quinta-feira, abril 26, 2012

Dor: O Megafone de Deus / Alistair Begg

Por sessenta anos, gerações sucessivas têm sido ajudadas por aquilo que C. S Lewis escreveu sobre o tema da dor e sofrimento. O benefício sustentado é devido na maior parte ao fato de que ele trouxe ao “problema” uma dose sólida do realismo do Cristianismo. Este medicamento pode ser mais importante agora do que nunca. Não é muito incomum ver na televisão os pregadores informarem às suas audiências que “Deus” não quer que você esteja doente. É muito difícil imaginar uma afirmação que prova ser um encorajamento a estar preso a uma cadeira de rodas, sofrer por longos períodos de esclerose múltipla. No melhor, tais pregadores estão confusos. A Bíblia faz uma distinção clara entre a peregrinação terrestre de agora e o depois na nossa casa celestial. O dia há de chegar quando não haverá mais morte ou luto ou chorar ou dor. Mas como um observador honesto da condição humana posso admitir, que esse dia ainda não chegou. Enquanto a maior parte de nós ainda não enfrentamos “ a rotina dolorosa da miséria monótona”, como Lewis o põe, muitos poucos de nós ficamos intactos pelos vários tipos de testes. 
Embora os testes possam aparecer disfarçados como um inimigo, na realidade pode vir a provar ser amigo. O escritor bíblico James encoraja os seus leitores, quando estes enfrentam testes a dar as boas vindas como amigos em vez de se ressentirem deles como intrusos. Em vez de fugirmos ou escondermo-nos nós temos de enfrentá-los com a consciência de que eles vêm para nos testar e para nos melhorar. O Lewis não discute que o sofrimento é bom para si próprio. Em vez disso, ele aponta à redenção, os efeitos santificadores de sofrer.
Trinta e dois anos do ministério pastoral trouxeram-me em contacto direto com essas experiências de dor e sofrimento que provaram ser uma misericórdia severa. Eu penso dum físico nuclear na nossa igreja na Escócia que atendeu fora de deferência com a sua mulher e três filhas jovens. Ele ouviu os sermões com ar de indiferença educada, ele aceitou uma cópia de “Cristianismo Básico” de John Scott, mas continuou seguro na sua carapaça científica. Foi somente quando o seu quarto filho, um rapaz, morreu aos onze meses que o megafone se fez ouvir. Reconhecendo que a sua visão do mundo era inadequada para lidar com a tragédia e a perda, ele encontrou-se a alcançar além da sua terra das sombras para se encontrar preso no abraço de Deus que lá está. Por está necessidade terrível de tribulação Deus conquistou a sua determinação rebelde e levou-o ao lugar da paz.
Também é verdade que Deus utiliza o sofrimento para desacostumar os Seus filhos das causas plausíveis da felicidade falsa. O Cristão pode crescer sonolento ao sol mais não dormirá no fogo ou nas inundações. Cada um de nós reconhecerá como é fácil pensar pouco em Deus quando tudo à nossa volta está bem. Mas que mudança ocorre quando, por exemplo, uma biopsia volta positiva. Uma ansiedade aguda vem para quebrar qualquer ilusão de auto-suficiência. Como é benévolo de Deus para nos acordar e para nos trazer ao lugar de dependência.
A nossa experiência da dor é santificada, e criará uma consciência dos testes que outros enfrentam e uma ternura nos nossos comportamentos. Quando as nossas dores ou desilusões se tornam na ocasião para o amolecimento dos nossos corações, podemos antecipar o privilégio de carregar com as enfermidades dos outros. Jesus, o Pastor Chefe, o nosso notável Padre Superior, é “tocado com os sentimentos das nossas enfermidades”, Ele deixou-nos o exemplo que nós devemos seguir. Deveria de nos preocupar imensamente quando aqueles de nós que foram chamados para ensinar e liderar de mostrar gentileza e compaixão para os fracos e os que tremem. Embora eu possa só ter molhado um dedo do pé no mar do sofrimento, é imediatamente aparente que Deus utiliza as horas solitárias no meio da noite para nos ensinar lições que nós nunca aprendemos nas nossas horas brilhantes e saudáveis. Nós erguemo-nos para afirmar a observação do William Cowper de que “ por detrás de uma providência franzida, Deus esconde uma cara risonha.”
Eu só comecei a raspar a superfície deste tópico. Eu tenho de deixar o leitor a ponderar sobre duas coisas. Primeiro, considerar como é que o sofrimento e a dor provam na maioria das vezes de ser a maneira como Deus disciplina e de como na sua disciplina nós encontramos evidência e o selo da nossa adoção. (Ver Hebreus 12:5). Segundo, considerar o elemento corretivo na aflição como referenciado pelo salmista (Salmos 119:67, 71).
Lewis ajudou-nos a realizar de que quando o megafone da dor se faz ouvir na nossa vida e na vida dos nossos amigos e vizinhos cépticos nós não nos atrevemos a responder de forma alguma de triunfalismo superficial ou de descer do abismo de pessimismo. Se a vida daqueles que estão marcados pelo desespero silenciosos, que estão dolorosamente conscientes dos seus testes e sofrimentos vão procurar ajuda nos Cristãos, não será porque parece que vivemos vidas que são livres de testes mas porque somos honestos com os nossos sofrimentos e dificuldades. Não procuraremos uma resposta para cada pergunta porque sabemos que Deus tem os Seus segredos (Dt. 29:29). Nós afirmaremos que mesmo no mistério dos Seus propósitos nós sabemos a segurança do Seu amor, e nós procuraremos introduzir aos outros o nosso Deus que entrou nos nossos desgostos e sofrimentos.

