segunda-feira, setembro 24, 2012

Teologia Reformada / James Montgomery Boice

A Teologia Reformada recebe seu nome da Reforma Protestante do século XVI, com suas ênfases teológicas distintas, mas é teologia solidamente baseada na própria Bíblia. Os crentes na tradição reformada têm alta consideração as contribuições específicas como as de Martinho Lutero, Jonh Knox e, particularmente, de João Calvino, mas eles também encontram suas fortes distinções nos gigantes da fé que os antecederam, tais como Anselmo e Agostinho e principalmente nas cardas de Paulo e nos ensinamentos de Jesus Cristo.
Os Cristãos Reformados sustentam as doutrinas características de todos os cristãos, incluindo a Trindade, a verdadeira divindade e humanidade de Jesus Cristo, a necessidade do sacrifício de Jesus pelo pecado, a Igreja como instituição divinamente estabelecida, a inspiração da Bíblia, a exigência para que os cristãos tenham uma vida reta, e a ressurreição do corpo. Eles sustentam outras doutrinas em comum com cristãos evangélicos, tais como justificação somente pela fé, a necessidade do novo nascimento, o retorno pessoal e visível de Jesus Cristo e a Grande Comissão. O que, então, distinto a respeito da Teologia Reformada?

1. A Doutrina das Escrituras
O compromisso da reforma para com a Escritura enfatiza a inspiração, autoridade e suficiência da Bíblia. Uma vez que a Bíblia é a Palavra de Deus e, portanto, tem a autoridade do próprio Deus, os reformadores afirmam que essa autoridade é superior àquela de todos os governos e de todas as hierarquias da Igreja. Essa convicção deu aos crentes reformados a coragem para enfrentar a tirania e fez da teologia reformada uma força revolucionária na sociedade. A suficiência das Escrituras significa que ela não necessita ser suplementada por uma revelação nova ou especial. A Bíblia é o guia completamente suficiente para aquilo que nós devemos crer e para como nós devemos viver como cristãos.
Os Reformadores, em particular, João Calvino, enfatizaram o modo como a Palavra escrita, objetiva e o ministério interior, sobrenatural do Espírito Santo trabalham juntos, e o Espírito Santo iluminando a Palavra para o povo de Deus. A Palavra sem a iluminação do Espírito Santo mantém-se como um livro fechado. A suposta condução do Espírito sem a Palavra leva a erros excessos. Os Reformadores também insistiam sobre o direito de os crentes estudarem as Escrituras por si mesmos. Ainda que não negando o valor de mestres capacitados, eles compreenderam que a clareza das Escrituras em assuntos essenciais para a salvação torna a Bíblia propriedade de todo crente. Com esse direito de acesso, sempre vem a responsabilidade sobre a interpretação cuidadosa e precisa.

2. A Soberania de Deus
Para a maioria dos reformadores, o principal e o mais distinto artigo do credo é a soberania de Deus. Soberania significa governo, e a soberania de Deus significa que Deus governa sua criação com absoluto poder e autoridade. Ele determina o que vai acontecer, e acontece. Deus não fica alarmado, frustrado ou derrotado pelas circunstâncias, pelo pecado ou pela rebeldia de suas criaturas.

3. As Doutrinas da Graça
A Teologia Reformada enfatiza as doutrinas da graça.
Depravação Total: Isso não quer dizer que todas as pessoas são tão más quanto elas poderiam ser. Significa, antes, que todos os seres humanos são afetados pelo pecado em todo campo do pensamento e da conduta, de forma que nada do que vem de alguém, separado da graça regeneradora de Deus, pode agradá-lo. À medida que nosso relacionamento com Deus é afetado, nós somos tão destruídos pelo pecado, que ninguém consegue entender adequadamente Deus ou os caminhos de Deus. Tampouco somos nós que buscamos Deus, e, sim, é ele quem primeiramente age dentro de nós para levar-nos a agir assim.

Eleição Incondicional: Uma ênfase na eleição incomoda muitas pessoas, mas o problema que as preocupa não é realmente a eleição; diz respeito à depravação. Se os pecadores são tão desamparados em sua depravação, como a Bíblia diz que são, incapazes de conhecer a Deus e relutantes em buscá-lO, então, o único meio pelo qual eles podem ser salvos é quando Deus toma a iniciativa de mudá-los e salvá-los. É isso que significa eleição. É Deus escolhendo salvar aqueles que, sem sua soberana escolha e subseqüente ação, certamente pereceriam.

