domingo, abril 25, 2010

O Perigo da Complacência Cristã

Os tempos exigem visões precisas e claras da doutrina cristã. Não posso negar a minha convicção de que a igreja nominal é tão prejudicada pela frouxidão e falta de clareza internamente, como pelos céticos e incrédulos externamente. Milhares de cristãos hoje parecem totalmente incapazes de distinguir coisas diferentes. Assim como os daltônicos com relação às cores, eles não conseguem diferençar o que é verdadeiro ou falso, o que convém ou não. Se o pregador for esperto, eloqüente e fervoroso, acham-no perfeito, por mais estranhos e heterodoxos que sejam os seus sermões. São aparentemente desprovidos de bom-senso espiritual e não conseguem identificar o erro. A única coisa categórica sobre eles é que desprezam a precisão [doutrinária] e acham que todas as visões extremas, radicais e taxativas são grandemente censuráveis e muito erradas!

Essas pessoas vivem no meio de uma neblina ou nevoeiro. Não vêem as coisas com clareza nem sabem no que crêem. Não têm nenhuma convicção sobre as grandes questões do evangelho e parecem estar satisfeitas com serem membros honorários de toda e qualquer linha de pensamento. Ainda que a vida delas estivesse em jogo, não poderiam lhe dizer o que consideram como verdade sobre justificação, regeneração, santificação, Ceia do Senhor, batismo, fé ou conversão, inspiração, ou o estado futuro. São consumidas pelo medo doentio da controvérsia e pelo desprezo ignorante ao espírito partidário; nada obstante não conseguem definir de fato o que querem dizer com tais expressões. E assim, vivendo sem clareza e por demais obscurecidos, deixam-se descer à sepultura sem consolo na própria fé e, temo eu, muitas vezes sem esperança.
Não é difícil achar a explicação para essa condição espiritual que não tem ossos, nervos, conteúdo. Para começar, com relação à fé, o coração do homem está naturalmente nas trevas — sem o mínimo senso intuitivo da verdade — e carece verdadeiramente de instrução e iluminação. Além disso, o coração natural da maioria dos homens odeia a diligência religiosa e despreza sinceramente a inquirição paciente e esforçada. Acima de tudo, o coração natural gosta geralmente de ser louvado pelos outros, esquiva-se da controvérsia e adora ser considerado caridoso e liberal. O resultado geral é que uma espécie de amplo “agnosticismo” religioso se ajusta a grande número de pessoas, especialmente às mais jovens. Elas contentam-se em descartar como lixo toda questão controversa e quando acusadas de indecisão, respondem: “Não tenho a pretensão de entender de controvérsias. Recuso-me a examinar questões polêmicas. Acho que, no fim das contas, é tudo a mesma coisa”. Quem não sabe que pessoas assim infestam e enxameiam todos os lugares?
Assim, rogo a todos que se protejam desse estado mental indeciso relativo à fé. Ele é a peste que se propaga nas trevas e a destruição que assola ao meio-dia; é uma disposição espiritual preguiçosa e indolente que, obviamente, livra o homem do trabalho de pensar e de investigar, para o qual, entretanto, não há fundamento na Bíblia. Por amor à sua alma, ouse decidir-se sobre o que crê e atreva-se a tomar posições bem-definidas e claras sobre a verdade e o erro. Nunca, nunca mesmo, tenha medo de defender opiniões doutrinárias nítidas nem deixe que o medo a homens ou o terror mórbido de ser considerado um espírito partidário, bitolado ou afeito à controvérsia lhe torne acomodado e satisfeito com um cristianismo desprovido de sangue, de ossos, de cor, de calor, não dogmático.
Tome nota do que eu digo. Se quiser fazer o bem nos dias de hoje, ponha realmente a indecisão de lado e assuma uma fé doutrinariamente clara e incisiva. Se você acreditar pouco, aqueles a quem você procura fazer o bem não acreditarão nada. As vitórias do cristianismo foram sempre alcançadas pela teologia doutrinariamente clara; por se falar abertamente aos homens da morte vicária e do sacrifício de Cristo, constrangendo-os a crerem no Salvador crucificado; por se pregar a ruída do pecado, a redenção por Cristo, a regeneração pelo Espírito; por se levantar a serpente de bronze; por se advertir para que olhem e vivam — para que creiam, se arrependam e sejam convertidos. Esse, exatamente esse, é o único ensinamento que Deus tem honrado com o sucesso ao longo dos séculos e ainda hoje está honrando, tanto em casa como no estrangeiro.
É a doutrina — a doutrina, a doutrina clara e vibrante que, semelhante às trombetas em Jericó, derruba a oposição do diabo e do pecado. Não importa o que alguns gostem de dizer nestes dias, apeguemo-nos a visões doutrinais claras e faremos bem a nós mesmos, aos outros e à causa de Cristo no mundo.