 | Antunesebd.com | Original aqui

segunda-feira, abril 23, 2012

Uma Palavra aos Pais / Arthur W. Pink

Uma das mais infelizes e trágicas características de nossa civilização é a excessiva desobediência aos pais da parte dos filhos, quando menores, e a falta de reverência e respeito, quando grandes. Infelizmente, isto se evidencia de muitas maneiras inclusive em famílias cristãs. Em nossas abundantes viagens nestes últimos trinta anos, fomos recebidos em muitos lares. A piedade e a beleza de alguns deles ainda permanecem em nossos corações como agradáveis e singelas recordações. Outros lares, porém, nos transmitiram as mais dolorosas impressões. Os filhos obstinados ou mimados não apenas trazem para si mesmos perpétua infelicidade, mas também causam desconforto para todos que se relacionam com eles e prenunciam coisas ruins para os dias vindouros.
Na maioria dos casos, os filhos são menos culpados do que seus pais. A falta de honra aos pais, onde quer que a achemos, deve-se em grande medida aos pais afastarem-se do padrão das Escrituras. Atualmente, o pai imagina que cumpre suas obrigações ao fornecer alimento e vestuário para os filhos e, ocasionalmente, ao agir como um tipo de policial de moralidade. Com muita freqüência, a mãe se contenta em desempenhar a função de uma criada doméstica, tornando-se escrava dos filhos, realizando várias tarefas que estes poderiam fazer, para deixá-los livres em atividades frívolas, ao invés de treiná-los a serem pessoas úteis. A conseqüência tem sido que o lar, o qual deveria ser . por causa de sua ordem, santidade e amor . uma miniatura do céu, degenerou-se em .um ponto de parada para o dia e um estacionamento para a noite., conforme alguém sucintamente afirmou.
Antes de esboçarmos os deveres dos pais em relação aos filhos, devemos ressaltar que eles não podem disciplinar adequadamente seus filhos, a menos que primeiramente tenham aprendido a governar a si mesmos. Como podem eles esperar que a obstinação de suas crianças sejam dominadas e controladas as manifestações de ira, se eles mesmos dão livre curso à seus próprios sentimentos. O caráter dos pais é amplamente reproduzido em seus descendentes. .Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem. (Gn 5.3). Os pais devem eles mesmos viver em submissão a Deus, se desejam obediência da parte de seus filhos. Este princípio é enfatizado muitas e muitas vezes nas Escrituras. .Tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo?. (Rm 2.21). A respeito do pastor ou presbítero da igreja está escrito que ele tem de ser alguém .que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?). (1 Tm 3.5). E, se um homem ou uma mulher não sabem como dominar seu próprio espírito (Pv 25.28), como poderão cuidar de seus filhos?
Deus confiou aos pais um solene e valoroso privilégio. Não exageramos ao afirmar que em suas mãos estão depositadas a esperança e a bênção ou a maldição e a ruína da próxima geração. Suas famílias são os berçários da Igreja e do Estado, e, de acordo com o que agora cultivam, tais serão os frutos que colherão posteriormente. Eles deveriam cumprir seu privilégio com bastante diligência e oração. Com certeza, Deus lhes pedirá contas referentes à maneira de criarem seus filhos, que a Ele pertencem, sendo-lhes confiados para receberem cuidado e preservação. A tarefa que Deus confiou aos pais não é fácil, em especial nestes dias excessivamente maus. Entretanto, poderão obter a graça de Deus, se a buscarem com sinceridade e confiança. As Escrituras nos fornecem as regras pelas quais devemos viver, as promessas das quais temos de nos apropriar e, precisamos acrescentar, as terríveis advertências, para que não realizemos essa tarefa de maneira leviana.
Instrua seu filho
Queremos mencionar aqui quatro dos principais deveres confiados aos pais. Primeiro, instruir seus filhos. .Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcar ás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. (Dt 6.6-7). Este dever é sobremodo importante para ser transferido aos outros; Deus exige dos pais, e não dos professores da Escola Dominical, a responsabilidade de educarem seus filhos. Tampouco essa tarefa deve ser realizada de maneira esporádica ou ocasional, mas precisa receber constante atenção. O glorioso caráter de Deus, as exigências de sua lei, a excessiva malignidade do homem, o maravilhoso dom de seu Filho e a terrível condenação que será a recompensa de todos aqueles que O desprezam e rejeitam . estas coisas precisam ser apresentadas constantemente aos filhos. .Eles são pequenos demais para entendê-las, é o argumento de Satanás, visando impedir os pais de cumprirem seu dever.
E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor. (Ef 6.4). Temos de observar que os pais são especificamente mencionados neste versículo, por duas razões: eles são os cabeças das famílias e o governo desta lhes foi confiado; os pais são inclinados a transferir sua responsabilidade às esposas. Essa instrução deve ser ministrada através da leitura da Bíblia e de explicar aos filhos as coisas adequadas à sua idade. Isto deveria ser acompanhado de ensinar-lhes um catecismo. Um constante falar aos mais novos não se mostra tão eficiente quanto a diversificação com perguntas e respostas. Se nossos filhos sabem que serão questionados após ou durante a leitura bíblica, ouvirão mais atentamente: fazer perguntas os ensina a pensarem por si mesmos. Este método também leva a memória a reter mais os ensinos, pois o responder perguntas definidas fixa idéias específicas em nossas mentes. Observe quantas vezes Jesus fez perguntas aos seus discípulos.
Seja um bom exemplo
Segundo, boas instruções precisam ser acompanhadas de bons exemplos. O ensino proveniente apenas dos lábios provavelmente será ineficaz. Os filhos são espertíssimos em detectar inconsistências e rejeitar a hipocrisia. Neste aspecto, os pais precisam humilhar-se diante de Deus, buscando todos os dias a graça que desesperadamente necessitam e somente Ele pode dar. Que cuidado eles precisam ter, para que diante de suas crianças não digam e façam coisas que tendem a corromper suas mentes ou produzam más conseqüências, se elas as imitarem! Os pais necessitam estar constantemente alertas contra aquilo que pode torná-los desprezíveis aos olhos daqueles que deveriam respeitá-los e honrá-los. Não apenas devem instruir seus filhos no caminho da santidade, mas eles mesmos devem andar neste caminho, mostrando por sua prática e conduta quão agradável e proveitoso é ser orientado pela lei de Deus.
