Satanás não é um iniciador; ele é um imitador.
Deus tem um Filho unigênito, o Senhor Jesus Cristo; de modo similar, Satanás
tem o “filho da perdição” (2 Ts 2.3). Existe uma Trindade Santa; de maneira
semelhante, existe a Trindade do Mal (Ap 20.10). Lemos nas Escrituras a
respeito dos “filhos de Deus”? Lemos também sobre os “filhos do maligno” (Mt
13.38). Deus realmente realiza em seus filhos tanto o querer como o executar a
sua boa vontade? Somos informados que Satanás é o “espírito que agora atua nos
filhos da desobediência” (Ef 2.2). Existe um “mistério da piedade” (1 Tm 3.16)?
Também existe um “mistério da ini-qüidade” (2 Ts 2.7). A Bíblia nos diz que
Deus, por meio de seus anjos, sela os seus servos em suas frontes (Ap 7.3)?
Aprendemos igualmente que Satanás, por meio de seus agentes, coloca uma marca
sobre as frontes de seus servidores (Ap 13.16). As Escrituras nos revelam que o
“Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (1 Co
2.10)? De maneira semelhante, Satanás possui as suas “coisas profundas” (Ap
2.24). Cristo realiza milagres? Satanás também pode fazer isso (2 Ts 2.9).
Cristo está assentado em seu trono? De modo semelhante, Satanás tem o seu trono
(Ap 2.13). Cristo possui uma Igreja? Satanás tem a sua sinagoga (Ap 2.9).
Cristo é a luz do mundo? De modo similar, o próprio Satanás “se transforma em
anjo de luz” (2 Co 11.14). Cristo designou os seus apóstolos? Satanás também
possui os seus apóstolos (2 Co 11.13). Tudo isso nos leva a considerar o
“Evangelho de Satanás”.
Satanás é um arquiimitador. Ele está agora em
atividade no mesmo campo em que o Senhor Jesus semeou a boa semente. O diabo
está procurando impedir o crescimento do trigo, utilizando-se de outra planta,
o joio, que em aparência se assemelha muito ao trigo. Em resumo, por meio de um
processo de imitação, Satanás está almejando neutralizar a obra de Cristo.
Portanto, assim como Cristo tem um evangelho, Satanás também possui um
evangelho, que é uma imitação sagaz do evangelho de Cristo. O evangelho de
Satanás se parece tanto com aquele que procura imitar, que multidões de pessoas
não-salvas são enganadas por este evangelho.
O apóstolo Paulo se referiu a este evangelho,
quando disse: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos
chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que
há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo” (Gl
1.6,7). Este falso evangelho estava sendo proclamado mesmo nos dias do
apóstolo, e uma terrível maldição foi lançada sobre aqueles que o pregavam. O
apóstolo continuou: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos
pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (v. 8).
Com a ajuda de Deus, nos esforçaremos para explicar, ou melhor, para
desmascarar este falso evangelho.
O evangelho de Satanás não é um sistema de
princípios revolucionários, nem mesmo um programa de anarquia. Este evangelho
não promove conflitos ou guerras, mas tem como alvo a paz e a unidade. Não
procura colocar a mãe contra a filha, nem o pai contra o filho; ao invés disso,
ele fomenta o espírito de fraternidade pelo qual a raça humana é considerada
uma grande “irmandade”. Este evangelho não procura mortificar o homem natural,
e sim aprimorá-lo e enaltecê-lo. O evangelho de Satanás defende a educação e a
instrução, apelando ao “melhor que há no íntimo do ser humano”; tem como alvo
fazer deste mundo um habitat tão confortável e agradável, que a ausência de
Cristo não será sentida e Deus não será necessário. O evangelho de Satanás se
esforça para manter o homem tão ocupado com as coisas deste mundo, que não tem
ocasião nem inclinação para pensar no mundo por vir. Este evangelho propaga os
princípios do auto-sacrifício, da caridade e da benevolência, ensinando-nos a
viver para o bem dos outros e sermos bondosos para todos. Apela fortemente à
mentalidade carnal, tornando-se popular entre as massas, porque ignora os
solenes fatos de que, por natureza, o homem é uma criatura caída, está alienado
da vida de Deus, morto em delitos e pecados, e de que a única esperança se
encontra em ser nascido de novo.
Em distinção ao evangelho de Cristo, o evangelho
de Satanás ensina que a salvação se realiza por meio das obras; incute na mente
das pessoas a idéia de que a justificação diante de Deus ocorre com base nos
méritos humanos. A frase sagrada do evangelho de Satanás é: “Seja bom e faça o
bem”; mas falha em reconhecer que na carne não habita bem algum. O evangelho de
Satanás anuncia uma salvação que se realiza por meio do caráter, uma salvação
que é o reverso da ordem estabelecida por Deus, em sua Palavra — o caráter se
manifesta como fruto da salvação. As ramificações e organizações deste
evangelho são multiformes. Temperança, movimentos de reforma, associações de
cristãos socialistas, sociedades de cultura ética, congressos sobre a paz,
todas estas coisas são empregadas (talvez inconscientemente) em proclamar este
evangelho de Satanás — a salvação pelas obras. Cristo é substituído pelo cartão
de apelo; o novo nascimento do indivíduo é trocado pela pureza social; e a
doutrina e a piedade são substituídas por filosofia e política. A cultivação do
velho homem é considerada mais prática do que a criação de um novo homem em
Cristo Jesus, enquanto a paz universal é procurada sem a interposição e o
retorno do Príncipe da Paz.