Expiação Limitada: O nome é, potencialmente, enganoso, pois ele parece sugerir que os reformadores desejam de alguma forma limitar o valor da morte de Cristo. Não é o caso. O valor da morte de Cristo é infinito. A questão é saber qual é o propósito da morte de Cristo e o que ele realizou com ela. Cristo pretendia fazer da salvação algo não mais que possível? Ou ele realmente salvou aqueles por quem morreu? A Teologia Reformada acentua que Jesus realmente fez a propiciação pelos pecados daqueles a quem o Pai escolhera. Ele realmente aplacou a ira de Deus para com seu povo, assumindo a culpa sobre si mesmo, redimindo-os verdadeiramente e reconciliando verdadeiramente aquelas pessoas específicas com Deus. Um nome melhor para expiação “limitada” seria redenção “particular” ou “específica”.

Graça Irresistível: Abandonados em nós mesmos, nós resistimos à graça de Deus. Mas, quando Deus age em nosso coração, regenerando-nos e criando uma vontade renovada, então, o que antes era indesejável torna-se altamente desejável, e voltamo-nos para Jesus da mesma forma como antes fugíamos dele. Pecadores arruinados resistem à graça de Deus, mas a sua graça regeneradora é efetiva. Ela supera o pecado e realiza os desígnios de Deus.

Perseverança dos Santos: Um nome melhor seria “perseverança de Deus para com os santos”, mas ambas as idéias estão realmente juntas. Deus persevera conosco, protegendo-nos de deixar a fé, que certamente aconteceria se ele não estivesse conosco. Mas, porque ele persevera, nós também perseveramos. Na realidade, perseverança é a prova definitiva de eleição.

4. Mandato Cultural
A Teologia Reformada também enfatiza o mandato cultural ou a obrigação de os cristãos viverem ativamente em sociedade e de trabalharem para a transformação do mundo e suas culturas. Os reformadores tiveram várias perspectivas nessa área, dependendo da extensão como acreditam que a transformação seja possível. Mas, no geral, concordam com duas coisas. Primeira, nós somos chamados para estar no mundo e não para nos afastarmos dele. Isso separa os reformadores crentes do monasticismo. Segunda, nós devemos alimentar os famintos, vestir os despidos e visitar os prisioneiros. Mas as principais necessidades das pessoas são espirituais, e a obra social não é substituto adequado para a evangelização. Na verdade, o empenho em ajudar as pessoas só será verdadeiramente eficiente se seu coração e mente forem transformados pelo Evangelho. Isso separa os crentes reformados do simples humanitarismo.
Tem-se alegado que, para a Teologia Reformada, qualquer pessoa que crê e faça parte da linha reformada perderá toda a motivação para a evangelização. “Se Deus vai agir, por que devo me preocupar?” Mas não é assim que funciona. É porque Deus executa a obra que nós podemos Ter coragem de nos unirmos a ele, da forma como ele nos ordena a agir. Nós agimos assim alegremente, sabendo que nossos esforços jamais serão em vão.

Fonte: Bíblia de Estudo de Genebra
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sexta-feira, setembro 21, 2012

Providências de Deus - Reação de Jó / Richard Belcher

Providências de Deus - Reação de Jó from Editora Fiel on Vimeo.
18 ª Edição da Conferência Fiel para Pastores e Líderes - Ano 2002
Palestra:
A Graça Soberana, Providências de Deus - Richard Belcher
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quinta-feira, setembro 20, 2012

