quinta-feira, junho 30, 2011

9Marcas de Uma Igreja Saudável: Mark Dever

É particularmente importante que se tenha uma teologia bíblica em uma área especial da vida da igreja: a nossa compreensão a respeito das boas novas de Jesus Cristo, o evangelho. O evangelho é o coração do cristianismo, e por isso deveria ser o coração da nossa fé. Todos nós como cristãos deveríamos orar para que nós nos preocupássemos mais com as maravilhosas boas novas da salvação em Cristo do que com qualquer outra coisa na vida da igreja. Uma igreja saudável está repleta de pessoas que têm um coração voltado para o evangelho, e ter um coração voltado para o evangelho significa ter um coração voltado para a verdade: para a apresentação de Deus a respeito dEle mesmo, para a nossa necessidade, para a provisão de Cristo, e para a nossa responsabilidade.
Quando apresento o evangelho a alguém, eu tento me lembrar de quatro pontos: Deus, o homem, Cristo e a resposta. Eu me pergunto: Compartilhei com esta pessoa a verdade sobre nosso Santo Deus e Soberano Criador? Deixei claro que nós, como seres humanos, somos uma estranha mistura: criaturas criadas à imagem de Deus e no entanto decaídas, pecadoras e separadas dEle? A pessoa com quem estou falando entende quem é Cristo - o Deus-Homem, o único mediador entre Deus e o homem, nosso substituto e Senhor ressurreto? E finalmente, mesmo que eu tenha compartilhado tudo isso com ele, será que ele entendeu que precisa responder ao evangelho, que ele tem que acreditar nesta mensagem e assim abandonar sua vida de egocentrismo e pecado?
Apresentar o evangelho como um aditivo para dar aos não-cristãos algo que naturalmente já desejam (alegria, paz, felicidade, realização, auto-estima, amor) é parcialmente verdadeiro, mas só parcialmente verdadeiro. Como J. I. Packer diz, "uma meia-verdade disfarçada em verdade inteira torna-se uma mentira completa". Fundamentalmente, todo mundo precisa de perdão. Nós precisamos de vida espiritual. Apresentar o evangelho menos radicalmente do que isso é pedir falsas conversões e uma membresia de igreja irrelevante. Tanto uma coisa como a outra tornam a evangelização do mundo ao nosso redor ainda mais difícil.
Nossos membros de igreja espalhados pelas casas, escritórios e vizinhanças vão, neste mesmo dia, entrar em contato com muito mais não-cristãos, por muito mais tempo, do que eles gastarão com cristãos em um domingo qualquer. Cada um de nós possui tremendas novas de salvação em Cristo. Não troquemos isso por qualquer outra coisa. E compartilhemos isso hoje! George W. Truett, grande líder Cristão da geração passada e pastor de Primeira Igreja Batista em Dallas, Texas, disse:
A suprema acusação que você pode trazer contra uma igreja. . . é que aquela igreja tem pouca paixão e compaixão pelas almas humanas. Uma igreja não é nada melhor que um clube ético se sua compaixão pelas almas perdidas não é transbordante, e se ela não sai para tentar levar almas perdidas ao conhecimento de Jesus Cristo.
Uma igreja saudável conhece o evangelho, e uma igreja saudável o compartilha.
Fonte: Extraído do livreto disponível online: 9 Marks of a Healthy Church
Esses textos são um resumo do livro 9Marca de Uma Igreja Saudável publicado em português pela Editora Fiel. No livro é feita uma abordagem mais ampla e detalhada de cada uma das 9 marcas. Editora Fiel