No lar de pessoas crentes, o supremo alvo deve ser a piedade familiar . honrar a Deus em todas as ocasiões ., e as outras coisas, subordinadas a este alvo. Quanto à vida familiar, nem o esposo nem a esposa deve transferir para o outro toda a responsabilidade pelo aspecto espiritual da vida da família. A mãe com certeza tem a incumbência de suplementar os esforços do pai, pois os filhos desfrutam mais de sua companhia. Se existe a tendência de os pais serem muito rígidos e severos, as mães são propensas a serem muito brandas e clementes; portanto, têm de vigiar mais contra qualquer coisa que enfraquecerá a autoridade do pai. Quando este proibir alguma coisa, ela não deve consenti-la às crianças. É admirável observar que a exortação dada em Efésios 6.4 é precedida por .Enchei-vos do Espírito. (Ef 5.18); enquanto a exortação correspondente em Colossenses 3.21 é precedida por .habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo. (v. 16), demonstrando que os pais não podem cumprir seus deveres, a menos que estejam cheios do Espírito Santo e da Palavra de Deus.
Discipline seu filho
Terceiro, a instrução e o exemplo precisam ser reforçados mediante a correção e a disciplina. Antes de tudo, isto implica no exercício de autoridade . a correta aplicação da lei divina. A respeito de Abraão, o pai dos fiéis, Deus afirmou: .Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito. (Gn 18.19). Pais crentes, meditem estas palavras com cuidado. Abraão fez mais do que simplesmente dar conselhos: ele ensinou com vigor a lei de Deus e ordenou sua casa. As regras com que ele administrou seu lar tinham o objetivo de seus filhos guardarem .o caminho do SENHOR. . aquilo que era correto aos olhos de Deus. Este dever foi cumprido pelo patriarca a fim de que a bênção de Deus estivesse sobre sua família. Nenhuma família pode crescer adequadamente sem leis familiares, que incluem recompensas e castigos. Isto é especialmente importante na primeira infância, quando ainda o caráter moral não está formado e as crianças não apreciam ou entendem seus motivos morais.
As regras devem ser simples, claras, lógicas e flexíveis, tais como os Dez Mandamentos . poucas mas relevantes regras morais, ao invés de centenas de restrições insignificantes. Uma das maneiras de provocarmos desnecessariamente nossos filhos à ira é atrapalhá-los com muitas restrições insignificantes e regras detalhadas e arbitrárias, procedentes de pais perfeccionistas. É de vital importância para o bom futuro dos filhos que estes sejam trazidos em submissão desde cedo. Uma criança malcriada representa um adulto ímpio . nossas prisões estão superlotadas com pessoas que tiveram a liberdade de seguirem seus próprios caminhos durante sua infância. A mais leve ofensa de uma criança quebrando as regras do lar não deve ficar sem a devida correção; pois, se ela achar clemência ao transgredir uma regra, esperará a mesma clemência em relação a outras ofensas, e sua desobediência se tornará mais freqüente, até que os pais não tenham mais controle, exceto através do exercício de força brutal.
O ensino das Escrituras é claro quanto a este assunto. .A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela. (Pv 22.15; ver também 23.13- 14). Por isso, Deus afirmou: .O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina. (Pv 13.24). E, ainda: .Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo. (Pv 19.18). Não permita que uma afeição insensata o impeça de cumprir seu dever. Com certeza, Deus ama seus filhos com um sentimento paternal mais profundo do que você ama seus filhos, mas Ele nos diz: .Eu repreendo e disciplino a quantos amo. (Ap 3.19; cf. Hb 12.6). .A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe. (Pv 29.15). A severidade tem de ser utilizada nos primeiros anos de uma criança, antes que a idade e a obstinação endureçam-na contra o temor e a pungência da correção. Poupe a vara e você arruinará seu filho; não a utilize e terá de sofrer as conseqüências.
É quase desnecessário salientar que as Escrituras citadas anteriormente não têm o propósito de incutir nos a idéia de que nosso lar deve ser caracterizado por um reino de terror. Os filhos podem ser governados e disciplinados de tal maneira, que não percam o respeito e as afeições por seus pais. Estejamos atentos para não estragarmos seus temperamentos, por fazermos exigências ilógicas, e provocá-los à ira, por castigá-los expressando nossa própria ira. O pai têm de punir um filho desobediente não porque ficou bravo, e sim porque é correto fazer isso . Deus o exige, bem como a rebeldia de seu filho. Nunca faça uma ameaça, se não tenciona cumpri-la. Lembre que estar bem informado é bom para seu filho, mas ser bem controlado é ainda melhor.
Esteja atento às inconscientes influências que cercam seu filho. Estude meios para tornar seu lar atraente, não pela utilização de recursos carnais e mundanos, mas por servir- se de ideais nobres, por incutir lhes um espírito de altruísmo e desenvolver uma comunhão agradável e feliz. Não permita que seus filhos se associem a más companhias. Verifique cautelosamente as revistas e livros que entram em seu lar, observe os amigos que ocasionalmente seus filhos convidam para vir ao lar e as amizades que eles estabelecem. Antes mesmo de o reconhecerem, muitos pais permitem seus filhos relacionarem-se com pessoas que arruínam a autoridade paternal, transtornam seus ideais e semeiam frivolidade e pecado.
Ore por seus filhos
Quarto, o último e mais importante dever, no que se refere ao bem-estar físico e espiritual de seus filhos, é a intensa súplica a Deus em favor deles. Sem isto, todos os outros deveres são ineficazes. Os meios são inúteis, exceto quando o Senhor os abençoa. O trono da graça tem de ser fervorosamente buscado, para que sejam coroados de sucesso os nossos esforços em educar os filhos para a glória de Deus. É verdade que precisa haver uma humilde submissão à soberana vontade de Deus, um prostrar-se ante a verdade da eleição. Por outro lado, o privilégio da fé consiste em apropriar-se das promessas divinas e em recordar que a ardente e eficaz oração de um justo produz muitos resultados. A Bíblia nos diz que o piedoso Jó .chamava... a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles. (Jó 1.5). Uma atmosfera de oração deve permear o lar e ser respirada por todos os que dele compartilham.