Por Favor, Mais Alimento! / John Piper

A fé se alimenta da Palavra de Deus. Sem uma dieta permanente, a fé se torna cada vez mais fraca. Se você está descontente com a sua coragem, alegria e pureza de coração, avalie a maneira como está alimentando a sua fé.
Compare a maneira como se alimenta. Suponha que você comece o dia tomando um copo de suco de laranja. Isto é gostoso e bom para você. Talvez isto lhe tome cinco minutos, enquanto, ao mesmo tempo, lê o jornal. Em seguida, você sai para o trabalho ou para a escola. E não come mais nada até a manhã do dia seguinte, quando toma outro copo de suco. Assim você passa os dias, tomando um copo de suco, até que desfalece.
Essa é a maneira como muitos crentes tentam sobreviver como crentes. Alimentam sua fé com cinco minutos de refeição, pela manhã ou à noitinha, e não comem outra vez até se passarem vinte e quatro horas. Alguns até pulam uma manhã ou outra, não dando à sua fé qualquer coisa para comer, durante vários dias.
Ora, a conseqüência de uma fé faminta é que ela desfalece. Não é difícil entender isso. E, quando a fé está faminta, ela se torna mais fraca e incapaz de fazer muito. Tem dificuldade para confiar em Deus, adorar e regozijar-se, bem como para resistir ao pecado. Ela suspira e tropeça. Alguém talvez pergunte: “Como você sabe que a fé necessita do alimento da Palavra de Deus para crescer e florescer?” Bem, há alguns indícios na Bíblia.
Primeiro, Romanos 10.17 afirma: “A fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo”. Se a fé vem da Palavra de Deus, ela se vai com a ausência da Palavra.
Segundo, Salmos 78.5, 7 declara que Deus “estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos... para que pusessem em Deus a sua confiança”. Em outras palavras, o alvo do ensino da Palavra de Deus aos nossos filhos é nutrir a confiança (ou seja, a fé) em Deus. Assim, a fé se alimenta da Palavra de Deus.
Terceiro, Provérbios 22.18-19 afirma: “Porque é coisa agradável os [as palavras de Deus] guardares no teu coração e os aplicares todos aos teus lábios. Para que a tua confiança esteja no senhor, quero dar-te hoje a instrução, a ti mesmo”. Isso nos mostra que as palavras de Deus existem “para que a tua confiança esteja no senhor”. A fé se alimenta da Palavra de Deus.
Quarto, compare Salmos 1.2-3 (“O seu prazer está na lei do senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto”) com Jeremias 17.7-8 (“Bendito o homem que confia no senhor e cuja esperança é o senhor. Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde”). Um texto diz que meditar na Palavra de Deus torna você como uma árvore que permanece forte; o outro diz que confiar no Senhor faz de você uma árvore que permanece forte. O que causa isso? A mesma coisa. Por quê? Por que a pessoa que medita na Palavra de Deus, dia e noite, está continuamente alimentando a sua fé; por isso, a sua confiança é forte.
Quinto, temos de raciocinar que a fé se alimenta da Palavra de Deus porque a Palavra é aquilo em que a fé confia. E, onde não há palavras dignas de confiança, a fé não tem o que comer. Essa é a natureza da fé. Ela subsiste daquilo em que confia. A fé não tem outra vida, se não a vida que ela obtém da verdade em que crê. Portanto, se não a alimentarmos com uma dieta consistente, que é a Verdade que sustenta a vida, a fé murchará.
Tudo isto significa que devemos memorizar as Escrituras, todos os dias, de modo que possamos alimentar nossa fé, hora após hora, durante todo o dia. Somente algumas pessoas têm o privilégio de abrir a Bíblia a cada hora. Mas todos nós podemos consultar nossa memória a cada hora. De fato, nós precisamos disto.
Portanto, com todo o meu coração, encorajo-o a fazer isto. Quando você tiver seus momentos de devoção na Palavra de Deus, encontre uma frase ou um versículo — um bocado para a sua alma — e memorize-o. Isto é semelhante a colocar o alimento da fé na despensa de sua mente. Durante todo o dia, você pode ir lá e comer uma porção daquele bocado. Pode ser algo tão simples como: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hebreus 13.5). Pegue-o e mastigue-o a cada hora. A nutrição alimentará a sua fé, e esta se tornará forte. Você orará por frutos, e estes surgirão.                      
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domingo, setembro 09, 2012

Pregando a Cristo com Base no Antigo Testamento / Edgar Andrews

Os pregadores raramente têm dificuldade em pregar assuntos do Antigo Testamento. Mas pregar a Cristo com base no Antigo Testamento pode ser uma questão diferente. Entretanto, foi exatamente isso que Paulo fez, quando chegou em Tessalônica, conforme nos mostram com clareza estes versículos de Atos dos Apóstolos. De fato, o Antigo Testamento contém muitas passagens que são explicitamente “messiânicas”. Ou seja, tais passagens fazem uma referência inconfundível à vinda de Cristo. Isaías 53 é, talvez, o exemplo mais famoso. Contudo, há muitos outros exemplos. Ninguém achará problemas ao pregar sobre estas Escrituras do Antigo Testamento. 

