movimento; quem pode abster-se de indagar: do que foram
feitos estes poderosos astros? É espantoso dizê-lo, foram produzidos sem
material nenhum. Brotaram do vazio. A majestosa estrutura da natureza universal
emergiu do nada. Que instrumentos foram usados pela supremo Arquiteto para
modelar as partes com tão refinada elegância e aplicar tão belo polimento ao
todo? Como terá sido feita a junção de tudo numa estrutura primorosamente
proporcionada e com tão magnífico acabamento? Um puro e simples fiat realizou
tudo. Haja estas coisas, disse Deus. Nada acrescentou; e logo o edifício
maravilhoso se ergueu, adornado com todo tipo de beleza, pondo à mostra
inumeráveis perfeições, e proclamando em meio a extasiados serafins o louvor do
Seu grande Criador. "Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o
exército deles pelo espírito da sua boca"(Sl.33:6)"(James Hervey,
1789).
Considere o
poder de Deus na preservação. Nenhuma criatura tem poder para
preservar-se a si mesma. "Porventura sobe o junco sem lodo? Ou cresce a
espadana sem água?"(Jó8:11). Tanto o homem como o animal pereceriam, se
não houvesse erva para alimento, e a erva murcharia e morreria, se o solo não
fosse refrescado com chuvas frutíferas. Portanto, Deus é denominado o
Preservador dos "homens e os animais"(Sl.36:6). Ele sustenta "...
todas as coisas, pela palavra do seu poder..."(Hb.1:3). Que maravilha de
poder divino é a vida pré-natal de todo ser humano! Que uma criança possa
sequer viver, e por tantos meses, num alojamento apertado e estranho assim, é
inexplicável sem o poder de Deus. Verdadeiramente, Ele "... sustenta com
vida a nossa alma..."(Sl.66:9).
A
preservação da terra, guardando-a da violência dos mares é outro claro exemplo
do poder de Deus. Como é que aqueles elementos em fúria ficaram encerrados
dentro daqueles limites em que primeiro se alojaram, permanecendo em suas baías
e canais sem inundar a terra e sem fazer em pedaços a parte baixa da criação? A
condição natural da água é ficar acima da terra por ser mais leve, e
imediatamente abaixo do ar, por ser mais pesada. Quem põe restrições à
qualidade natural da água? O homem certamente que não, e não tem poderes para
tanto. É unicamente o fiat do Criador da água que a refreia. "E disse: Até
aqui virás, e não mais adiante, e aqui se quebrarão as tuas ondas
empoladas"(Jó38:11). Que altaneiro monumento ao poder de Deus é a
preservação do mundo!
Considere o
poder de Deus no governo. Tome-se a restrição que Ele impõe à
ruindade de satanás. "... o diabo, vosso adversário, anda em derredor,
bramando como leão, buscando a quem possa tragar"(IPe.5:8). Satanás está
cheio de ódio a Deus, e de diabólica inimizade contra os homens,
particularmente contra os santos. Aquele que invejou a Adão no paraíso, não
quer que sintamos o prazer de usufruirmos nenhuma das bênçãos de Deus. Se ele
pudesse fazer o que deseja, trataria todos os homens como tratou Jó: enviaria
fogo do céu sobre os frutos da terra, destruindo o gado, faria vendavais
derribarem nossas casas, e cobriria de chagas os nossos corpos. Mas, embora mal
percebido pelos homens, Deus refreia em grande media, impedindo-o de levar a
cabo os seus maus desígnios, e lhe impõe limites destro de Suas ordenações.
Assim
também Deus restringe a corrupção natural dos homens. Ele suporta suficientes
erupções do pecado para mostrar que terríveis estragos têm sido causados pela
apostasia do homem, que rompeu com o seu Criados, mas quem pode conceber a que
medonho extremo os homens iriam se Deus retirasse a Sua mão repressora? A boca
dos ímpios "... está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são
ligeiros para derramar sangue"(Rm.3:14-15). Esta é a natureza de cada um
dos descendentes de Adão. Então, que desenfreada licenciosidade e obstinada
loucura triunfariam no mundo, se o poder de Deus não se interpusesse para
fechar as comportas do mal! Ver Salmos 93:3-4.