quarta-feira, junho 29, 2011

9Marcas de Uma Igreja Saudável: Mark Dever

A pregação expositiva é importante para a saúde de uma igreja. Entretanto, todo método, por melhor que seja, está sujeito a abuso e, portanto deve estar aberto a ser testado. Em nossas igrejas, deveríamos nos preocupar não só em como somos ensinados, mas com o que somos ensinados. Deveríamos apreciar o caráter são, particularmente em nossa compreensão do Deus bíblico e dos seus caminhos para conosco.
"Sanidade" é uma palavra antiquada. Nas cartas pastorais de Paulo a Timóteo e a Tito, "são" significa confiável, preciso ou fiel. Em sua raiz etimológica é uma figura do mundo médico que significa inteiro ou saudável. Lemos em 1 Timóteo 1 que a sã doutrina é amoldada pelo evangelho e que ela se opõe à impiedade e ao pecado. Ainda mais claramente, em 1 Timóteo 6:3, Paulo contrasta as "falsas doutrinas" com as "sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e. . . o ensino segundo a piedade". Assim, na sua segunda carta a Timóteo, Paulo exorta Timóteo a manter “o padrão das sãs palavras que de mim ouviste” (II Timóteo 1:13). Paulo adverte Timóteo de que "haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (II Timóteo 4:3).
Quando Paulo escreveu a outro jovem pastor – Tito - ele tinha preocupações semelhantes. Quem quer que Tito designasse como um presbítero, diz Paulo, teria que ser “apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem” (Tito 1:9). Paulo insta Tito a reprovar falsos mestres “para que sejam sadios na fé” (Tito 1:13). E também ordena a Tito: "Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina" (Tito 2:1).
Se nós fôssemos expor aqui tudo o que constitui sã doutrina, teríamos que reproduzir a Bíblia inteira. Mas, na prática, toda igreja decide quais são os assuntos em que precisa haver total acordo, quais admitem limitada discordância, e em quais pode haver total liberdade.
Na igreja em que ministro, em Washington DC, nós definimos que qualquer pessoa que deseje ser membro deve acreditar na salvação pela obra de Jesus Cristo apenas. Também confessamos as mesmas (ou bastante parecidas) convicções quanto ao batismo do crente e ao governo da igreja. Uniformidade nestes dois pontos não é essencial à salvação, mas acordo neles é útil na prática e saudável para a vida da igreja.
Pode-se permitir alguma discordância sobre assuntos que não parecem ser necessários à salvação, nem à vida prática da igreja. Assim, por exemplo, apesar de todos nós concordamos que Cristo voltará, não ficamos surpresos ao perceber que há discordância entre nós quanto ao momento certo do Seu retorno. Pode-se desfrutar de total liberdade em assuntos ainda menos centrais ou de pouca clareza, como a validade da resistência armada, ou a autoria do livro de Hebreus.
Em tudo isso, o princípio deve estar claro: quanto mais próximos chegarmos ao coração da nossa fé, mais devemos esperar ver nossa unidade expressa em um entendimento compartilhado dessa fé. A igreja primitiva colocou este princípio da seguinte forma: no essencial, unidade; no não essencial, diversidade; e em tudo amor.
O ensino saudável inclui um compromisso claro com doutrinas freqüentemente negligenciadas, porém claramente bíblicas. Para que possamos aprender a sã doutrina da Bíblia, nós precisamos encarar doutrinas que podem ser difíceis, ou até mesmo potencialmente divisionistas, mas que são fundamentais para compreendermos o trabalho de Deus entre nós. Por exemplo, a doutrina bíblica da eleição é freqüentemente evitada por ser considerada muito complexa, ou muito confusa. Seja como for, é inegável que esta doutrina é bíblica, e que é importante. Enquanto possa ter implicações que nós não entendemos plenamente, não é algo pequeno considerar que nossa salvação no final das contas procede de Deus em vez de nós mesmos. Outras perguntas importantes cujas respostas bíblicas também vêm sendo negligenciadas:
• Pessoas são basicamente ruins ou boas? Elas precisam tão somente de encorajamento e de um aumento de auto-estima, ou elas precisam de perdão e nova vida?
• O que Jesus Cristo fez morrendo na cruz? Ele tornou possível uma opção, ou Ele foi nosso substituto?
• O que acontece quando alguém se torna um cristão?
• Se nós somos cristãos, podemos estar seguros de que Deus continuará cuidando de nós? Neste caso, o Seu cuidado contínuo baseia-se em nossa fidelidade, ou na dEle?
Todas estas perguntas não são simplesmente questões para teólogos eruditos ou para jovens estudantes de seminário. Elas são importantes para todo cristão. Aqueles de nós que são pastores sabem quão diferentemente nós pastorearíamos nosso povo se nossa resposta a qualquer uma destas perguntas fosse alterada. Fidelidade às Escrituras exige que nós falemos sobre estes assuntos com clareza e autoridade.
Nosso entendimento do que a Bíblia ensina a respeito de Deus é crucial. O Deus Bíblico é Criador e Senhor; e ainda assim Sua soberania às vezes é negada até mesmo dentro da igreja. Cristãos confessos que resistem à idéia da soberania de Deus na criação ou na salvação estão, na verdade, brincando com um paganismo piedoso. Muitos cristãos têm questionamentos honestos sobre a soberania de Deus, mas uma negação contínua, tenaz, da soberania de Deus deveria nos deixar preocupados. Batizar uma pessoa assim, pode significar o batismo de um coração que ainda é de algum modo incrédulo. Admitir tal pessoa na membresia significa tratá-la como se ela confiasse em Deus, quando na verdade ela não confia.
Por mais perigosa que tal resistência seja em um cristão qualquer, ela é ainda mais perigosa no líder de uma congregação. Designar como líder uma pessoa que duvida da soberania de Deus ou que entende mal o ensino bíblico sobre esses assuntos é colocar como exemplo uma pessoa que pode estar muito pouco disposta a confiar em Deus. Tal indicação está fadada a ser um forte obstáculo para a igreja.
Atualmente a nossa cultura freqüentemente nos encoraja a transformarmos o evangelismo em propaganda e explica a obra do Espírito em termos de marketing. O próprio Deus às vezes é moldado à imagem do homem. Em tempos assim, uma igreja saudável deve ter um cuidado especial em orar por líderes que tenham uma compreensão bíblica e experimental da soberania de Deus e um compromisso com a sã doutrina, em sua absoluta glória bíblica. Uma igreja saudável é marcada pela pregação expositiva e por uma teologia bíblica.