A dificuldade está em alcançar uma interpretação cristológica geral e coerente do Antigo Testamento — uma interpretação em que todas as Escrituras do Antigo Testamento são vistas como um testemunho de Cristo e são interpretadas de conformidade com isso. 

Primeiro e fundamentalmente, é mesmo necessário acharmos tal interpretação? Em segundo, se devemos encontrá-la, como podemos achar Cristo em todas as Escrituras?

ICEBERGS OU ILHAS?

Uma analogia pode nos ajudar a tratar da primeira dessas perguntas. Considere um iceberg flutuando no oceano. É algo belíssimo, mas flutua livremente no oceano, não estando enraizado no seu ambiente cercado de água. O iceberg é incidental, está isolado e não tem importância duradoura. Por contraste, uma ilha é uma manifestação visível da geografia oculta do oceano — talvez denunciando a existência de um vulcão extinto. Ela é uma parte integral do assoalho do oceano, embora a maior parte desse assoalho esteja coberta, a menos que exploremos as profundeza dos mares. De modo semelhante, as passagens messiânicas podem ser “icebergs, lindas em si mesmas, mas incidentais, não estando vinculadas às Escrituras do Antigo Testamento — estranhezas desconexas que não refletem, de modo algum, a natureza intrínseca daquelas Escrituras. Por outro lado, essas passagens podem ser “ilhas” — afloramentos visíveis de uma realidade profunda que dá sustentação às Escrituras do Antigo Testamento, de Gênesis a Malaquias. Creio que essa é a visão do Antigo Testamento revelada pelo Novo. Sem dúvida, a realidade oculta é Cristo. Consideremos as evidências que existem para apoiar este argumento.

A EVIDÊNCIA

Em primeiro lugar, as cartas do Novo Testamento contêm diversas declarações afirmando que o propósito das Escrituras do Antigo Testamento é instruir e edificar os crentes da Nova Aliança. Além disso, em cada caso, a afirmação tem uma influência no testemunho do Antigo Testamento sobre a pessoa de Cristo. De fato, essas declarações dizem: “O Antigo Testamento foi escrito tendo em vista o nosso benefício; e esse benefício está em Cristo”. Um exemplo é Romanos 15.1-4. Esta passagem começa com uma exortação moral simples: “Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar- nos a nós mesmos”. Mas Paulo não pára aqui. Esse comportamento, insiste Paulo, resulta do exemplo de Cristo: “Porque também Cristo não se agradou a si mesmo; antes, como está escrito [Salmos 69.9]: As injúrias dos que te ultrajavam caíram sobre mim”. Paulo continua: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. A palavra grega traduzida por “tudo quanto” é enfática. Isto nos diz não somente que a citação obscura de Salmos 69.9 se refere a Cristo, mas também que todas as Escrituras do Antigo Testamento foram registradas especificamente para o nosso benefício. Este benefício, diz Paulo, nos alcança na forma de ensino, paciência, consolação e, acima de tudo, esperança em Cristo (não existe qualquer outra esperança).

PONDO O SENHOR À PROVA

Uma segunda afirmação encontramos em 1 Coríntios 10.9-12, onde Paulo adverte: “Não ponhamos o Senhor à prova, como alguns deles já fizeram e pereceram pelas mordeduras das serpentes... Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para a d v e r t ê n c i a nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado”. Assim como em Romanos 15, Paulo faz duas declarações e as une. Primeira, o propósito do Antigo Testamento — mesmo em suas partes históricas — é instruir e admoestar aqueles que vivem sob a nova aliança (“sobre quem os fins dos séculos têm chegado”). Mas acrescentou: é a Cristo que não devemos por à prova. Isto significa que estas Escrituras nos admoestam não em assuntos gerais, mas em referência ao nosso relacionamento com Cristo. O próprio Senhor Jesus comparou “a serpente no deserto” à sua crucificação, em João 3.14. Uma terceira afirmação pode ser encontrada em 1 Coríntios 9.9-10: “Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa? Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança...”