Considere o
poder de Deus no juízo. Quando ele fere, ninguém Lhe pode
resistir: ver Ezequiel 22:14. Quão terrivelmente isso foi exemplificado no
Dilúvio! Deus abriu as janelas do céu e rompeu as grandes fontes do abismo, e
(excetuando-se os que estavam na arca) a raça humana inteira, impotente diante
do furor da sua iram foi tragada. Uma chuva de fogo e enxofre caiu do céu, e as
cidades da planície foram exterminadas. O faraó e todos os seus exércitos nada
puderam, quando Deus soprou sobre ele no Mar Vermelho. Que palavra
terrificante, a de Romanos 9:22: "E que direis se Deus, querendo mostrar a
sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da
ira, preparados para a perdição". Deus manifestará o Seu tremendo poder
sobre os reprovados, não apenas encarcerando-os na Geena, mas preservando
sobrenaturalmente os seus corpos como também as suas almas em meio às chamas
eternas do Lago de Fogo.
Bem que
deveriam tremer todos, diante de um Deus tal! Tratar
desconsideradamente Aquele que pode esmagar-nos mais facilmente do nós a uma
traça, é suicídio. Desafiar abertamente Aquele que está revestido de
onipotência, que pode rasgar-nos em pedaços ou lançar-nos no inferno na hora
que quiser, é o cúmulo da insanidade. Para reduzi-lo ao seu plano mínimo, é
simplesmente parte da sabedoria dar ouvidos à sua ordem: "Beijai o Filho,
para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se inflamar a sua
ira..."(Sl.2:12).
Bem que a
alma iluminada deve adorar a um Deus tal! As estupendas e
infinitas perfeições de um Ser como Deus requer fervoroso culto. Se homens de
poder e renome reclamam a admiração do mundo, quanto mais deve o poder do
Onipotente encher-nos de assombro e mover-nos a prestar-lhe homenagem. "Ó
Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em
santidade, terrível em louvores, obrando maravilhas?"(Ex.15:11).
Bem que o
santo pode confiar num Deus tal! Ele é digno de implícita
confiança. Nada Lhe é demasiado difícil. Se Deus fosse limitado em poder e
força, aí sim, poderíamos ficar desesperados. Mas vendo que Ele Se reveste de
onipotência, nenhuma oração é tão difícil que Ele não possa responder, nenhuma
necessidade é tão grande que Ele não possa suprir, nenhuma cólera é tão forte
que Ele não posse subjugar, nenhuma tentação é tão poderosa que ele não nos
possa livrar dela, nenhuma miséria é tão profunda que Ele não possa aliviar.
"... o Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei?(Sl.27:1).
"Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além
daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, a esse
glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre.
Amém"(Ef.3:20-21).
Fonte: Arthur Pink, Os Atributos de Deus, Editora PES.
segunda-feira, novembro 14, 2011
Como Deus é?
Reconhecer que Deus existe é uma coisa, e
reconhecê-Lo no sentido geral em que Deus nos fala na criação e por todas as
páginas da Bíblia é outra. Mas nós precisamos saber mais. Como Deus é? A Bíblia
nos dá muitas respostas claras e positivas a essa tremendamente importante
questão. Aqui estão algumas delas.
Deus é pessoal.
Deus
não é uma 'coisa', poder, ou influência. Ele pensa, sente desejos e age de
formas que mostram ser Ele um Ser pessoal vivo. Mas Ele não é apenas 'o homem
lá de cima' ou algum tipo de 'super-homem'. O Senhor é o verdadeiro Deus; ele é
o Deus vivo, o Rei eterno. (Jeremias 10:10)
Deus é um.
Há somente um Deus verdadeiro. Ele diz, eu sou o
primeiro e o último; fora de mim não há Deus (Isaías 44:6). Todavia, Deus se
relevou como uma 'trindade' de três pessoas — o Pai, o Filho (Jesus Cristo) e o
Espírito Santo, cada um dos quais é verdadeiramente, plenamente e igualmente
Deus. A Bíblia fala da glória de Deus o Pai (Filipenses 2:11); ela diz que a
Palavra (Jesus Cristo) era Deus (João 1:1); e fala do Senhor, que é o Espírito
(2 Coríntios 3:18). Embora haja somente um Deus, há três pessoas na Deidade.
Deus é espírito.