Fonte: Extraído do livreto disponível online: 9 Marks of a Healthy Church
Esses textos são um resumo do livro 9Marca de Uma Igreja Saudável publicado em português pela Editora Fiel. No livro é feita uma abordagem mais ampla e detalhada de cada uma das 9 marcas. Editora Fiel

terça-feira, junho 28, 2011

9Marcas de Uma Igreja Saudável: Mark Dever

O ponto para começar a falar sobre as marcas da igreja saudável é onde Deus começa conosco – o modo como Ele fala conosco. Foi por aí que a nossa própria saúde espiritual veio, e é por esse caminho que a saúde de nossas igrejas virá também. Especialmente importante para qualquer um que esteja na liderança de uma igreja, mas particularmente para o pastor, é um compromisso com a pregação expositiva, um dos mais antigos métodos de pregação. Trata-se da pregação cujo objetivo é expor o que é dito em uma passagem particular da Bíblia, explicando cuidadosamente seu significado e aplicando-o à congregação (veja Neemias 8:8). Existem, evidentemente, muitos outros tipos de pregação. Sermões tópicos, por exemplo, coletam tudo o que a Bíblia ensina sobre um único assunto, como a oração ou a contribuição. A pregação biográfica aborda a vida de alguém na Bíblia e retrata-a como uma demonstração da graça de Deus e como um exemplo de esperança e fidelidade. Mas a pregação expositiva é algo diferente - uma explicação e aplicação de uma porção particular da Palavra de Deus.


A pregação expositiva presume uma convicção na autoridade da Bíblia, mas é algo mais. Um compromisso com a pregação expositiva é um compromisso de ouvir a Palavra de Deus. Assim como os profetas do Antigo Testamento e os apóstolos do Novo Testamento não receberam apenas uma ordem para ir e falar, mas uma mensagem específica, os pregadores cristãos de hoje têm autoridade para falar da parte de Deus somente se proclamarem as palavras dEle. Assim, a autoridade do pregador expositivo começa e termina com as Escrituras. Às vezes as pessoas podem confundir pregação expositiva com o estilo de um pregador expositivo predileto, mas não é fundamentalmente uma questão de estilo. Como outros já observaram a pregação expositiva não é tanto sobre como nós dizemos o que dizemos, mas sobre como nós decidimos o que dizer. Não é marcada por uma forma particular, mas por um conteúdo bíblico.