J.C Ryle
Extraído do site Monergismo





segunda-feira, abril 12, 2010

Mark Dever

A música

Mark Dever é pastor da Igreja Batista de Capitol Hill, no distrito de Washington; fundador do ministério 9Marcas e um dos organizadores do ministério Juntos Pelo Evangelho; conferencista internacional e autor de vários livros, incluindo os livros “Nove Marcas de Uma Igreja Saudável”,”Refletindo a Glória de Deus” e “Deliberadamente Igreja”, todos publicados em português pela Editora FIEL.




Ora, por que escrevemos sobre “Música”? Por que não usamos uma terminologia mais santificada e o chamamos de “adoração”? Afinal de contas, é comum hoje falarmos em música, cânticos e adoração como palavras intercambiáveis. Primeiramente, adoramos. Depois, ouvimos o sermão.
Queremos desafiar essa suposição. A música no contexto do ajuntamento da igreja é somente um subconjunto da adoração corporativa. Ouvir a pregação da Palavra de Deus é uma das maneiras mais importantes de adorarmos juntos a Deus. De fato, é a única maneira pela qual podemos aprender como adorá-Lo de modo aceitável.1 Orar a Palavra de Deus, ouvi-la em público e vê-la nas ordenanças também são aspectos importantes da adoração. Contudo, falando de modo mais amplo, a adoração é uma vida completamente orientada no sentido de envolver-se com Deus, nos termos que Ele propõe e das maneiras que Ele provê.2 Nosso culto racional, a adoração exposta no Novo Testamento, consiste em oferecer a Deus todo o nosso ser como sacrifício vivo, santo e agradável a Ele (Rm 12.1-2; cf. também 1Co 10.31; Cl 3.17). Portanto, a música é um subconjunto da adoração que envolve toda a nossa vida.

Esta reflexão nos lembra que nossa audiência, na adoração corporativa, não são as pessoas.3 A adoração corporativa não consiste em agradar as pessoas, quer a nós mesmos, quer a congregação, quer os incrédulos interessados. A adoração no ajuntamento coletivo é uma renovação de nossa aliança com Deus, por nos encontrarmos e nos relacionarmos com Ele nos termos que Ele prescreveu.4 Fazemos isso de modo específico ao ouvirmos a sua Palavra e atentarmos a ela, confessando nossa pecaminosidade e dependência dEle, agradecendo-Lhe por sua bondade para conosco, apresentando-Lhe nossos pedidos, confessando a sua verdade e erguendo-Lhe nossa voz e instrumentos em resposta e de acordo com a maneira como Ele se revela em sua Palavra.5

Com esse pano de fundo, eis algumas sugestões práticas que podem nos ajudar a glorificar a Deus e edificar uns aos outros no que concerne à música na adoração corporativa.

O canto congregacional

Cantar o evangelho juntos, como uma igreja integrada, forja a unidade em torno da doutrina e prática distintivamente cristãs. Nossas canções congregacionais funcionam como credos devocionais. Elas nos dão linguagem e oportunidade de encorajar uns aos outros na Palavra e convocar uns aos outros a louvar nosso único Salvador. Uma das funções mais importantes do canto congregacional é que ele ressalta a natureza corporativa da igreja e do ministério mútuo que nos edifica na unidade. Uma das razões por que nos reunimos todas as semanas é nos recordarmos que não estamos sozinhos em nossa confissão de Jesus Cristo e nossa convicção das verdades espirituais que sustentamos com tanta apreciação.

Que bênção é ouvir todos os membros da igreja cantando juntos, com todo o seu coração. Quando ouvimos os outros cantando as mesmas palavras, todos juntos, tanto há uma melodia comum como uma harmonia diversa que expressa a unidade e a diversidade do corpo da igreja local, de um modo que nos estimula a prosseguirmos juntos. Em nossa cultura excessivamente egoísta, o canto congregacional é um dos meios mais visíveis que estimulam uma ênfase especificamente corporativa em nossa adoração e vida como igreja local.

Outra função importante do canto congregacional é que ele ressalta a natureza participativa da adoração por meio da música. De um modo geral, a adoração é algo que não podemos fazer como espectadores. Romanos 12.1-2 retrata a adoração como algo ativo. Também é interessante observar que não temos nenhum exemplo de coros de igreja no Novo Testamento — a Bíblia nunca apresenta os crentes do Novo Testamento realizando uma adoração musical em que alguns crentes representavam os demais, por meio do canto realizado por uma pessoa ou um grupo. Pelo contrário, a adoração por meio da música é participativa — toda a igreja participa corporativamente da adoração a Deus, com um só coração e voz.