sexta-feira, abril 13, 2012

A Depravação Humana - R.C.Spruol

Jeremias 17.9; Romanos 8.1-11; Efésios 2.1-3; Efésios 4.17-19; 1 João 1.8-10
Conforme dissemos no capítulo anterior [O Pecado Original], um ponto comum de debate entre os teólogos concentra-se na pergunta: os seres humanos são basicamente bons ou basicamente maus? A base sobre a qual o argumento se move é a palavra basicamente. É um consenso praticamente universal que ninguém é perfeito. Aceitamos a máxima que diz que "errar é humano".

A Bíblia diz que "todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm. 3.23). A despeito desse veredito da falência humana, em nossa cultura dominada pelo humanismo ainda persiste a idéia de que o pecado é algo periférico ou tangencial à nossa natureza. De fato, somos maculados pelo pecado. Nosso registro moral é repreensível. Mesmo assim, de alguma maneira pensamos que nossas obras más residem na extremidade ou na periferia do nosso caráter e nunca penetram o âmago. Basicamente, conforme se supõe, as pessoas são inerentemente boas.

Depois de ser resgatado do cativeiro no Iraque e de ter experimentado em primeira mão os métodos corruptos de Sadam Husseim, um refém americano declarou: "A despeito de tudo que suportei, nunca perdi a confiança na bondade básica das pessoas", Talvez esta visão se apóie em parte sobre a tênue escala da bondade e da maldade relativa das pessoas. Obviamente, algumas pessoas são muito mais perversas do que outras. Perto de Sadam Hussein ou de Adolf I Hitler, o pecador comum fica parecendo santo. Entretanto, se olharmos para o padrão supremo de bondade — o caráter santo de Deus —, perceberemos que aquilo que parece ser bondade básica no padrão terreno, é extrema corrupção.

A Bíblia ensina a depravação total da raça humana. Depravação total significa corrupção radical. Temos de ter cuidado para ver a diferença entre depravação total e depravação absoluta. Ser completamente depravado significa ser o mais depravado possível. Hitler era extremamente depravado, mas ainda poderia ter sido pior do que era. Eu sou pecador. Mas poderia pecar com mais freqüência e com mais gravidade do que faço. Não sou absolutamente depravado, mas sou totalmente depravado. Depravação total significa que eu e todas as demais pessoas somos depravados ou corrompidos na totalidade do nosso ser. Não existe nenhuma parte de nós que não tenha sido tocada pelo pecado. Nossa mente, nossa vontade e nosso corpo estão afetados pelo mal. Proferimos palavras pecaminosas,praticamos atos pecaminosos e temos pensamentos impuros. Nosso próprio corpo sofre a destruição do pecado.

Talvez depravação radical seja um termo melhor do que “depravação total” para descrever nossa condição caída. Estou usando a palavra radical não tanto no sentido de extremo, mas com um sentido mais próximo do seu significado original. Radical vem da palavra latina para “raiz” ou âmago”. Nosso problema com o pecado é que ele está enraizado no âmago do nosso ser. Permeia todo nosso coração. O Pecado está no nosso âmago e não simplesmente no exterior da nossa vida, e por isso a Bíblia diz:

Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se  extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. Romanos 3. 10-12

É por causa dessa condição que a Bíblia dá o seu veredito: estamos “mortos em nossos delitos e pecados” (Ef 2.1); estamos “vendidos à escravidão do pecado” (Rm 7.14); somos “prisioneiros da lei do pecado” (Rm 7.23) e somos “por natureza filhos da ira” (Ef 2.3). Somente por meio do poder transformador do Espírito Santo podemos ser tirados desse estado de morte espiritual. É Deus quem nos vivifica, quando nos tornamos feitura dele(Ef 2.1-10).

"Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, (Ef 2.1-4)

Autor:  R. C. Sproul
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã.

terça-feira, abril 10, 2012

O Calvinismo Aniquila o Evangelismo?

A resposta desta pergunta é “sim” e “não”. Sim, o calvinismo aniquila o evangelismo antibíblico centralizado no homem e alguns dos métodos antibíblicos e carnais empregados nesse tipo de evangelismo. Não, o calvinismo não destrói o evangelismo centralizado em Deus, no qual os métodos bíblicos são utilizados na grande obra de cumprir o mais evidente mandamento de nosso Senhor. Antes de falar sobre evangelismo e calvinismo, talvez seja prudente fazer alguns comentários gerais a respeito de conceitos errados sobre o calvinismo. Existem fanáticos a favor do calvinismo, assim como existem fanáticos contrários a ele. Este assunto nos apresenta indagações cruciais, importantes e imprescindíveis em nossos dias. Temos ouvido perguntas sinceras, especialmente da parte de seminaristas e pastores recém-ordenados. Não há dúvida de que os fundadores e o corpo docente do primeiro seminário Batista do Sul, bem como a maioria dos primeiros pastores batistas, eram calvinistas, por comprometimento e experiência.

Os calvinistas não seguem João Calvino
Os princípios elementares dos dois grandes sistemas de teologia se encontram ou no calvinismo ou no arminianismo. Entretanto, estes sistemas teológicos existem desde muitos séculos antes de João Calvino haver nascido. Naquela época, eles eram chamados agostinianismo e pelagianismo, de acordo com os nomes dos homens que os definiam, no século V. Com justiça, o calvinismo poderia ser chamado de agostinianismo, e não significaria que estamos seguindo Agostinho em direção à Igreja Católica Romana; pelo contrário, significa que somos seguidores dos princípios de teologia que Agostinho ensinou. De fato, John A. Broadus, um grande batista do Sul, do século XX, estava certo quando declarou que este sistema de teologia retrocede ao apóstolo Paulo. Por isso, Broadus chamou o calvinismo de “aquele sublime sistema da verdade paulina”. Calvino pode ter sido o homem que elaborou, pela primeira vez, aqueles princípios doutrinários em um sistema formal. Mas, como já dissemos, os princípios doutrinários não se originaram com João Calvino ou com Agostinho, e sim com o apóstolo Paulo. Por conseguinte, os calvinistas não seguem a João Calvino; pelo contrário, nos apegamos aos princípios doutrinários que ele formulou em um sistema de doutrina cristã. (Isto também é verdade a respeito do Credo dos Apóstolos. Esse credo não foi escrito pelos apóstolos. As verdades bíblicas do credo foram sistematizadas muitos anos depois que os apóstolos haviam partido para receber sua recompensa.) Conseqüentemente, cometemos um grave erro quando afirmamos ou deixamos implícito que somos seguidores de João Calvino. Não batizamos infantes, nem concordamos com a queima de hereges. Podemos dizer, com certeza, que, assim como o pelagianismo é o progenitor do arminianismo, assim também o paulinismo e o augustinianismo são os pais do calvinismo.