Pode-se aceitar alegremente a autoridade da Palavra de Deus e até mesmo professar a convicção na inerrância da Bíblia; ainda assim se na prática (propositalmente ou não) alguém não prega expositivamente, nunca pregará além do que já sabe. Um pregador pode tomar um trecho das Escrituras e exortar a congregação em um tópico que é importante sem que ele realmente pregue o ponto abordado na passagem. Quando isso acontece, o pregador e a congregação só ouvem nas Escrituras o que eles já sabiam.

Em contrapartida, quando pregamos uma passagem das Escrituras no contexto, expositivamente - tomando o ponto da passagem como o ponto da mensagem - nós ouvimos de Deus coisas que nós não pretendíamos ouvir quando começamos. Desde a chamada inicial ao arrependimento até a área de nossas vidas em que o Espírito nos condenou recentemente, a nossa salvação inteira consiste em ouvir a Deus de modos que nós, antes de ouvi-lO, nunca teríamos adivinhado. Esta submissão extremamente prática à Palavra de Deus deve ser evidente no ministério de um pregador. Não se deixe enganar: em última instância, é responsabilidade da congregação assegurar que as coisas sejam assim (observe a responsabilidade que Jesus põe sobre a congregação em Mateus 18, ou Paulo em 2 Timóteo 4). Uma igreja jamais pode colocar como supervisor espiritual do rebanho uma pessoa que não demonstra na prática um compromisso claro em ouvir e ensinar a Palavra de Deus. Agir assim é impedir inevitavelmente o crescimento da igreja, praticamente encorajando-a a só crescer até o nível do pastor. Se assim for, a igreja será conformada lentamente à mente dele, em vez de ser conformada à mente de Deus.

O povo de Deus sempre foi criado pela Palavra de Deus. Da criação em Gênesis 1 até a chamada de Abraão em Gênesis 12, da visão do vale dos ossos secos em Ezequiel 37 até a vinda da Palavra Viva, Deus sempre criou o Seu povo através da Sua Palavra. Como Paulo escreveu aos romanos, “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (10:17). Ou, como ele escreveu aos coríntios, "Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação" (1 Cor. 1:21).

A pregação expositiva sadia freqüentemente é o manancial de crescimento em uma igreja. Na experiência de Martinho Lutero, tal atenção cuidadosa para com a Palavra de Deus foi o princípio da reforma. Nós também precisamos estar comprometidos em sermos igrejas que sempre estão sendo reformadas de acordo com a Palavra de Deus.

Certa vez, quando eu estava ensinando em um seminário sobre puritanismo em uma igreja de Londres, eu mencionei que os sermões puritanos às vezes duravam duas horas. Diante disso, uma pessoa perguntou, "Quanto tempo sobrava para a adoração?" A suposição era de que ouvir a palavra de Deus pregada não constituía adoração. Eu respondi que muitos cristãos protestantes ingleses teriam considerado a possibilidade de ouvir a palavra de Deus no seu próprio idioma e de responder a ela nas suas vidas como a parte essencial da sua adoração. Se eles teriam tempo para cantar juntos seria comparativamente de pouca importância.

Nossas igrejas têm que recuperar a centralidade da Palavra na nossa adoração. Ouvir a Palavra de Deus e responder a ela pode incluir louvor e ações de graças, confissão e proclamação, e qualquer destas coisas pode vir na forma de canções, mas nenhuma delas precisa ter essa forma. Uma igreja construída sobre a música – seja qual for o estilo - é uma igreja construída sobre a areia. Pregar é o componente fundamental do pastorado. Ore por seu pastor, para que ele se dedique a estudar Bíblia rigorosa, cuidadosa e seriamente, e para que Deus o conduza na compreensão da Palavra, na aplicação dela à sua própria vida, e na aplicação dela à igreja (veja Lucas 24:27; Atos 6:4; Ef. 6:19-20). Se você é um pastor, ore por estas coisas para si mesmo. Ore também por outros que pregam e ensinam a Palavra de Deus. Finalmente, ore para que nossas igrejas assumam um compromisso de ouvir a Palavra de Deus pregada expositivamente, de forma que os rumos de cada igreja sejam crescentemente moldados pela agenda de Deus expressa nas Escrituras. O compromisso com a pregação expositiva é uma marca de uma igreja saudável.