A Bíblia certamente nos convida a ouvir a Palavra de Deus e a responder-lhe. Mas esse tipo de ouvir é uma resposta específica a um método de comunicação ordenado por Deus — a pregação. No que diz respeito à adoração na forma de música, a Bíblia nos mostra os crentes se envolvendo, eles mesmos, em adoração — todos juntos. Isto não significa que solos e músicas especiais são necessariamente errados. Também não estamos negando que solos e músicas especiais podem comover espiritualmente aqueles que os ouvem. A questão é que tipo de adoração musical corporativa é apresentada como modelo no Novo Testamento e o que afirmamos sobre a adoração musical coletiva, se muitas de nossas canções são tocadas e cantadas por poucos, e não são todos que participam delas.

Uma dieta regular de apresentações de solistas e coros pode até causar o efeito involuntário de prejudicar a natureza participativa e corporativa de nossa música. As pessoas podem vir, gradualmente, a pensar na adoração em termos de observação passiva; e esse não é um modelo apresentado no Novo Testamento. Essa dieta pode também começar a obscurecer a linha de separação entre adoração e entretenimento, especialmente numa cultura encharcada por televisão como a nossa, na qual uma das mais insidiosas expectativas é ser entretido. É claro que esse obscurecimento não é algo proposital. Mas, no decorrer do tempo, o separar os “músicos, solistas ou coristas” do restante da congregação pode mudar sutilmente o foco de nossa atenção, de Deus para os músicos e seus talentos. E essa mudança é revelada por meio do aplaudir no final de uma apresentação. Quem é o beneficiário dos aplausos?

Se o que fazemos aos domingos de manhã é o culto público, então faz todo sentido que devemos ter preferência deliberada pelo canto congregacional — o canto que envolve a participação ativa de toda a congregação.

Quando cantamos juntos louvores a Deus, estamos reconhecendo a natureza corporativa da vida confessional da igreja. Ou seja, estamos afirmando corporativamente que confessamos a doutrina cristã e experimentamos a vida cristã junto com a nossa comunidade da aliança. Portanto, o canto congregacional é aplicável tanto ao aspecto corporativo como ao participativo de nossa adoração coletiva regular. Ele nos mantém afastados da armadilha do entretenimento por envolver todo os cristãos no louvor ativo a Deus, respondendo vocalmente à sua bondade e graça, com louvor e ação de graças audíveis.

Bem, agora que sugerimos o canto congregacional como uma implicação da adoração corporativa na forma de música, seria proveitoso recordar três diretrizes para o canto congregacional.

Público, e não privativo. Muitos líderes de louvor encorajam os membros (por palavras ou por atos) a fecharem os olhos em busca de uma intimidade emocional com Deus, no contexto da reunião corporativa. Ora, ninguém que tenha bom senso argumentaria que fechar os olhos durante a adoração corporativa é errado. E muitos fecham os olhos durante a adoração corporativa apenas para assimilar mais plenamente o som da canção. Mas estamos errados ao encorajar as pessoas a pensarem na adoração corporativa em termos de nos fecharmos para o restante da igreja e desfrutarmos de uma experiência emocional privativa com Deus.

Participei de um culto em que o líder de louvor começou a chorar de modo incontrolável na plataforma, depois de liderar uma canção. Isso foi um exemplo saudável de quebrantamento? Talvez. Não tenho dúvida de que ele tencionava que fosse. Não estamos questionando a pureza de seu coração, e sim a sabedoria de seu comportamento público. Por meio de seu exemplo, ele estava ensinando às pessoas que a experiência emocional privativa, embora realizada em frente de toda a igreja, é a expressão final da adoração (corporativa). Isso não é verdade, de modo nenhum!

O canto congregacional é uma expressão de unidade e harmonia da congregação reunida. Tornar privativa a adoração corporativa destrói este o propósito desta e confunde a verdadeira adoração com a emoção particular. A reunião de adoração coletiva é pública; devemos experimentá-la cientes de que somos um corpo. Muito do poder de edificação do canto congregacional procede realmente de desfrutarmos a presença de nossos irmãos adoradores. Se isso não fosse verdade, por que outra razão nos ajuntaríamos? Logo, é melhor não tornarmos privativo aquilo que Deus determinou que seria público.