Os apóstolos de Satanás não são donos de bares e
negociantes de escravos brancos; em sua maioria, eles são ministros do
evangelho ordenados por igrejas. Milhares daqueles que ocupam os púlpitos das
igrejas modernas não estão mais engajados em apresentar as verdades funda-mentais da fé cristã; eles deixaram de lado a
verdade e se entregaram a fábulas. Em vez de magnificarem a grande vileza do
pecado e revelarem as suas eternas conseqüências, tais ministros minimizam o
pecado, por declararem que este é apenas uma ignorância ou uma ausência do bem.
Em vez de advertirem seus ouvintes a fugirem da “ira vindoura”, tais ministros
tornam Deus um mentiroso, por declararem que Ele é muito amável e
misericordioso e que, por isso mesmo, não enviará qualquer de suas criaturas
para o tormento eterno. Em vez de declararem que, “sem derramamento de sangue,
não há remissão”, tais ministros apenas apresentam Cristo como o grande Exemplo
e exortam seus ouvintes a seguirem os passos dEle. Temos de afirmar a respeito
desses ministros: “Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando
estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (Rm 10.3). A
mensagem deles talvez pareça bastante plausível, e seu objetivo, digno de louvor;
todavia, lemos a respeito deles: “Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros
fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar,
porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que
os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim
deles será conforme as suas obras” (2 Co 11.13-15).
Além do fato de que centenas de igrejas estão sem
líderes que proclamem fielmente todo o conselho de Deus e apresentem o caminho
de salvação dEle, também temos de encarar o fato de que a maioria das pessoas
destas igrejas provavelmente têm de aprender a verdade por si mesmas. O culto
familiar, onde uma porção da Palavra de Deus deveria ser lida todos os dias, é
atualmente, mesmo nos lares de muitos crentes nominais, uma coisa do passado. A
Bíblia não é exposta no púlpito, nem lida nos bancos das igrejas. As exigências
de uma época repleta de atividades são inumeráveis, de modo que milhares de
crentes têm pouco tempo e, menos ainda, inclinação de prepararem-se para o
encontro com Deus. Por isso, a maioria dos que são muito indolentes para
investigarem por si mesmos são deixados à mercê daqueles a quem eles pagam para
examinarem as Escrituras no lugar deles; muitos deles negam a sua confiança em
Deus, por estudarem e exporem os problemas econômicos e sociais, e não os
óraculos de Deus.
Em Provérbios 14.12, lemos: “Há caminho que ao
homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte”. Este “caminho” que
termina em “morte” é uma ilusão do diabo — o evangelho de Satanás — um caminho
de salvação por meio de realizações humanas. É um caminho que “parece direito”,
ou seja, é um caminho apresentado de uma maneira tão plausível, que apela ao
homem natural; e de uma maneira tão sutil e atrativa, que recomenda a si mesmo
à inteligência de seus ouvintes. Multidões incontáveis são seduzidas e enganadas
por este caminho, devido ao fato de que ele se apropria de uma terminologia
religiosa, recorre, às vezes, à Bíblia, para sustentar a si mesmo (sempre que
isto for conveniente aos seus propósitos), e defende ideais nobres diante dos
homens, sendo proclamado por aqueles que foram graduados em nossas instituições
teológicas.
O sucesso de um falsificador de moedas depende de
quão parecida a moeda falsa se torna com a genuína. A heresia não é uma negação
completa da verdade, e sim uma perversão da verdade. Esta é a razão por que uma
mentira incompleta é mais perigosa do que uma mentira completa. Por isso,
quando “o pai da mentira” sobe ao púlpito, ele não costuma negar abertamente as
verdades fundamentais do cristianismo; pelo contrário, ele as reconhece
astutamente e, em seguida, apresenta uma interpretação errônea e uma falsa
aplicação. Por exemplo, ele não manifestará uma tolice tão excessiva, a ponto
de anunciar ousadamente sua incredulidade em um Deus pessoal; Satanás admite a
existência de um Deus pessoal, mas, em seguida, apresenta uma falsa descrição
do caráter deste Deus. Satanás anuncia que Deus é o Pai espiritual de todos os
homens, quando as Escrituras nos dizem claramente que somos “filhos de Deus
mediante a fé em Cristo Jesus” (Gl 3.26) e que, “a todos quantos o receberam,
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus” (Jo 1.12). Além disso, Satanás
declara que Deus é extremamente misericordioso e jamais enviará qual- quer
membro da raça humana para o inferno, quando Deus mesmo afirmou: “Se alguém não
foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lado de
fogo” (Ap 20.15).
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| Editora Fiel | Original aqui
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