Fonte: Extraído do livreto disponível online: 9 Marks of a Healthy Church

Esses textos são um resumo do livro 9Marca de Uma Igreja Saudável publicado em português pela Editora Fiel. No livro é feita uma abordagem mais ampla e detalhada de cada uma das 9 marcas. Editora Fiel

quinta-feira, junho 23, 2011

A Ira de Deus - por Arthur W. Pink


É triste ver tantos cristãos professos que parecem considerar a ira de Deus como uma coisa pela qual eles precisam pedir desculpas, ou, pelo menos, parece que gostariam que não existisse tal coisa. Conquanto alguns não fossem longe o bastante para admitir abertamente que a consideram uma mancha no caráter divino, contudo, estão longe de vê-la com bons olhos, não gostam de pensar nisso e dificilmente a ouvem mencionada sem que surja em seus corações um ressentimento contra essa idéia. Mesmo dentre os mais sóbrios em sua maneira de julgar, não poucos parecem imaginar que há na questão da ira de Deus uma severidade terrificante demais para propiciar um tema para consideração proveitosa. Outros dão abrigo ao erro de pensar que a ira de Deus não é coerente com a Sua bondade, e assim procuram bani-la dos seus pensamentos.

Sim, muitos há que fogem de visualizar a ira de Deus, como se fossem intimados a ver alguma nódoa no caráter divino, ou algum defeito no governo divino. Mas, o que dizem as Escrituras? Quando a procuramos nelas, vemos que Deus não dez tentativa alguma para ocultar a realidade da Sua ira. Ele não se envergonha de ar a conhecer que a vingança e a cólera Lhe pertencem. Eis o Seu desafio: "Vede agora que eu, eu o sou, e mais nenhum Deus comigo; eu mato, e eu faço viver; eu firo, e eu saro; e ninguém há que escape da minha mão. Porque levantei a minha mão aos céus, e direi: Eu vivo para sempre. Se eu afiar a minha espada reluzente, a travar do juízo a minha mão, farei tornar a vingança sobre os meus adversários, e recompensarei aos meus aborrecedores"(Dt.32:39-41). Um estudo na concordância mostrará que há mais referências nas Escrituras à indignação, à cólera e à ira de Deus, do que aos Seu amor e ternura. Porque Deus é santo, ele odeia todo pecado; e porque ele odeia todo pecado, a Sua ira inflama-se contra o pecador. (Sl.7:11).

Pois bem, a ira de Deus é uma perfeição divina tanto como a sua fidelidade, o Seu poder ou a Sua misericórdia. Só pode ser assim, pois não há mácula alguma, nem o mais ligeiro defeito no caráter de Deus, porém, haveria, se Nele não houvesse "ira"! A indiferença para com o pecado é uma nódoa moral, e aquele que não odeia é um leproso moral. Como poderia Aquele que é a soma de todas as excelência olhar com igual satisfação para a virtude e o vício, para a sabedoria e a estultícia? Como poderia Aquele que é infinitamente santo ficar indiferente ao pecado e negar-Se a manifestar a Sua "severidade"(Rm.11:22) para com ele? Como poderia Aquele que só tem prazer no que é puro e nobre, deixar de detestar e de odiar o que é impuro e vil? A própria natureza de Deus faz do inferno uma necessidade tão real, um requisito tão imperativo e eterno como o céu o é. Não somente não há imperfeição nenhuma em Deus, mas também não há Nele perfeição que seja menos perfeita do que outra.

