sexta-feira, dezembro 14, 2012

O Sofrimento do Crente / Fábio Vaz

A) CONFISSÃO POSITIVA, EVANGELHO DA PROSPERIDADE E O FALSO TRIUNFALISMO

1 - Um falso ensino que permeia a Igreja hoje é aquele que afirma que, se formos fiéis a Deus,  obrigatoriamente seremos abençoados, prósperos e felizes, e nenhum mal nos atingirá. Se sofremos, é porque cometemos algum pecado. É o que ensinava Elifaz (Jó 4.7-9).

Refutação Bíblica: Neste mundo que jaz no Maligno (cf. 1Jo 5.19), justamente nós, crentes, somos os que mais chances temos de sofrer (Jo 16.33; 15.19,20; 2Tm 3.12; 1Pe 2.21). Na verdade, todos sofrem, crentes e descrentes. A questão é: de que modo encaramos o sofrimento? Ou melhor, o que fazemos com o sofrimento? (E não o que o sofrimento faz conosco). Veja 1Pe 4.12-19.

Exemplos de homens de Deus que sofreram muito neste mundo: Jó, José, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Paulo (cf. 2Co 6.4,5; 11.23-27). Estava Paulo em pecado? Estavam aqueles homens em pecado?

2 - Muitos ensinam que o crente genuíno jamais terá dificuldades financeiras, por ser "filho de Deus", filho d'Aquele que é o "dono do ouro e da prata". Se alguém tem problemas nessa área, é porque está em pecado. Será?

Na verdade, na Bíblia, na História e na experiência diária, observamos que os ímpios prosperam muito mais do que os justos (cf. Sl 73). Exemplos de homens de Deus que padeceram necessidades financeiras: Elias (1Rs 17.5-7), Amós (Am 7.14), Habacuque (Hc 3.17-19), Paulo (Fp 4.10-13), e até mesmo o Senhor Jesus (Mt 8.20). Aliás, o que Jesus ensinava sobre o amor às riquezas? Veja Mt 6.24; 13.22; Mc 10.23; Lc 18.24...

A atitude de Jesus deve ser a nossa também (2Co 8.9; Fp 2.5). Nem riqueza, nem pobreza, mas o equilíbrio saudável deve ser o nosso alvo na vida (cf. Pv 30.7-9), muito embora Deus, em Sua soberania, é quem realmente decide quem será rico ou pobre, e por quanto tempo. Seja qual for a nossa situação, devemos descansar n'Ele, sabendo que Ele suprirá todas as nossas necessidades em Cristo Jesus (Fp 4.19). Nossa atitude deve ser sempre de gratidão e dependência de Deus, priorizando nossa comunhão com Ele acima de tudo (Mt 6.33; 1Tm 6.7-10,17-19).

B) NEM TRIUNFALISMO, NEM PESSIMISMO - UMA PERSPECTIVA BÍBLICA DO SOFRIMENTO

1 - Existe um triunfalismo barato sendo pregado atualmente, dizendo que sempre seremos "mais que vencedores", nunca experimentaremos derrotas, revezes, fracassos ou aflições nesta vida, se realmente somos filhos de Deus. Essa é uma interpretação bastante equivocada de Rm 8.37, ignorando inteiramente o contexto desse versículo (Rm 8.18-39), no qual o Apóstolo Paulo nos explica que somos mais que vencedores justamente através dos sofrimentos, não escapando deles. O próprio Jesus jamais escondeu de ninguém o significado de ser Seu discípulo: juntamente com as recompensas, virão as tribulações e perseguições (Mc 10.28-31; Lc 9.23; 14.25-33; Jo 16.33).

 2 - Outro ponto de vista, no extremo oposto, é o pessimismo sombrio e sem esperanças, do tipo que encara este mundo apenas como um vale de sombra da morte, e que estamos destinados a sofrer irremediavelmente. Mas veja, novamente, o exemplo do Apóstolo Paulo, que expressava alegria mesmo em situações negativas, porque conhecia o Senhor (Fp 1.18; 2Tm 1.12).

Mais uma vez, o crente é chamado para encarar a vida de um modo equilibrado, baseado na Palavra de Deus. Haverá tempos difíceis e tempos bons (Ec 3.1-8), mas  aqueles que confiam no Senhor sempre terão sua alegria preservada, pois sua felicidade depende de Deus, e não das circunstâncias (Sl 34.19; 125.1).

C) PROPÓSITOS DO SOFRIMENTO

1 - O SOFRIMENTO NOS IDENTIFICA COM CRISTO. Jo 15.20,21; 16.33; At 5.40,41; Rm 8.17; Fp 1.29; 1Ts 2.14; 1Pe 4.13,14. Em todos esses textos, e em muitos outros, vemos que, assim como o Senhor sofreu neste mundo, nós, os que seguimos os Seus passos, também experimentaremos, inevitavelmente e em alguma medida, a oposição e o sofrimento (2Tm 3.12; 1Jo 3.13). Nossa comunhão com Ele no sofrimento é a outra face da nossa comunhão com Ele em Sua glória (Fp 3.10,11).

2 - O SOFRIMENTO FORJA O NOSSO CARÁTER. Este é um corolário do anterior: se, mesmo em meio ao sofrimento, buscarmos a vontade de Deus, seremos semelhantes a Cristo,  e nosso caráter começará a ser transformado pelo Espírito Santo à semelhança do caráter de Cristo (Rm 5.3-5; 2Tm 4.5; Tg 1.2-4; 1Pe 4.12-19).

3 - O SOFRIMENTO AUMENTA A NOSSA FÉ. Andar com Cristo nos dá a oportunidade de conhecê-Lo melhor, e mesmo em meio às lutas, podemos prosseguir "por fé, não por vista" (Rm 8.23-25,28,31-39; Fp 4.4-7; Hb 12.1-3; 1Pe 5.6-10).

4 - O PASSAR POR MOMENTOS DE SOFRIMENTO NOS PERMITE AUXILIAR COM EFICÁCIA OUTROS QUE ESTÃO SOFRENDO. 2Co 1.3-11; 12.7-10; Fp 1.12-18; 1Pe 5.10. O poder de Deus opera através de nossa "fraqueza" humana, quando nos sentimos as pessoas menos capacitadas do mundo e mais necessitadas da graça divina. Deus coloca um tesouro em vasos de barro (2Co 4.7-12), opera poderosamente através daqueles que sofrem confiando no Senhor (2Co 6.8-10; 1Pe 4.19).

5 - O SOFRIMENTO, QUANDO VIER, DEVE SER ENFRENTADO E EXPERIMENTADO PARA A GLÓRIA DE DEUS. Tudo em nossas vidas deve ser feito para a glória de Deus (1Co 6.20; 10.31) e o sofrimento não é exceção (Fp 1.20,21). Fomos criados para o louvor da Sua glória, e isso inclui toda a nossa vida, inclusive durante os períodos de tribulação (Ef 1.11,12). O sofrimento não é desculpa para deixar de servir a Deus e de glorificá-Lo, muito pelo contrário: é uma oportunidade excelente de demonstrar o nosso amor a Deus e a nossa alegria em Cristo, servindo ainda mais, para a glória de Deus (1Pe 4.7-19). A Deus toda a glória!

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