NÃO PARA SI MESMOS

Pedro concorda (1 Pedro 1.8- 12). Ele escreveu: “Foi a respeito desta salvação [por meio de Cristo] que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada... pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam”. “A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho”. Isso dificilmente poderia ser mais claro. Os profetas do Antigo Testamento (uma expressão que inclui todos os outros escritores do Antigo Testamento) foram movidos pelo Espírito Santo, para testemunhar sobre os sofrimentos e a glória de Cristo. E, ao fazerem isso, não estavam ministrando primeiramente à sua própria geração, e sim àqueles que ouviriam o evangelho do Novo Testamento, o evangelho da salvação por meio da graça.

O ANTIGO TESTAMENTO DÁ TESTEMUNHO DE CRISTO

Chegamos agora a várias afirmações definidas concernentes ao testemunho do Antigo Testamento sobre a pessoa de Cristo. A primeira se encontra em João 5.39, onde Jesus falou ao judeus: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim”. Esta não é uma afirmação desconexa; antes, é parte de um argumento mais amplo. Pois Jesus continuou: “Se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” (Jo 5.46-47). Observe a escolha das palavras. Cristo não disse apenas: “As Escrituras... testificam de mim”; isso implicaria que os escritores do Antigo Testamento fizeram essas declarações ocasionalmente. Pelo contrário, Jesus disse: “São elas mesmas que testificam de mim”, implicando que o propósito do Antigo Testamento é testificar a respeito dEle. Além disso, Jesus declarou de modo indubitável que os escritos de Moisés (ou seja, todo o Pentateuco) dão testemunho de Cristo, e não fazem apenas referências ocasionais a Ele. Isto é significativo porque, em nossos dias, existe uma tendência geral de se pregar sobre assuntos como a criação, os patriarcas e a lei de Moisés, de um modo que ignora a Cristo. Mas, de acordo com Jesus, Moisés escreveu a respeito dEle em todos os primeiros cinco livros da Bíblia.

EM TODA A ESCRITURA

Uma segunda passagem importante é Lucas 24.25-27, o episódio familiar da Estrada de Emaús. O Cristo ressuscitado repreende os seus discípulos abalados: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!... E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras”. Observe o uso tríplice da palavra “todo”. Lucas estava interessado em que entendêssemos a natureza abrangente das afirmações de Jesus — ou seja, que todo o Antigo Testamento, e não apenas uma parte dele, é uma profecia a respeito de Cristo. “Moisés” e “os Profetas” eram expressões que significavam todo o Antigo Testamento. E Jesus nos disse, em outra passagem, que viera para cumprir todo “i” e todo “til” das Escrituras (Mt 5.17-18). Se Cristo é o cumprimento das Escrituras, elas têm de apontar, necessariamente, para Ele.

SÁBIO PARA A SALVAÇÃO

Nosso último texto comprobatório é 2 Timóteo 3.15-17: “Desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus”.
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” Freqüentemente, citamos estas palavras, quando falamos sobre a natureza e a utilidade da Escritura, afirmando que ela é “inspirada” (literalmente, soprada por Deus) e instrutiva. Mas esquecemos com facilidade a declaração que levou Paulo a descrever deste modo o Antigo Testamento. Qual é essa declaração? Que as Escrituras do Antigo Testamento nos iluminam quanto à salvação pela fé em Cristo! Uma vez mais Paulo se refere de modo abrangente às Escrituras do Antigo Testamento, como aquelas que revelam a Cristo em seu poder salvador. É neste contexto cronológico que o apóstolo recomenda, posteriormente, o Antigo Testamento como um livro que é fonte de instrução e de orientação sobre boas obras.

CONCLUSÃO

Assim, as Escrituras me compelem a crer que o Antigo Testamento, em sua totalidade, testemunha sobre a pessoa de Cristo e foi escrito especificamente para o benefício dos crentes do Novo Testamento — e de todo aquele que deseja ser “sábio para a salvação” nEle. As passagens messiânicas, no Antigo Testamento, são ilhas, e não icebergs, que revelam a cristologia abrangente e essencial do Antigo Testamento.

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