A ira de Deus é sua eterna ojeriza por toda injustiça. É o desprazer e a indignação da divina equidade contra o mal. É a santidade de Deus posta em ação contra o pecado. É a causa motora daquela sentença justa que ele lavra sobre os malfeitores. Deus está irado contra o pecado porque este é rebelião contra a Sua autoridade, um ultraje à Sua soberania inviolável. Os insurgentes contra o governo de Deus saberão um dia que Deus é o Senhor. Serão levados a sentir quão grandiosa é aquela Majestade que eles desprezaram, e como é terrível aquela ira de que foram ameaçados e a que não deram a mínima importância. Não que a ira de Deus seja uma retaliação maldosa e mal intencionada, infligindo agravo só pelo prazer de infligi-lo, ou devolver a ofensa recebida. Não; embora seja verdade que Deus vindicará o domínio como Governador do universo, ele não será revanchista.

Evidencia-se que a ira divina é uma das perfeições de Deus, não somente pelas considerações acima apresentadas, mas também fica estabelecido claramente pelas declarações expressas da Sua Palavra. "Porque do céu manifesta a ira de Deus..."(Rm.1:18). "Manifestou-se quando foi pronunciada a primeira sentença de morte, quando a terra foi amaldiçoada e o homem foi expulso do paraíso terrestre; e depois, mediante castigos exemplares como o dilúvio e a destruição das cidades da planície com fogo do céu, mas, especialmente pelo reinado da morte no mundo todo. Foi proclamada na maldição da lei para cada transgressão, e foi imposta na instituição do sacrifício. No capítulo 8 de romanos, o apóstolo Paulo chama a atenção para o fato de que a criação inteira ficou sujeita à vaidade, e geme e tem dores de parto. A mesma criação que declara que existe um Deus, e publica a Sua glória, também proclama que Ele é inimigo do pecado e o vingador dos crimes dos homens. Acima de tudo, porém, do céu se manifestou a ira de Deus quando o Filho de Deus veio a este mundo para revelar o caráter divino, e quando essa ira foi demostrada nos Seus sofrimentos e morte, de maneira mais terrível do que por todas as provas que Deus antes dera da Sua aversão pela pecado. Além disso, o castigo futuro e eterno dos ímpios agora é declarado em termos mais solenes e explícitos do que antes. Sob a nova dispensação há duas revelações dadas do céu, uma da ira, a outra da graça"(Robert Haldane).
Mais: que a ira de Deus é uma perfeição divina está demostrado claramente pelo que lemos nos Salmo 95:11: "Por isso jurei na minha ira que não entrarão no meu repouso". Duas sãos as ocasiões em que Deus "jura": quando faz promessas (Gn22:16), e quando faz ameaças(Dt.1:34). Na primeira, jura com misericórdia dos Seus filhos; na Segunda, jura para aterrorizar os ímpios. Um juramento é feito para confirmação: Hb.6:16. Em Gn.22:16 disse Deus: "Por mim mesmo, jurei". NO Sl.89:35 ele declara: "Uma vez jurei por minha santidade". Enquanto que no Sl.95:11 ele afirma: "Jurei na minha ira". Assim é que o grande Jeová pessoalmente recorre à Sua "ira" como a uma perfeição igual à sua "santidade": tanto jura por uma como pela outra! Ainda: como em Cristo "...habita corporalmente toda a plenitude da divindade"(Cl.2:9), e como todas as perfeições divinas são notavelmente manifestadas por Ele (Jo.1:18), por isso lemos sobre "... a ira do Cordeiro"(Ap.6:16).