O fundamento doutrinário do calvinismo não é a predestinação
Além disso, o princípio doutrinário sobre o qual todo o calvinismo se alicerça não é a predestinação. Não. O ensino primário do calvinismo se fundamenta em um alicerce mais amplo, o ensino que podemos dizer (e não estamos exagerando em dizê-lo) refere-se à própria natureza e caráter de Deus. O único fundamento sobre o qual o calvinismo está edificado é a absoluta e ilimitada soberania de Deus. Na realidade, o calvinismo afirma e enfatiza a doutrina da soberania de Deus, sendo esta doutrina a fonte de onde fluem todos os outros princípios do ensino calvinista. É importante entendermos que o calvinismo não está centralizado, primariamente, em sua doutrina de predestinação, considerada de maneira isolada. A predestinação é simplesmente o resultado ou a aplicação da soberania de Deus em referência à salvação. O calvinismo afirma que a soberania de Deus é suprema na salvação, assim como em todas as outras coisas.

Nossa herança calvinista
Ao considerarmos o nosso passado, em busca de nossa origem, não podemos esquecer alguns dos pais e líderes de nossa grande Convenção Batista do Sul que eram calvinistas firmes e comprometidos. Por exemplo, considerem Basil Manly. Um historiador disse que Manly desempenhou a função de regente ao orquestrar os acontecimentos que resultaram na fundação de uma convenção batista conservadora. Manly elaborou uma resolução de seis pontos que levou à separação entre os batistas do Norte e os do Sul. Esta resolução foi “aprovada de pé e com unanimidade”. Basil Manly era um calvinista de primeira ordem. Em um sermão intitulado “Eficácia Divina em Coerência com a Atividade Humana”, Manly disse a um grupo de pastores: Não abandonemos a doutrina da atividade e da responsabilidade do homem ou a doutrina da soberania e da eficácia de Deus. Por que elas deveriam ser consideradas incoerentes? Ou por que deveriam aqueles que se apegam a uma se mostrar dispostos a duvidar, desacreditar ou rejeitar a outra? Manly continuou: A grande razão.... por que a família cristã está dividida em dois lados, cada qual rejeitando uma ou outra destas grandes doutrinas, é que a doutrina da de- pendência do Ser Divino nos lança constantemente nas mãos e na misericórdia de Deus. O homem orgulhoso não gosta disso; ele prefere olhar para o outro lado do assunto; torna-se cego, em parte, por contemplar apenas um lado da verdade, e se esquece do Criador, em Quem ele vive, se move e tem sua existência. Considere James P. Boyce, o principal fundador do primeiro seminário — (Seminário Teológico Batista do Sul — EUA). Muito depois da morte de Boyce, um de seus ex-alunos, Dr. David Ramsey, apresentou uma mensagem, no Dia dos Fundadores, em 11 de janeiro de 1924, intitulada “James Petigru Boyce, o Excelente Homem de Deus”. Poucas linhas desta mensagem do Dr. Ramsey nos mostrarão que Boyce era um calvinista comprometido e que, ao mesmo tempo, amava a alma dos homens. Meu argumento é que nenhuma outra teologia, além da teologia caracterizada por um amor avassalador e consumidor para com os homens, explica James P. Boyce e seu ministério. Este amor apaixonado foi o elemento que direcionou seu modo de pensar naquelas primeiras conferências e na elaboração dos documentos que levaram ao estabelecimento do seminário. O propósito de ajudar seus colegas permeava todos os seus planos, sua conversa, seus escritos, sua pregação, seu ensino, assim como o filete escarlate permeia todas as cordas dos navios da marinha inglesa. Este zelo pelas almas exigiu o melhor do ser de Boyce, assim como o sol da manhã leva as flores e plantas carregadas de orvalho a se curvarem ao deus do dia. O amor de Boyce por seus colegas era tal que, depois de sua morte, o rabino Moses, de Louisville, disse a respeito dele: Antes de vir para Louisville, eu conhecia o cristianismo somente em livros. Foi por meio de homens como Boyce que aprendi a conhecer o cristianismo como uma força viva. Nesse homem, aprendi não somente a compreender, mas também a respeitar e a reverenciar o poder chamado cristianismo. Boyce não somente amava os homens, ele amava a Deus. Ramsey disse sobre este assunto: Nosso pensamento deve envolver tanto o amor subjetivo como o objetivo: o amor do homem para com Deus e o amor de Deus para com o homem. O amigo íntimo de Boyce e co-fundador do seminário, John A. Broadus, expressou seus próprios sentimentos a respeito da teologia de Boyce, a qual chamamos calvinismo: ‘Foi um grande privilégio ser dirigido e instruído por um professor como Boyce, em estudar aquele sistema de verdade paulina que é tecnicamente chamada de calvinismo, que impulsiona um estudante sincero a pensar de maneira profunda; e, quando persuadido por meio de uma combinação de pensamento sistemático e experiência fervorosa, tal estudante é levado a sentir-se em casa entre os mais inspiradores e enobrecedores pontos de vistas sobre Deus e o universo que Ele criou. O legado que Boyce nos outorgou é a teologia bíblica expressa na obra Abstract of Systematic Theology (Sumário de Teologia Sistemática), que não é nada mais do que o assunto de suas aulas — o puro calvinismo. Em defesa do calvinismo de Boyce, William A. Mueller, autor de A History of Southern Baptist Theological Seminary (Uma História do Seminário Batista do Sul), disse: Como teólogo, o Dr. Boyce não tem medo de andar nos antigos caminhos. Ele é conservador e eminentemente bíblico. Dr. Boyce trata com grande imparcialidade aqueles cujos pontos de vista ele se recusa a aceitar, após discussão; mas, em seu ensino ele é resolutamente calvinista, seguindo o modelo dos antigos teólogos. Dr. Boyce procura esclarecer as dificuldades relacionadas a doutrinas tais como: Adão — o cabeça da raça humana, a eleição e a expiação; ele faz isso não para silenciar aqueles que apreciam a controvérsia, e sim para ajudar o investigador sincero. O Rev. E. E. Folk, no jornal Baptist Reflector (Refletor Batista) comentou sobre as habilidades de Boyce e seus frutos como professor de teologia: Você tinha de conhecer bem a sua própria teologia, pois, do contrário, não poderia descrevê-la perante o Dr. Boyce. E, embora os jovens alunos fossem, em sua maioria, arminianos, quando chegavam no seminário, poucos continuavam seguindo esta teologia, pois, estando sob o ministério do Dr. Boyce, muitos dos jovens alunos se convertiam às vigorosas opiniões calvinistas dele. Boyce e Manly eram calvinistas convictos. E não eram os únicos. A teologia deles não era algo incomum nos primeiros dias do Southern Baptist Theological Seminary (Seminário Batista do Sul). W. B. Johnson, o primeiro presidente da Convenção Batista do Sul (EUA), era calvinista, assim como o eram R. B. C. Howell e Richard Fuller, segundo e terceiro presidentes da Convenção. B. H. Carroll, fundador do Seminário Batista do Sudoeste, em Fort Worth, Texas, também era calvinista. Patrick Hues Mell, presidente da Convenção Batista do Sul por 17 anos, foi um polêmico defensor do calvinismo, mais do que qualquer outra pessoa. A Sra. D. B. Fitzgerald, hóspede por vários anos na casa de Patrick H. Mell e membro da Igreja Anthioc (em Oglethorpe, Geórgia), da qual ele era o pastor, recorda os esforços iniciais de Mell na igreja: Quando o Dr. Mell foi chamado para assumir o pastorado da igreja, esta se encontrava em triste estado de confusão. Ele disse que certos membros estavam se encaminhando ao arminianismo. O Dr. Mell amava demais a verdade, para respirar duas teologias distintas ao mesmo tempo. A igreja era batista e tinha de confessar doutrinas peculiares àquelas que a denominação lhe ensinava. Por isso, com aquela ousadia, clareza e vigor de linguagem que lhe eram característicos, o Dr. Mell pregava aos membros da igreja as doutrinas da predestinação, eleição, graça soberana, etc. Ele disse que seu dever era pregar a verdade sempre, conforme a encontrava na Palavra de Deus, e parar nesse ponto, sentindo que Deus cuidaria dos resultados (The Life of Patrick Hues Mell, p. 59). Eu poderia continuar citando nomes e trechos de biografias de fundadores de nossa denominação que eram calvinistas comprometidos, bem como firmes na evangelização. Citarei apenas mais um nome: o Dr. J.A.Broadus, um grande pregador e um dos fundadores de nosso seminário. Ele disse: Aqueles que escarnecem do que chamamos calvinismo poderiam também escarnecer do Mont Blanc. Não estamos obrigados a defender todas as opiniões e atitudes de Calvino; todavia, não posso entender como alguém que compreende o grego do apóstolo Paulo ou o latim de Calvino ou de Turretin pode deixar de ver que estes apenas interpretaram e formularam, de modo concreto, aquilo que os apóstolos ensinaram.