Deve ser teologicamente rico. Em sua Palavra, Deus nos deu tantas coisas sobre as quais devemos nos sentir encorajados! Devemos usar o rico estoque das Escrituras para nos dar boas palavras para falarmos em nosso louvor a Deus, para recordar-nos as perfeições de seu caráter e a suficiência da obra de Cristo. Queremos cantar canções que elevem nosso ponto vista sobre Deus, que O apresentem em toda a sua graça e glória. Queremos entoar canções repletas de teologia que nos façam pensar sobre as profundezas do caráter de Deus, as nuanças de sua graça e as implicações de seu evangelho; que nos ensinam a doutrina bíblica que salva e transforma. No aspecto negativo, queremos evitar canções que nos estimulam a pensar sobre a nossa própria experiência emocional subjetiva, mais do que sobre as verdades objetivas do caráter de Deus e as implicações da cruz. Também queremos evitar repetições desnecessárias de frases proferidas à semelhança de mantras, como se o procurar um ápice emocional fosse a mais pura forma de adoração.

Observe a seguinte letra:Quem é Este, na manjedoura,A cujos pés os pastores caem?Quem é Este, em profunda aflição,Está jejuando no deserto?É o Senhor! Maravilhosa história!É o Senhor! O Rei da glória!Humildes, a seus pés nos curvamos,Corai-O! Coroai-O, Senhor de todos!Quem é Este que pessoas bendizemPor suas palavras de amabilidade?Quem é Este ao qual são trazidosTodos os enfermos e entristecidos?Quem é Este que está de pé e choraAnte o sepulcro onde Lázaro dorme?Quem é Este que a multidão reunidaSaúda com canto vibrante e triunfal?Oh! À meia-noite, quem é EsteQue ora no escuro Getsêmani?Quem é Este que naquela cruzMorre em aflição e agonia?Quem é Este que do sepulcroVem para curar, ajudar e salvar?Quem é Este que de seu tronoGoverna sozinho todo o mundo?7

Este hino inclui referência somente a uma Pessoa. Mas, no coro há uma referência ao plural (nos curvamos); e isso diz respeito a nossa adoração a Deus, reconhecendo o seu caráter como Rei.8 Todo o hino se centraliza em Deus, na pessoa de Cristo. E deve ser observado o senso de movimento e progresso — a letra nos leva da manjedoura ao trono de Cristo. É uma história musical e meditativa sobre a vida de Cristo, uma história que nos inspira a adorá-Lo como Ele é apresentado na Bíblia. E a música é meditativa, complementando a natureza reverente da letra. Esses são os sinais característicos de boas canções de adoração, sejam hinos, sejam cânticos: exatidão bíblica, centralidade em Deus, progressão histórica e/ou teológica, ausência de pronomes na primeira pessoa do singular e música que complementa o tom da letra.

Deve ser espiritualmente encorajador. O resultado da riqueza teológica sempre será exatidão crescente na adoração a Deus, conforme Ele realmente é; essa exatidão, por sua vez, resultará em contínuo encorajamento espiritual para nós. Nossa esperança está no caráter de Deus e na verdade de seu evangelho! Na adoração musical corporativa, somos chamados a ensinar uns aos outros a louvar a Deus por seu glorioso caráter e suas obras. Estamos expressando de modo audível a unidade e a harmonia da igreja, bem como a natureza corporativa da vida cristã confessional.9 Estamos encorajando uns aos outros, por meio do vigor de nossa voz, afirmando que não estamos sozinhos em nossa confissão e que todos os outros que cantam estão afirmando a verdade e a importância das palavras cantadas. Quanto mais pessoas houver, melhor será! Esse tipo de canto congregacional é um encorajamento para a nossa alma, recordando-nos a comunhão e a unidade nas verdades que cantamos. O que desejamos estimular nos outros é uma prioridade e uma ênfase concernentes ao canto congregacional, tanto em unidade como em harmonia, de modo que Deus seja honrado por nossa participação ativa e corporativa na adoração musical, e nós ouçamos uns aos outros, e sejamos edificados.

quinta-feira, abril 08, 2010

Jonathan Edwards

A Sabedoria de Deus na Morte Substitutiva de Cristo

"Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais"

