Conforme dissemos no capítulo anterior [O Pecado Original],
um ponto comum de debate entre os teólogos concentra-se na pergunta: os seres humanos são basicamente bons ou
basicamente maus? A base sobre a qual o argumento se move é a palavra
basicamente. É um consenso praticamente universal que ninguém é perfeito.
Aceitamos a máxima que diz que "errar é humano".
A Bíblia diz que
"todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm. 3.23). A despeito
desse veredito da falência humana, em nossa cultura dominada pelo humanismo
ainda persiste a idéia de que o pecado é algo periférico ou tangencial à nossa
natureza. De fato, somos maculados pelo pecado. Nosso registro moral é
repreensível. Mesmo assim, de alguma maneira pensamos que nossas obras más
residem na extremidade ou na periferia do nosso caráter e nunca penetram o
âmago. Basicamente, conforme se supõe, as pessoas são inerentemente boas.
Depois de ser
resgatado do cativeiro no Iraque e de ter experimentado em primeira mão os
métodos corruptos de Sadam Husseim, um refém americano declarou: "A
despeito de tudo que suportei, nunca perdi a confiança na bondade básica das
pessoas", Talvez esta visão se apóie em parte sobre a tênue escala da
bondade e da maldade relativa das pessoas. Obviamente, algumas pessoas são
muito mais perversas do que outras. Perto de Sadam Hussein ou de Adolf I
Hitler, o pecador comum fica parecendo santo. Entretanto, se olharmos para o
padrão supremo de bondade — o caráter santo de Deus —, perceberemos que aquilo
que parece ser bondade básica no padrão terreno, é extrema corrupção.
A Bíblia ensina a
depravação total da raça humana. Depravação total significa corrupção radical.
Temos de ter cuidado para ver a diferença entre depravação total e depravação
absoluta. Ser completamente depravado significa ser o mais depravado possível.
Hitler era extremamente depravado, mas ainda poderia ter sido pior do que era.
Eu sou pecador. Mas poderia pecar com mais freqüência e com mais gravidade do
que faço. Não sou absolutamente depravado, mas sou totalmente depravado.
Depravação total significa que eu e todas as demais pessoas somos depravados ou
corrompidos na totalidade do nosso ser. Não existe nenhuma parte de nós que não
tenha sido tocada pelo pecado. Nossa mente, nossa vontade e nosso corpo estão
afetados pelo mal. Proferimos palavras pecaminosas,praticamos atos pecaminosos
e temos pensamentos impuros. Nosso próprio corpo sofre a destruição do pecado.
Talvez depravação
radical seja um termo melhor do que “depravação total” para descrever nossa
condição caída. Estou usando a palavra radical não tanto no sentido de extremo,
mas com um sentido mais próximo do seu significado original. Radical vem da
palavra latina para “raiz” ou âmago”. Nosso problema com o pecado é que ele
está enraizado no âmago do nosso ser. Permeia todo nosso coração. O Pecado está
no nosso âmago e não simplesmente no exterior da nossa vida, e por isso a
Bíblia diz:
Não há justo, nem um
sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há
quem faça o bem, não há nem um sequer. Romanos 3. 10-12
É por causa dessa
condição que a Bíblia dá o seu veredito: estamos “mortos em nossos delitos e
pecados” (Ef 2.1); estamos “vendidos à escravidão do pecado” (Rm 7.14); somos
“prisioneiros da lei do pecado” (Rm 7.23) e somos “por natureza filhos da ira”
(Ef 2.3). Somente por meio do poder transformador do Espírito Santo podemos ser
tirados desse estado de morte espiritual. É Deus quem nos vivifica, quando nos
tornamos feitura dele(Ef 2.1-10).
"Ele vos
vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais outrora
andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar,
do espírito que agora opera nos filhos de desobediência, entre os quais todos
nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da
carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os
demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos
amou, (Ef 2.1-4)
Autor: R. C. Sproul
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã –
R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã.
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