A ira de Deus é uma perfeição do caráter divino sobre a qual precisamos meditar com freqüência. Primeiro, para que os nosso corações fiquem devidamente impressionados com a ojeriza de Deus pelo pecado. Estamos sempre inclinados a uma consideração superficial do pecado, a encobrir a sua fealdade, a desculpá-lo com escusas várias. Mas, quanto mais estudarmos e ponderarmos a aversão de Deus pelo pecado e a maneira terrível como se vinga dele, mais probabilidade teremos de compreender quão horrível é o pecado. Segundo, para produzir em nossas almas um verdadeiro temor de Deus: "... retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente com reverência e piedade ("santo temos"); porque o nosso Deus é fogo consumidor"(Hb.12:28-29). Não podemos serví-lO "agradavelmente" sem a devida "reverência" ante a sua tremenda Majestade e sem o devido "santo temor" de Sua ira, e promoveremos melhor estas coisas trazendo freqüentemente à memória o fato de que "o nosso Deus é um fogo consumidor". Terceiro, para induzir nossas almas a fervoroso louvor a Deus por Ter-nos livrado "... da ira futura"(I Ts.1:10).

A nossa prontidão ou a nossa relutância em meditar na ira de Deus é um teste seguro de até que ponto os nossos corações reagem à Sua influência. Se não nos regozijamos verdadeiramente em Deus, pelo que ele é em Si mesmo, e por todas as perfeições que nEle há eternamente, como poderá permanecer em nós o amor de Deus? Cada um de nós precisa vigiar o mais possível em oração contra o perigo de criar em nossa mente uma imagem de Deus segundo o modelo das nossas inclinações pecaminosas. Desde há muito o Senhor lamentou: "... pensavas que (Eu) era como tu"(Sl.50:21). Se não nos alegramos "... em memória da sua santidade"(Sl.97:12), se não nos alegramos por saber que num dia que logo vem, Deus fará uma demonstração sumamente gloriosa da Sua ira, tomando vingança em todos os que agora se opõem a Ele, é prova positiva de que os nossos corações não estão sujeitos a Ele, que ainda, permanecemos em nossos pecados, rumo às chamas eternas.
"Jubilai, ó nações (gentios), com o seu povo, porque vingará o sangue dos seus servos, e sobre os seus adversários fará tornar a vingança..."(Dt.32:43). E ainda lemos: "E, depois destas coisas, ouvi no céu como que uma grande voz de grande multidão, que dizia: Aleluia; Salvação, e glória, e honra, e poder pertencem ao Senhor nosso Deus; Porque verdadeiros e justos sãos os seus juízos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua prostituição, e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos. E outra vez disseram: Aleluia..." (Ap.19:1-3). Grande será o regozijo dos santos naquele dia em que o Senhor irá vindicar a sua majestade, exercer o Seu domínio formidável, magnificar a Sua justiça, e derribar os orgulhosos rebeldes que ousaram desafiá-lO.
"Se tu, Senhor, observares (imputares) as iniquidades, Senhor quem subsistirá? (Sm. 130:3). Cada um de nós pode bem fazer esta pergunta, pois está escrito que "...os ímpios não subsistirão no juízo..." (Sl.1:5). Quão dolorosamente a alma de Cristo padeceu ao pensar na ação de Deus observando as iniquidades do Seu povo quando estas pesaram sobre Ele! Ele "... começou a Ter pavor, e a angustiar-se"(Mc. 14:33). Sua agonia terrível, Seu suor de sangue, Seu grande clamor e súplicas (Hb.5:7), Suas reiteradas orações: "Se é possível, passe de mim este cálice", Seu último e tremendo brado, "Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?"- tudo manifesta que pavorosas apreensões Ele teve quanto ao que era para Deus "observar iniquidades". Bem que nós, pobres pecadores, podemos clamar: Senhor, quem subsistirá, se o próprio Filho de Deus tremeu tanto sob o peso da Tua ira? Se tu, meu leitor, ainda não correste em busca do refúgio em Cristo, o único salvador, "... que farás na enchente do Jordão?"(Jr.12:5).
"Quando considero como a bondade de Deus sofre abusos da maior parte da humanidade, não posso senão apoiar quem disse: "O maior milagre do mundo é a paciência e generosidade de Deus para como mundo ingrato. Se um príncipe tem inimigos metidos numa de suas cidades, não lhes envia provisões, mas mantém sitiado o local e faz o que pode para vencê-los pela fome. Mas o grande Deus, que poderia levar todos os Seus inimigos à destruição num piscar de olhos, tolera-os e se empenha diariamente para sustentá-los. Aquele que faz o bem aos maus e ingratos, pode muito bem ordenar-nos que bendigamos os que nos maldizem. Não penseis, porém, que escapareis assim, pecadores; o moinho de Deus mói devagar, mas mói fino; quanto mais admirável é agora a Sua paciência e generosidade, mais terrível e insuportável será a fúria resultante dos abusos feitos à Sua bondade. Nada é mais brando do que o mar; contudo, quando se agita e forma temporal, nada se enfurece mais. Nada é tão suave como a paciência e bondade de Deus, e nada tão terrível como a sua ira quando se inflama" (William Gurnall, 1660). "Fuja", pois, meu leitor, fuja para Cristo; fuja "... da ira futura"(Mt.3:7), antes que seja tarde demais. Nós lhe rogamos com todo o empenho, não pense que esta mensagem tem em vista outra pessoa. É para você que está lendo! Não fique satisfeito em pensar que você já fugiu para Cristo. Obtenha certeza disso! Rogue ao Senhor que sonde o teu coração e te revele o que tu és (pois o erro ou engano, será fatal e eterno).