Efésios 3.10

A sabedoria revelada na salvação por meio de Jesus Cristo está muito além da sabedoria dos anjos. Nesse texto, ela é citada como um meio de revelar o plano Deus para a nossa salvação, a fim de que os anjos possam ver e conhecer o quão grande e multiforme é a sabedoria de Deus; de forma que a sabedoria divina seja exposta diante dos olhos dos anjos para que eles a admirem. Essa sabedoria é mencionada como um tipo de sabedoria que eles jamais haviam visto, nem sequer em Deus, muito menos neles mesmos. Afim de que, agora, quatro mil anos após a criação, a multiforme sabedoria de Deus pudesse se fazer conhecida. Durante todo esse tempo, os anjos haviam observado a face de Deus e estudado as obras de Sua criação. Apesar disso, até esse dia, eles jamais haviam visto algo semelhante. Jamais haviam compreendido o quanto a sabedoria de Deus é multiforme, da forma como eles a compreendem agora, por meio da igreja!...
1. Consideremos a escolha da pessoa DO nosso Redentor. Quando Deus designou a redenção da humanidade, Sua grande sabedoria revelou-se no fato de que Ele mesmo determinou que o Seu Único Filho fosse a pessoa que executaria essa tarefa. Ele era o redentor escolhido pelo próprio Deus e, por essa razão, é chamado nas Escrituras de "O Escolhido de Deus" (Is 42.1). A sabedoria na escolha dessa Pessoa se manifesta no fato dEle ser, em todos os aspectos, a pessoa mais apropriada para executar essa tarefa. Era necessário que a pessoa do redentor fosse uma pessoa divina. Ninguém, senão um ser divino era competente o suficiente para essa grande obra. Ela era totalmente inadequada para qualquer outra criatura. Era imprescindível que o redentor dos pecadores fosse infinitamente santo em si mesmo. Ninguém poderia remover a infinita maldade do pecado, senão alguém que fosse infinitamente separado do pecado e contra o pecado. E em relação a esse aspecto, Cristo é a pessoa mais adequada para ser o redentor.
Para que a pessoa fosse competente o suficiente para realizar essa tarefa, era imprescindível que ela fosse uma pessoa infinitamente digna e excelente e pudesse ser merecedora de infinitas bênçãos. E em relação a esse aspecto, o Filho de Deus é pessoa mais adequada. Era necessário que essa pessoa fosse alguém com sabedoria e poder infinitos, pois essa era uma obra tão difícil que exigia alguém com esses atributos. E em relação a esse aspecto, Cristo é a pessoa mais adequada para ser o redentor.
Era imprescindível que essa pessoa fosse muito amada por Deus Pai para que Ele concedesse um valor infinito ao acordo feito entre os dois, devido a Sua estima por essa pessoa, de modo que o amor do Pai por essa pessoa pudesse equilibrar a ofensa e a provocação causada pelos nossos pecados. E em relação a esse aspecto, Cristo é a pessoa mais adequada para ser o redentor. Somos aceitos pelo Pai, "no Amado" (Ef 1.6).
Era imprescindível que essa pessoa fosse alguém com autoridade absoluta para agir por si mesmo; alguém que não fosse um sevo ou um súdito, pois alguém que não pudesse agir por sua própria autoridade não teria valor algum. Aquele que fosse um servo e não pudesse fazer nada além do que aquilo que era obrigado a fazer não seria digno para essa tarefa. E aquele que não possuía coisa alguma que não fosse absolutamente sua não poderia pagar o preço da redenção de outro. E em relação a esse aspecto, Cristo é a pessoa mais adequada para ser o redentor. Ninguém, senão um ser divino poderia ser adequado para ser esse redentor. Essa pessoa deveria ser alguém que possuísse misericórdia e graça infinitas, pois nenhuma outra pessoa, senão alguém como Ele, poderia realizar uma obra tão difícil em prol de uma criatura tão indigna quanto o homem. E em relação a esse aspecto, Cristo é a pessoa mais adequada para ser o redentor.
Era imprescindível que essa pessoa possuísse verdade e fidelidade perfeitas e imutáveis. Caso contrário, não seria uma pessoa adequada, de quem poderíamos depender para realizar tamanha tarefa. E em relação a esse aspecto, Cristo é a pessoa mais adequada para ser o redentor.
A sabedoria de Deus em escolher Seu Filho Eterno se manifesta não somente no fato dEle ser a pessoa mais adequada, mas também no fato dEle ser a única Pessoa adequada dentre todas, quer criadas ou não. Nenhum ser criado – quer fosse homem, quer fosse anjo – era adequado para realizar essa tarefa... Isso revela a sabedoria divina em saber que Cristo era a pessoa adequada. Nenhum outro, senão Aquele que possui a sabedoria divina poderia conhecer esse fato. Nenhum outro, senão Aquele que possui a sabedoria divina poderia pensar em Cristo para ser o redentor dos pecadores. Pois, visto que Cristo também é Deus, Ele é uma das Pessoas contra Quem o homem pecou e que foi ofendida pelo pecado de rebelião do homem. Quem, senão o Deus infinitamente sábio poderia pensar em Cristo para ser o redentor de pecadores que haviam pecado contra Ele, os quais eram Seus inimigos e mereciam o mal infinito de Suas mãos? Quem poderia pensar nEle como Aquele que colocaria o Seu coração no homem e teria amor e compaixão infinitos por ele, exibindo sabedoria, poder e merecimento infinitos pela redenção do homem? Mas podemos ir além disso.