Ele
não tem dimensões físicas. Ele não tem um corpo, nem Ele tem quaisquer
características que possam ser definidas em termos de tamanho e forma. Deus é
espírito, e seus adoradores devem adorá-Lo em espírito e em verdade (João
4:24). Isso significa que Deus é invisível. Ninguém jamais viu a Deus (João
1:18). Isso significa também que Ele não está confinado a um lugar no tempo,
mas está por toda parte em todo o tempo: “Porventura, não encho eu os céus e a
terra? — diz o Senhor” (Jeremias 23:24). Totalmente aparte de tudo mais, isso
significa que Deus é plenamente consciente de tudo o que se passa em todos os
lugares. Isso inclui não somente tudo que você faz ou diz, mas todos os
pensamentos que passam por sua mente.
Deus é eterno.
Deus
não teve princípio. Nas palavras da Bíblia, “de eternidade a eternidade, tu és
Deus” (Salmos 90:2). Nunca houve tempo em que Deus não existisse e nunca
existirá um tempo quando Ele não existirá. Deus descreve a si mesmo como aquele
que é, e que era, e que há de vir (Apocalipse 1:8). Ele permanece eternamente o
mesmo: Eu, o Senhor, não mudo (Malaquias 3:6). Tudo que o Deus era Ele ainda é
e sempre será.
Deus é independente.
Todos os outros seres viventes são dependentes de
pessoas ou coisas, e ultimamente de Deus — mas Deus é totalmente independente
de Sua criação. Ele sobrevive por Si mesmo. Ele não é servido por mãos humanas,
como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida,
a respiração e todas as coisas (Atos 17:25).
Deus é santo.
Ele é majestoso em santidade, terrível em glória
(Êxodo 15:11). Não pode haver comparação com a santidade de Deus. Não há santo
como o SENHOR (1 Samuel 2:2), que é absolutamente sem falta ou defeito. A
Bíblia diz dEle: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão
não podes contemplar” (Habacuque 1:13). E esse Deus santo demanda santidade de
cada um de nós. Seu mandamento para nós hoje é: “Sede santos, porque eu sou
santo” (1 Pedro 1:16).
Deus é justo.
A
Bíblia diz que o Senhor é um Deus de justiça e que a retidão e a justiça são o
fundamento do Seu trono (Isaías 30:18; Salmos 97:2). Deus não é apenas nosso
Criador e Sustentador; Ele é também nosso Juiz recompensador e punidor, no
tempo e na eternidade, com uma justiça que é perfeita e além de qualquer apelo
ou disputa.
Deus é perfeito.
Seu
conhecimento é perfeito. Nada em toda criação está oculto das vistas de Deus.
“Não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão
nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar” (Hebreus 4:13).
Deus conhece tudo no passado, presente ou futuro, incluindo todos os nossos
pensamentos, palavras ou atos. Sua sabedoria é perfeita e totalmente além do
nosso entendimento. “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do
conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão
inescrutáveis, os seus caminhos!” (Romanos 11:33).
Deus é soberano.
Ele é o único e supremo governador do universo e
nada, não importa o que, está fora do Seu controle. “Tudo o que o SENHOR quis,
ele o fez, nos céus e na terra” (Salmos 135:6). Com Deus não há acidentes ou
surpresas. Ele escreve toda a história do mundo e opera todas as coisas em
conformidade com o propósito de Sua vontade (Efésios 1:11). Deus não precisa de
conselho ou consentimento para algo que Ele escolha fazer. Nem pode alguém
impedi-Lo de fazer o que Lhe agrada: “não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe
dizer: Que fazes?” (Daniel 4:35)
Deus é onipotente.
Ele é todo-poderoso. Em suas próprias palavras, “Eu
sou o Senhor, o Deus de toda a humanidade. Haveria alguma coisa difícil demais
para mim?” (Jeremias 32:27). Isso não significa que Deus pode fazer tudo (Ele
não pode mentir, ou mudar, ou cometer enganos, ou pecar, ou negar a si mesmo),
mas significa que Ele pode fazer tudo o que deseja, e tudo o que Ele deseja sempre
é consistente com o Seu caráter.
Esses são apenas breves esboços de algumas das coisas que Deus revelou na Bíblia sobre Sua própria natureza e caráter. Há outras verdades sobre Deus na Bíblia, embora haja muitas coisas sobre Ele que nós, possivelmente, não podemos entender. “Ele faz coisas grandes e inescrutáveis e maravilhas que não se podem contar” (Jó 5:9). Nesse sentido, o Todo-Poderoso está além do nosso alcance (Jó 37:23) e nenhuma quantidade de inteligência ou raciocínio humano pode mudar isso. Isso dificilmente deveria nos surpreender: se pudéssemos entender completamente a Deus, Ele seria indigno de nossa adoração.