Desejo resumir mencionando cinco coisas que não identificam o calvinismo:
1. O calvinismo não é antimis-sionário; pelo contrário, fornece o alicerce bíblico para missões (Jo 6.37; 17.20-21; 2 Tm 2.10; Is 55.10; 2 Pe 3.9,15).
2. O calvinismo não elimina a responsabilidade do homem. Os homens são responsáveis pela luz que têm, quer seja a consciência (Rm 2.15), quer seja a natureza (Rm 1.19-20), quer seja a Lei escrita (Rm 2.17-27), quer seja o evangelho (Mc 16.15-16). A incapacidade do homem para fazer o que é reto não o isenta de responsabilidade, assim como a incapacidade de Satanás para fazer o que é reto também não o deixa livre de responsabilidade.
3. O calvinismo não torna Deus injusto. Conceder a bênção da salvação para inúmeros pecadores indignos não é uma injustiça da parte dEle para com o demais pecadores indignos. Se um governador perdoa um criminoso culpado, está cometendo injustiça para com os demais? (1 Ts 5.9.)
4. O calvinismo não desanima os pecadores convictos; em vez disso, lhes dá bons motivos para virem a Cristo. “Aquele que tem sede venha” (Ap 22.17). O Deus que convence é o Deus que salva. O Deus que salva é o mesmo que escolheu homens para a salvação e que os convida a desfrutar da salvação.
5. O calvinismo não desencoraja a prática da oração. Pelo contrário, o calvinismo nos motiva a buscar a Deus, visto que Ele é o único que nos pode salvar. A verdadeira oração é um impulso do Espírito Santo e, por esta razão, estará em harmonia com a vontade de Deus (Rm 8.16). O calvinismo tem caracterizado os batistas autênticos, em sua história. De modo contrário ao movimento liberal, ao movimento carismático, bem como ao dispen-sacionalismo e ao movimento de Keswick, o calvinismo é o único sobre o qual podemos afirmar que é endêmico à história, ao ensino e à herança dos batistas. Até ao presente século, com seu pragmatismo, os batistas do Sul e seus antecessores sempre foram calvinistas. O ressurgimento do calvinismo em nossos dias é apenas um esforço para restaurar nossa antiga teologia, que produzirá um resultado profundo em nosso evangelismo.

Que relação existe entre o calvinismo e o evangelismo?
Primeiramente, devemos saber o que é o evangelismo. O evangelismo é a comunicação da mensagem divina e inspirada que chamamos evangelho. É uma mensagem que pode ser definida em palavras, mas tem de ser comunicada com autoridade e poder. “Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” (1 Ts 1.5). O evangelho informa como Deus, nosso Criador e Juiz, tornou seu Filho um Salvador de pecadores, perfeito e disposto. O convite do evangelho declara que Deus convida os homens a virem ao Salvador, com fé e arrependimento, e encontrarem perdão, vida e paz. E este é mandamento de Deus: que creiamos em o nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amemos uns aos outros, conforme Ele nos ordenou (1 Jo 3.23). Jesus disse: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado” (Jo 6.29).