2. Consideremos a mANEIRA COMO essa Pessoa IRIA NOS SubstituIR. Após escolher a pessoa para ser o nosso Redentor, o passo seguinte da sabedoria divina seria escolher a maneira pela qual essa pessoa realizaria a obra da redenção. Se Deus tivesse revelado quem realizaria essa obra e não tivesse revelado nada além disso, nenhuma outra criatura poderia imaginar a maneira pela qual essa pessoa realizaria essa obra. E se Deus tivesse dito a elas que o Seu Filho Unigênito seria o Redentor, e que somente Ele era pessoa adequada e suficientemente competente para essa tarefa, mas tivesse pedido às Suas criaturas que planejassem a maneira como essa Pessoa, adequada e competente, deveria proceder, poderíamos imaginar que toda a sabedoria humana criada seria considerada um esforço inútil para fazer tal suposição.
A primeira coisa que deveria ser feita seria transformar esse Filho de Deus em nosso Representante e Fiador, de modo que Ele fosse um substituto no lugar do pecador. Mas qual das inteligências criadas poderia conceber algo como: o Filho de Deus, eterno e infinitamente amado, sendo o substituto no lugar dos pecadores? O Filho de Deus no lugar de um pecador, de um rebelde, de um objeto da ira de Deus? Quem poderia pensar numa pessoa que possui glória infinita representando vermes pecadores, os quais se tornaram infinitamente provocadores e abomináveis por causa de seu pecado? Pois se o Filho de Deus fosse o substituto do pecador, conseqüentemente, o pecado do pecador deveria ser lançado sobre Ele. Ele precisaria levar a culpa do pecador sobre Si. Teria de submeter-Se à mesma Lei à qual o homem estava sujeito, tanto no que se refere aos mandamentos, quanto no se refere às punições. Quem poderia pensar em semelhante coisa com relação ao Filho de Deus? Mas podemos ir além disso.
3. Consideremos a encarnação de Jesus Cristo. O passo seguinte da sabedoria de Deus para planejar a forma como Cristo realizaria a obra da redenção dos pecadores seria determinar a Sua encarnação. Imagine se Deus tivesse revelado para as mentes criadas que Seu Filho Unigênito seria a Pessoa escolhida para realizar a obra da redenção; que Ele havia sido designado para ser o Substituto do pecador e levar suas as dívidas e a sua culpa sobre Si mesmo, e não houvesse revelado nada além disso; mas deixasse que essas mentes criadas adivinhassem o restante do plano. Não haveria probabilidade alguma de que, mesmo após essa revelação, elas pudessem imaginar a maneira pela qual essa Pessoa realizaria a obra da redenção. Pois, para que o Filho de Deus fosse o substituto no lugar do pecador, Ele teria de tomar para Si a dívida que pertencia ao pecador e viver aqui, em perfeita obediência à Lei de Deus. Mas seria pouco provável que alguma criatura conseguisse imaginar uma forma de tornar isso possível. Como uma Pessoa que é o próprio Jeová eterno poderia se tornar um servo, ficar sujeito à Lei e viver em perfeita obediência, inclusive no que se refere às leis dos homens?
Além disso, se o Filho de Deus fosse o substituto no lugar do pecador, Ele teria de se sujeitar a receber a punição que o pecado do homem merecia, pois essa era a obrigação do pecador. Quem imaginaria que isso seria possível? Pois, como uma Pessoa divina, que é infinitamente feliz e imutável em Sua essência, poderia sofrer dor e tormentos? Como Alguém que é o objeto do amor precioso e infinito de Deus poderia sofrer a ira de Seu próprio Pai? Não podemos imaginar que a sabedoria criada pudesse encontrar uma maneira de superar essas dificuldades. Entretanto, a sabedoria divina descobriu um meio, a saber, pela encarnação do Filho de Deus. O Verbo deveria tornar-se carne; ser Deus e homem em uma única Pessoa. Mas qual mente criada poderia conceber isso como possível?...