Esses são apenas breves esboços de algumas das coisas que Deus revelou na Bíblia sobre Sua própria natureza e caráter. Há outras verdades sobre Deus na Bíblia, embora haja muitas coisas sobre Ele que nós, possivelmente, não podemos entender. “Ele faz coisas grandes e inescrutáveis e maravilhas que não se podem contar” (Jó 5:9). Nesse sentido, o Todo-Poderoso está além do nosso alcance (Jó 37:23) e nenhuma quantidade de inteligência ou raciocínio humano pode mudar isso. Isso dificilmente deveria nos surpreender: se pudéssemos entender completamente a Deus, Ele seria indigno de nossa adoração.
sexta-feira, novembro 11, 2011
Obstáculos para vir a Cristo
“Ninguém
pode vir a mim” (João 6:44).
1) A incapacidade do homem está na sua natureza corrompida.
2) A incapacidade do homem está na completa escuridão em que se encontra o seu intelecto.
3) A incapacidade do homem está na corrupção dos seus sentimentos.
4) Sua incapacidade está na total perversão da sua vontade.
O homem
natural é incapaz de "vir a Cristo". Citemos João 6:44, "
Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer." A razão pela
qual "duro é esse discurso", até mesmo para milhares que professam
ser cristãos, é que eles fracassam completamente em compreender o terrível
estrago que a queda provocou; e, o que é pior, eles mesmos não se dão contam da
"chaga" que existe nos seus próprios corações (1 Rs. 8:38).
Certamente se o Espírito já os tivesse despertado do sono da morte espiritual,
e lhes dado ver alguma coisa do pavoroso estado em que estão por natureza, e
feito sentir que suas "mentes carnais" são “inimizade contra Deus”
(Rm. 8:7), então eles não mais discordariam dessa solene palavra de Cristo. Mas
aquele que está espiritualmente morto não pode ver nem sentir espiritualmente.
Onde reside
a total incapacidade do homem natural? Ela não está na falta das faculdades
necessárias. Isso tem de ser bastante enfatizado, do contrário o homem caído
deixaria de ser uma criatura responsável. Mesmo que os efeitos da queda tenham
sido terríveis, eles não privaram o homem de nenhuma das faculdades que Deus
originalmente lhe concedeu. É verdade que o pecado tirou do homem a capacidade
de utilizar essas faculdades corretamente, ou seja, empregá-las para a glória
do Criador. Entretanto, o homem caído possui ainda a mesma natureza, corpo,
alma e espírito, que tinha antes da Queda. Nenhuma parte do ser do homem foi aniquilada,
ainda que cada uma tenha sido contaminada e corrompida pelo pecado. De fato, o
homem morreu espiritualmente, mas a morte não é a extinção do ser (aniquilação)
— morte espiritual é a alienação de Deus (Ef. 4:18). Aquele que é
espiritualmente morto está bem vivo e ativo no serviço de Satanás.
A
incapacidade do homem caído (não regenerado) de vir a Cristo não reside em
nenhum defeito físico ou mental. Ele tem o mesmo pé para levá-lo tanto a um
local onde o Evangelho é pregado, como para caminhar até um bar. Ele possui os
mesmos olhos que podem lhe servir para ler tanto as Escrituras Sagradas como os
jornais. Ele tem os mesmos lábios e voz para clamar a Deus os quais usa agora
em conversas fiadas e em canções ridículas. Assim, também, possui as mesmas faculdades
mentais para ponderar sobre as coisas de Deus e sobre a eternidade, as quais
ele utiliza tão diligentemente nos seus negócios. É por causa disso que o homem
é "indesculpável". É o mau uso das faculdades que o Criador lhe
concedeu que aumenta a sua culpa. Que cada servo de Deus veja que essas coisas
pesam constantemente sobre os seus ouvintes não convertidos.
1) A incapacidade do homem está na sua natureza corrompida.
Nós temos
de ir bem mais a fundo se quisermos encontrar a fonte da incapacidade do homem.
Devido à queda de Adão, e por causa do nosso próprio pecado, a nossa natureza
se tornou tão corrompida e depravada que é impossível para qualquer homem
"vir a Cristo", amá-lO e serví-lO, estimá-lO mais que tudo neste
mundo e submeter-se a Ele, até que o Espírito de Deus o regenere e implante
nele uma nova natureza. A fonte amarga não pode jorrar água doce, nem a árvore
má produzir bons frutos. Deixe-me tentar explicar isso melhor através de uma
ilustração. É da natureza de um abutre alimentar-se de carniça; no entanto, ele
tem os mesmos órgãos e membros que lhe permitiriam comer grãos, como fazem as
galinhas, mas ele não possui nem a disposição nem o apetite para tal alimento.