Eis uma definição de evangelizar:
“Apresentar o Filho de Deus aos homens pecadores, a fim de que ponham sua confiança em Deus, por intermédio de Cristo, e O recebam como seu Senhor e Salvador, para servi-Lo como seu Rei, na comunhão de sua igreja”. Você deve observar que esta definição inclui a Igreja.

O evangelismo precisa ter um alicerce doutrinário
O alicerce doutrinário do evangelismo bíblico é tão importante à evangelização como o esqueleto o é para o corpo humano. A doutrina proporciona unidade e firmeza. O alicerce doutrinário produz o vigor espiritual que torna o evangelismo capaz de suportar as tempestades de oposição, sofrimento e perseguição que, com freqüência, acompanham o verdadeiro evangelismo e missões. Por conseguinte, a igreja que negligencia o verdadeiro alicerce do evangelismo bíblico logo descobrirá que seus esforços perderam o vigor e surgirão conversões falsas. A falta de um alicerce doutrinário prejudicará a unidade da igreja e abrirá as portas ao erro e à instabilidade em todos os esforços evangelísticos. Faltam-nos palavras para exaltarmos a importância de um alicerce bíblico e ortodoxo no evangelismo autêntico, centralizado em Deus. A doutrina molda o nosso destino. No presente, estamos colhendo os frutos de um evangelismo que não se fundamenta nas Escrituras. O grande apóstolo Paulo, instruindo um jovem pastor a realizar a obra de um evangelista, disse-lhe que a doutrina (o ensino) é o propósito primordial das Escrituras — “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino” (2 Tm 3.16). O evangelismo sem um alicerce doutrinário é uma casa edificada sobre a areia (Mt 7.24-26). É semelhante a galhos sem raízes, cortados e lançados no chão; eles murcharão e morrerão. O calvinismo possui alicerces doutrinários para o evangelismo. O alicerce doutrinário do evangelismo centralizado em Deus assegura o seu sucesso. Primeiramente, porque Deus, o Pai, tem algumas pessoas que são eleitas:
a. João 13.18 — “Eu conheço aqueles que escolhi”;
b. João 15.16 — “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros”;
c. Efésios 1.4 — “Assim como nos escolheu, nele”;
d. 2 Tessalonicenses 2.13 — “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação”.
e. João 6.37,39,44,64,65 — “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim.... E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu.... Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”.

Isto me parece uma garantia de sucesso!
A segunda garantia de sucesso encontra-se no fato de que Deus, o Pai, deu ao seu Filho, o grande Pastor, algumas ovelhas; e o grande Pastor fez expiação em favor das ovelhas que o Pai Lhe deu. A expiação sobre a qual falamos foi planejada — a cruz não foi um acidente. Deus a planejou. Ele não estava dormindo, nem foi apanhado de surpresa pelos eventos que culminaram na cruz. Deus tinha um plano imutável, inalterável, que estava sendo realizado. O apóstolo Pedro declarou em sua primeira mensagem: “Sendo este [Jesus] entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos” (At 2.23). Os apóstolos não somente proclamaram esta verdade, mas também oraram a respeito dela. Escute a oração deles: “Porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram; agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra” (At 4.27-29). Na cruz, Deus estava sendo o mestre de cerimônias. Jesus também ensinou que Deus, o Pai, tinha um plano imutável, inalterável, e poder para executá-lo. “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.38-39). “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas” (Jo 10.14). Jesus deixou claro o motivo por que alguns não crêem nEle. Você já se perguntou por que algumas pessoas não crêem? Jesus responde esta pergunta: “Vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas” (Jo 10.26). Ele descreveu duas características de suas ovelhas: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz [disposição de conhecer a vontade dEle]; eu as conheço, e elas me seguem [disposição de fazer a vontade dEle]” (Jo 10.27). A verdade de que a expiação se realizou especificamente em favor das ovelhas está em João 17. Veja estas palavras da oração de Jesus: “Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste”; “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus”; “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.2, 9,24). Este ponto de vista sobre o alcance da expiação torna a cruz um lugar de vitória, pois aquilo que o Pai planejou, o Filho adquiriu e orou em seu favor. Isso está em harmonia com a grande declaração contida na profecia messiânica referente a vinda de Jesus: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si” (Is 53.11). Jesus ensinou esta mesma verdade em João 6.37: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”. Jesus não disse que eles talvez virão; que seria ótimo se viessem; que, se decidirem, eles virão; pelo contrário, Jesus declarou: Eles virão. Este é um elemento importante na mensagem da cruz, a mensagem de nosso evangelismo. Significa que a morte de Cristo não foi em vão. Pelo contrário, esta verdade nos diz que todos aqueles em favor dos quais Cristo morreu, para salvá-los, esses virão a Ele. É interessante observar que, ao anunciar a José o nascimento de Jesus, o anjo foi diretamente neste ponto: “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21). Observe que o anjo afirmou: “Salvará o seu povo”. Ele não disse: “Cada pessoa”, e sim: “O seu povo” — as ovelhas. Deus usou o fato de que tinha algumas pessoas, algumas ovelhas, para estimular a evangelização da ímpia cidade de Corinto. O grande apóstolo estava com receio de ir a Corinto, e Deus o encorajou, dizendo: “Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade” (At 18.9,10).
1. A vinda de Cristo ocorreu em favor de seu povo — “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21).
2. Seu pagamento na cruz se deu em favor das ovelhas — seu povo: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.... Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas” (Jo 10.11,14,15).
3. Jesus orou em favor de todos aqueles que o Pai Lhe deu: “Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste”; “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.2,9). Esta é a mensagem da cruz que você tem ouvido? É a mensagem de um Cristo cuja morte não foi em vão e que cumprirá tudo que foi planejado? Ou você ouviu uma mensagem de um Jesus insignificante, impotente, patético e, às vezes, efeminado, que tornou a salvação possível e está assentado, passivamente, esperando, para ver o que os pecadores farão com Ele? Isto não é apenas uma ênfase diferente. É uma mensagem evangelística de conteúdo diferente. O evangelho bíblico está centralizado em Deus, honra a Deus e abençoa os pecadores. O evangelismo centralizado em Deus possui um alicerce doutrinário que lhe garante eficácia. Se o seu conceito a respeito do calvinismo destrói o evangelismo, ofereço-lhe a sugestão de que examine seu entendimento e estude os seguintes livros: Evangelismo e Soberania de Deus, escrito por J. I. Packer (Editora PES, São Paulo - SP); O Evangelho de Hoje — Autêntico ou Sintético (Editora Fiel, São José dos Campos - SP), escrito por Walter Chantry.