Mas, e se Deus tivesse revelado que isso seria possível, e que isso realmente aconteceria, mas deixasse que elas descobrissem o modo como isso seria feito. Podemos imaginar que elas ficariam embaraçadas e confusas para pensar em um modo de unir um homem ao eterno Filho de Deus, de forma que Eles fossem uma só Pessoa; pois essa Pessoa teria de ser verdadeiramente homem em todos os aspectos e, ao mesmo tempo, ser o mesmo Filho de Deus, que estava com Deus desde a eternidade. Esse é um grande mistério para nós. Por meio da encarnação, Aquele que é infinito, onipotente e imutável tornou-se, até certo ponto, um homem finito, frágil; sujeito às nossas fraquezas, emoções e calamidades, mas sem pecado! Desse modo, o grande Deus, o soberano dos céus e da terra, passou a ser um verme da terra. "Mas eu sou verme e não homem" (Sl 22.6). Por meio dessa união, Aquele que é eterno e auto-existente nasceu de uma mulher! Aquele que é o Espírito não criado vestiu-se de carne e sangue como um de nós! Aquele que é independente, auto-suficiente e todo-suficiente passou a ter necessidade de alimento e de roupas. Ele fez-se pobre e não tinha onde reclinar a cabeça (Mt 8.20); chegou a ter necessidade da caridade dos homens e foi mantido por ela! Conceber como isso poderia acontecer é algo que está muito além de nossa capacidade mental! Isso é um grande milagre e um mistério para nós, mas não é um mistério para a sabedoria divina.
4. O próximo Aspecto a ser considerado é a vida de Cristo neste mundo. A sabedoria de Deus se manifesta na condição de vida, na obra e nos interesses de Cristo.
(1) Sua condição de vida. Se Deus tivesse revelado que Seu próprio Filho se encarnaria e viveria neste mundo com uma natureza humana; e se Ele tivesse deixado que o homem designasse a condição de vida mais adequada a Ele; a sabedoria humana teria designado que Ele se manifestasse ao mundo da forma mais magnífica, com uma aparência exterior extraordinária, cheio de honra, autoridade e com um poder muito superior aos dos reis da terra; reinando sobre todas as Nações, com esplendor e pompa visíveis. Isso foi o que a sabedoria humana havia concluído antes de Cristo vir ao mundo. Os sábios, os grandes dentre os judeus, os escribas e fariseus, os quais são chamados de "poderosos deste século" (1 Co 2.6-8), esperavam que o Messias se manifestasse dessa maneira. Mas a sabedoria de Deus escolheu exatamente o contrário. Ela determinou que, quando o Filho de Deus fosse se tornar homem, Ele deveria começar Sua vida em uma estrebaria; habitar neste mundo como um anônimo, durante muitos anos, com uma família de classe baixa, e ter uma condição de vida simples; que fosse pobre e não tivesse onde reclinar a cabeça; que vivesse da caridade de alguns de Seus discípulos; que crescesse como um "renovo perante ele e como raiz de uma terra seca" (Is 53.2); que não clamasse, nem gritasse, nem fizesse ouvir a sua voz na praça (Is 42.2); que fosse para Sião de modo humilde, montado em um jumento, num jumentinho, cria de jumenta (Zc 9.9; Mt 21.5); que fosse desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabia o que era padecer (Is 53.3).
E agora que a determinação divina se fez conhecida, podemos concluir, com segurança, que essa era a maneira mais adequada, e que não seria apropriado que Deus se manifestasse em carne com pompa terrena, riquezas e majestade. Não! Essas coisas são infinitamente inferiores e desprezíveis para que o Filho de Deus as desejasse ou valorizasse. Se os homens tivessem recebido uma proposta como essa, eles prontamente a rejeitariam, considerando-a tola e inadequada para o Filho de Deus. Mas "a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens" (1 Co 1.25). Deus resolveu reduzir a nada a sabedoria deste mundo, bem como a sabedoria dos poderosos desta época (1 Co 2.6). E assim, Cristo, por manifestar-Se visivelmente ao mundo em uma condição de vida simples e pobre, desprezou todas as riquezas e glórias humanas e nos ensinou a desprezá-las. E se convém a homens insignificantes desprezar essas coisas, quanto mais convinha ao Filho de Deus! Pela encarnação, Cristo nos ensinou a sermos humildes de coração. Se Ele, que é infinitamente sublime e magnífico, foi tão humilde, quanto mais nós, que somos tão desprezíveis, deveríamos ser humildes.
(2) A sabedoria de Deus se manifesta na obra de Cristo e nos interesses que Ele tinha. Essa sabedoria se manifesta principalmente no fato de que Ele deveria obedecer a Lei de Deus com perfeição, mesmo diante de tentações tão grandes; precisaria passar por conflitos contra os poderes da terra e do inferno e superá-los no caminho da obediência, por nossa causa; e teria de sujeitar-Se não somente à Lei Moral, mas também às leis cerimoniais, que eram um jugo pesado de servidão. Cristo cumpriu o Seu ministério público até o fim, entregando-nos as instruções e as doutrinas divinas. A sabedoria de Deus se manifesta no fato de Ele ter nos dado uma Pessoa divina para ser o nosso Profeta e Mestre. Aquele que é a própria sabedoria e Palavra de Deus; que existia desde a eternidade no seio do Pai. Sua palavra possui maior autoridade e influência do que do que a palavra pronunciada pela boca de um profeta comum. E como foi sábio determinar que uma mesma pessoa fosse o nosso Mestre e Redentor, de modo que Sua relação conosco e Seus ofícios como Redentor pudessem tornar Suas instruções mais valiosas e agradáveis para nós. Estamos sempre dispostos a prestar atenção àquilo que as pessoas que nos são preciosas nos dizem. O nosso amor por elas faz com que nos deleitemos com sua conversa. Por essa razão, foi sábio da parte de Deus determinar que Aquele que fez muito para se tornar estimado por nós fosse apontado como o nosso grande Profeta, para nos entregar as doutrinas divinas.