É da natureza da porca o chafurdar na lama; e apesar dela possuir pernas como a
ovelha para levá-la à campina, lhe falta entretanto o desejo por pastos
verdejantes. Assim acontece com o homem não-regenerado. Ele tem as mesmas
faculdades físicas e mentais que o homem regenerado possui para empregar no
serviço e nas coisas de Deus, mas não tem amor por elas.
"Adão...
gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem" (Gn. 5:3). Que
terrível contraste há aqui com o que lemos dois versículos antes: "...
Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez". No intervalo entre esses dois
versos, o homem caiu, e um pai caído pode gerar somente um filho caído,
transmitindo-lhe a sua própria depravação. "Quem da imundícia poderá tirar
coisa pura? (Jó 14:4). Por isso nós encontramos o salmista de Israel
declarando, "Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha
mãe" (Sl. 51:5). No entanto, apesar de por natureza Davi ser um monte de
iniquidade e pecado (como também somos nós), mas tarde a graça fez dele o homem
segundo o coração de Deus. Desde que idade essa corrupção da natureza aparece
nas crianças? "Até a criança se dá a conhecer pelas suas obras" (Pv.
20:11). A corrupção do seu coração logo se manifesta: orgulho, vontade própria,
vaidade, mentira, aversão ao que é bom, são frutos amargos que cedo brotam no
novo, mas corrupto, ramo.
2) A incapacidade do homem está na completa escuridão em que se encontra o seu intelecto.
Essa importante faculdade da alma foi
destituída da sua glória original, e coberta de confusão. Tanto a mente como a
consciência estão corrompidas: "Não há quem entenda"(Rm. 3:11). O
apóstolo solenemente lembra os santos, "Pois outrora éreis trevas"
(Ef. 5:8), não somente estavam "em trevas", mas eram as própria
"trevas". O pecado fechou as janelas da alma e a escuridão se estende
por todo o lugar: ela é a região das trevas e da sombra da morte, onde a luz é
como a escuridão. Lá reina o príncipe das trevas, onde não se pratica nada além
das obras das trevas. Nós nascemos espiritualmente cegos, e não podemos ter
essa visão restaurada sem um milagre da graça. Esse é o seu caso quem quer que
você seja, se ainda não nasceu de novo" (Thomas Boston, 1680). "São
filhos sábios para o mal, e não sabem fazer o bem" (Jr. 4:22).
"O
pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus,
nem mesmo pode estar"(Rm. 8:7). Existe no homem não regenerado uma
oposição e aversão pelas coisas espirituais. Deus revelou a Sua vontade aos
pecadores no tocante ao caminho da salvação, contudo eles não trilharão esse
caminho. Eles sabem que somente Cristo é capaz de salvá-los, no entanto eles
recusam se separar das coisas que obstruem o seu caminho até a Ele. Eles ouvem
que é o pecado que mata a alma, no entanto o afagam em seu peito. Eles não dão
ouvidos às ameaças de Deus. Os homens acreditam que o fogo há de consumir-lhes,
e estão em grande tormento para evitá-lo; contudo, mostram com suas ações que
consideram as chamas eternas como se fossem um mero espantalho. O mandamento
divino é "santo, justo e bom", mas o homem o odeia, e só o observa
enquanto a sua respeitabilidade é promovida entre os homens.
3) A incapacidade do homem está na corrupção dos seus sentimentos.
“O homem,
no estado em que se encontra, antes de receber a graça de Deus, ama tudo e
qualquer coisa que não seja espiritual. Se você quiser uma prova disso, olhe ao
seu redor. Não há necessidade de nenhum monumento à depravação dos sentimentos
humanos. Olhe por toda parte. Não há uma rua, uma casa, e não somente isso,
nenhum coração, que não possua uma triste evidência dessa terrível verdade. Por
que no Dia do Senhor o homem não é encontrado congregando-se na casa de Deus?
Por que não nos achamos mais freqüentemente lendo nossas Bíblias? O que
acontece para a oração ser um dever quase que totalmente negligenciado? Por que
Jesus Cristo é tão pouco amado? Por que até mesmo os seus seguidores professos
são tão frios em seus sentimentos para com Ele? De onde procedem essas coisas?