Obs: recentemente a editora Fiel publicou um livro de Mark Dever (O Evangelho e a Evangelização),que trata do assunto, eu já o li, é excelente! 
1-Por que Não Evangelizamos?
2-O que É o Evangelho?
3- Que Deve Evangelizar?
4-Como Devemos Evangelizar?
5-O que Não É Evangelização?
6-Depois de Evangelizar, o que Devemos Fazer?
7-Por que Devemos Evangelizar?
Conclusão: Fechando a Venda.

domingo, abril 08, 2012

A assembleia de Westminster e as principais ênfases puritanas

Os puritanos viveram com grande intensidade o Evangelho. Eles produziram a maior biblioteca teológica da história da igreja. Eram verdadeiros gigantes, tanto na teologia como na vida; tanto no conhecimento como na piedade. Em 1643, o Parlamento Inglês, em guerra civil com o rei Carlos I, convocou a Assembléia de Westminster, composta por 151 teólogos do mais elevado cabedal teológico e espiritual. Reuniram-se na Abadia de Westminster, em Londres, até 1649. Eles escreveram os postulados doutrinários que deveriam ser ministrados às igrejas. Aquela magna assembléia debruçou sobre os temas mais relevantes da Bíblia e, em clima de profunda oração e fervor espiritual elaborou a Confissão de Fé de Westminster, os Catecismos Breve e Maior, o Diretório de Culto, a Forma de Governo e um Saltério. Esses documentos foram adotados pelas igrejas reformadas de quase todo o mundo. A Confissão de Fé e os Catecismos são os símbolos de fé da Igreja Presbiteriana do Brasil. Esses valiosos documentos são considerados a melhor síntese teológica já produzida na igreja cristã ao longo dos séculos. A Assembléia realizou 1.163 sessões em 5 anos, 6 meses e 22 dias de reunião. As discussões tinham cunho elevado e alta erudição. Os participantes faziam jejum constantemente, humilhando-se diante de Deus. Tinham profunda reverência pela autoridade suprema das Escrituras. Por isso puderam, sob a iluminação do Espírito Santo, dar às gerações pósteras tão rico legado. Vejamos, agora, as principais ênfases puritanas:
1. Soberania de Deus - A soberania de Deus era fundamentada em três áreas distintas: a) princípio regulador puritano – "a glória de Deus": Eles casavam, trabalhavam, comiam, descansavam, escolhiam sua profissão, pregavam, criavam filhos, educavam, ganhavam dinheiro e investiam, tudo para glória de Deus; b) soberania na salvação – Eles pregavam que a salvação vem de Deus, é realizada e aplicada soberanamente por Deus; c) soberania nos acontecimentos – Tudo está sob o controle e o domínio de Deus. Eles descansavam em sua sábia e bondosa providência.

2. Centralidade da Bíblia – A ênfase puritana na centralidade da Bíblia preparou a igreja para os grandes embates que ela teve de enfrentar mais tarde com o racionalismo de um lado e o experiencialismo místico do outro.

3. Ênfase no Arrependimento, na Conversão e na Santificação – Eles pregavam a necessidade da profunda convicção de pecado, antes da conversão. Para eles, a santidade era a prova da justificação.

4. Vida Teocêntrica – O último conselho de Richard Baxter aos seus paroquianos foi: "Mantenham deleite constante em Deus". Toda a vida é de Deus. Toda vida é sagrada. O puritanismo resgatou um senso de totalidade à vida, em contraste com os mosteiros da Idade Média e com a posição pietista do século XVII.

5. Expectativa do Futuro sem Deixar de Agir no Presente - Eles eram otimistas. Não aplaudiam a desgraça. Não eram omissos. Eram práticos e dinâmicos. "A alma da religião é a parte prática." Fundaram universidades, criaram escolas e cultivaram forte espírito missionário.

6. Família para a Glória de Deus – A finalidade da família é estabelecer o Reino de Cristo em casa. Eles defendiam uma liderança firme, mas amorosa no lar. Os pais primavam para que seus filhos fossem mais filhos de Deus do que seus filhos. Treinavam os filhos por meio do exemplo. Enfatizavam o ensino, o trabalho e a disciplina. Jamais descuidavam do culto doméstico.

7. Vida Cristã Equilibrada - Podemos destacar o equilíbrio dos puritanos em cinco áreas distintas: a) ortodoxia e piedade: mente e coração; estudo profundo e intensa vida de oração; b) teólogos e homens de oração: conheciam as Escrituras e o poder de Deus; c) aceitação e rejeição ao mundo: o mundo é local de serviço a Deus, e lugar que pode desviar as pessoas do caminho eterno; d) aspecto ativo e contemplativo: eram grandes estudiosos, mas não deixavam a prática devocional por intermédio da oração e jejum; e) trabalho e lazer: todo o trabalho honesto é sagrado; ensinavam os filhos desde cedo a trabalhar.

quarta-feira, abril 04, 2012

Sermões sobre a Paixão de Cristo C. H. Spurgeon




Nesse e-book, estão inclusos os seguintes sermões:
1643 – O Julgamento de Nosso Senhor perante o Sinédrio
1644 – A Primeira Aparição de Nosso Senhor perante Pilatos
1645 – Nosso Senhor Jesus perante Herodes
1647 – O Sonho da Mulher de Pilatos
1648 – Pilatos e Nós Culpados da Morte do Salvador
173 – A Morte de Cristo