5. O próximo ASPECTO a ser considerado é a morte de Cristo. Esse meio para salvar pobres pecadores não poderia ser escolhido de outra maneira, senão pela sabedoria divina. Quando esse meio de salvação foi revelado, sem dúvida foi uma grande surpresa para todas as hostes celestiais; e elas nunca se cansarão de se maravilhar com isso. Quão espantoso é o fato de que Aquele que é eternamente bendito e infinitamente feliz em Sua essência tenha suportado os maiores sofrimentos que jamais foram suportados na terra! Que Alguém que é o Supremo Senhor e Juiz tenha sido levado a um tribunal de vermes mortais e condenado! Que Alguém que é o Deus Vivo e a fonte da vida tenha sido levado à morte! Que Alguém que criou o mundo e deu vida a todas as Suas criaturas tenha sido morto por suas próprias criaturas! Que Alguém com infinita majestade e glória – o objeto do amor, dos louvores e da adoração dos anjos – tenha sido escarnecido e desprezado pelos homens mais perversos. Que Alguém que é infinitamente bom e é amor em Si mesmo tenha sofrido a maior de todas as crueldades. Que Alguém que é infinitamente amado pelo Pai tenha sido deixado em agonia indizível sob a ira de Seu próprio Pai. Que Aquele que é o Rei dos céus, que tem os céus por Seu trono e a terra por estrado de Seus pés, tenha sido encerrado na prisão de um sepulcro. Como tudo isso é espantoso! Apesar disso, esse foi o meio que a sabedoria de Deus determinou como o meio de salvação dos pecadores; o qual não é inadequado, nem desonroso para Cristo.
6. A última OBRA realizada para obter salvação para os pecadores FOI a exaltação de Cristo. A sabedoria de Deus considerou necessário, ou melhor, mais propício que a mesma Pessoa que morreu na cruz se sentasse à destra de Deus, no Seu próprio trono, como o supremo governador do mundo; e que tivesse poder absoluto sobre todas as coisas concernentes à salvação do homem; e que fosse o Juiz do mundo. Isso era necessário porque era imprescindível que a mesma Pessoa que adquiriu a salvação pudesse concedê-la gratuitamente; pois não era adequado que Deus tratasse com as criaturas caídas de um outro modo misericordioso que não fosse por meio de um mediador. Isto é extraordinário para o fortalecimento da fé e conforto dos santos: que todas as coisas, nos céus e na terra, fossem entregues nas mãos Daquele que suportou tantas adversidades para adquirir a salvação dos pecadores; que Aquele que lhes adquiriu a vida eterna pudesse concedê-la a eles; que a mesma Pessoa que os amou tanto, ao ponto de derramar Seu precioso sangue por eles, fosse o seu Juiz no dia final.
Este é um outro fato espantoso: que Aquele que era homem e também Deus, que foi um servo e morreu como um malfeitor, viesse a ser o Soberano Senhor dos céus e da terra, dos anjos e dos homens; o absoluto doador da vida e da morte eterna; o supremo Juiz de todos os seres inteligentes criados, por toda a eternidade; e que Lhe tenha sido entregue todo o poder de governo de Deus Pai, não somente como Deus, nem somente como alguém que possui a natureza humana, mas como Deus-homem.
E assim como é espantoso que Alguém que é verdadeiramente divino tenha se humilhado de tal maneira, ao ponto de tornar-se um servo e sofrer como um malfeitor. E como também é espantoso que Aquele que é Deus-homem, não unicamente humano, seja exaltado com o poder e a honra do grande Deus dos céus e da terra. No entanto, milagres como esses revelam a infinita sabedoria divina, planejada e executada, a fim de nos conceder a salvação.
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Extraído de "The Wisdom of God Displayed in the Way of Salvation" (A Sabedoria de Deus Demonstrada no Meio de Salvação) in The Works of Jonathan Edwards (A Obra de Jonathan Edwards), V. 2, reeditado por Banner of Thuth Trust.
Traduzido por: Waléria Coicev
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quinta-feira, abril 01, 2010

As conseqüências

Adolescente é vitima do uso de pulseirinha do sexo em Londrina, assista a reportagem da RPC .
Em um trecho da reportagem a pedagoga Lizia Nagel da universidade de Maringá fez uma declaração muito boa a respeito dessa situação.