Seguramente, caros irmãos, nós não podemos creditá-las a outra fonte que não a
corrupção e a perversão dos sentimentos. Nós amamos o que deveríamos odiar, e
odiamos o que deveríamos amar. Não é outra coisa senão a natureza humana caída
que nos faz amar esta vida mais do que a vida por vir. É um efeito da Queda o
fato do homem amar o pecado mais que a justiça, e os caminhos do mundo mais que
os caminhos de Deus”. (Sermão de C.H. Spurgeon em Jo. 6:44).
Os
sentimentos do homem não regenerado são totalmente depravados e desordenados.
"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente
corrupto" (Jr. 17:9). O Senhor Jesus afirmou solenemente que os
sentimentos do homem caído (não regenerado) são a fonte de toda abominação:
"Porque de dentro do coração do homem, é que procedem os maus desígnios, a
prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, a malícia, o
dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura" (Mc.
7:21,22). Os sentimentos do homem natural estão miseravelmente deformados, ele
é um monstro espiritual. O seu coração se encontra onde deveriam estar os seus
pés, seguro ao chão; seus calcanhares estão levantados contra os Céus, para
onde deveria estar posto o seu coração (At. 9:5). Sua face está voltada para o
inferno; por isso Deus o chama para converter-se. Ele se alegra com o que
deveria entristecê-lo, e se entristece com o que deveria alegrá-lo; se gloria
com a vergonha, e se envergonha da sua glória; abomina o que deveria desejar, e
deseja o que deveria abominar (Pv. 2:13-15) (extraído do Boston’s Fourfold
State).
4) Sua incapacidade está na total perversão da sua vontade.
"O
homem pode ser salvo se ele quiser", diz o arminiano. Nós lhe respondemos,
"Meu caro senhor, nós todos cremos nisso; mas essa é que é a dificuldade —
se ele quiser." Nós afirmamos que nenhum homem deseja vir a Cristo
por sua própria vontade; não, não somos nós que o dizemos, mas Cristo mesmo
declara: "Contudo não quereis vir a mim para terdes vida" (Jo. 5:40);
e enquanto esse "não quereis vir" estiver registrado nas Escrituras
nós não podemos ser levados a crer em nenhuma doutrina do livre arbítrio.
"É estranho como as pessoas, quando falam sobre livre arbítrio, falam de
coisas das quais nada compreendem. Um diz "Ora, eu creio que o homem pode
ser salvo ser ele quiser". Mas essa não é toda a questão. O problema é: é
o homem naturalmente disposto a se submeter aos termos do Evangelho de Cristo?
Afirmamos, com autoridade bíblica, que a vontade humana é tão desesperadamente
dada ao engano, tão depravada, e tão inclinada para tudo que é mau, e tão
avessa a tudo aquilo que é bom, que sem a poderosa, sobrenatural e irresistível
influência do Espírito Santo, nenhum homem nunca será constrangido a buscar a
Cristo." (C.H. Spurgeon).
"Há
uma corda de três pontas contra o céu e a santidade, que não é fácil de ser
rompida; um homem cego, uma vontade pervertida, e um sentimento desordenado. A
mente, inchada pela vaidade, diz que o homem não deve se humilhar; a vontade,
inimiga da vontade de Deus, diz: ele não quer; as emoções corrompidas
levantando-se contra o Senhor, em defesa da vontade corrompida diz: ele não
irá. Assim a pobre criatura permanece irredutível contra Deus, até o dia do Seu
poder, quando é feito nova criatura" (Thomas Boston).
Pode ser
que alguns leitores sejam inclinados a dizer: "ensinamentos como estes
desencorajam pecadores e os levam ao desespero". Nossa resposta é:
Primeiro, eles estão de acordo com a Palavra de Deus! Segundo, esperamos que
Ele se agrade em usar essas verdades para levar alguns a desesperarem-se de
qualquer ajuda que possam encontrar neles mesmos. Terceiro, esse ensino
manifesta a absoluta necessidade da obra do Espírito Santo nessas criaturas
depravadas e espiritualmente impotentes, se algum dia vierem salvificamente a
Cristo. Então, até que isso seja claramente entendido, o Seu auxílio nunca será
realmente buscado.
terça-feira, novembro 08, 2011
sexta-feira, novembro 04, 2011
quarta-feira, novembro 02, 2011
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