Fonte: Arthur Pink, Os Atributos de Deus, Editora PES.

terça-feira, junho 14, 2011

Dez Efeitos de Se Crer nos Cinco Pontos do Calvinismo

Estes dez pontos são meu testemunho pessoal dos efeitos de se crer nos cinco pontos do Calvinismo. Eu tinha acabado de completar o ensino num seminário sobre este assunto, quando fui solicitado pelos membros da classe para que publicasse essas reflexões, de forma que eles pudessem ter acesso a elas. Estou muito feliz de assim o fazer. Apesar do conteúdo dessas reflexões estar disponível numa fita do Desiring God Ministries, eu o coloquei aqui para um aproveitamento mais amplo, na esperança de que elas possam motivar outros a investigar, como os Bereanos, para ver se a Bíblia ensina o que eu chamo de “Calvinismo”.

1. Estas verdades me fazem permanecer no temor de Deus e me guiam à profundidade da adoração centrada em Deus.
Eu me recordo o tempo quando eu primeiramente observei, enquanto ensinava Efésios no Colégio Betel no final da década de 70, a tripla declaração do objetivo de toda obra de Deus, a saber, “para o louvor da glória de Sua graça” (Efésios 1:6,12,14).
Isto me leva a ver que não podemos enriquecer a Deus e que, portanto, Sua glória brilha mais claramente, não quando tentamos satisfazer Suas necessidades, mas quando estamos satisfeitos nEle, como a essência de nossos feitos. “Porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas. Glória pois a Ele eternamente” (Romanos 11:36). A adoração se torna um fim em si mesma.
Isto tem me feito sentir quão fracas e inadequadas são minhas afeições, de forma que os Salmos de desejos tornam-se vivos e fazem a adoração intensa.

2. Essas verdades ajudam a me proteger de brincar com as coisas divinas.
Uma das maldições de nossa cultura é a banalidade, atração, inteligência. A televisão é o principal sustentador de nosso vício à superficialidade e trivialidade.
Deus é varrido nisto. Por conseguinte, a brincadeira com as coisas divinas.
Seriedade não é excessiva em nossos dias. Ela pode alguma vez ter sido. E, sim, há desequilíbrios em certas pessoas hoje, que parecem não ser capazes de relaxar e falar sobre o tempo.
Robertson Nicole disse de Spurgeon, "O evangelismo do tipo humorístico [poderíamos dizer crescimento de igreja do tipo marketing] pode atrair multidões, mas ele reduz a alma a cinzas e destrói os genuínos germes da religião. O Sr. Spurgeon é freqüentemente considerado por aqueles que não conhecem seus sermões, como tendo sido um pregador humorista. Para dizer a verdade, não houve nenhum pregador cujo tom fosse mais informalmente sério, reverente e solene” (Citado na Supremacia de Deus na Pregação, p. 57).

3. Estas verdades fazem com que me maravilhe com minha própria salvação.
Após expor a grande obra de salvação de Deus em Efésios 1, Paulo ora, na última parte deste capítulo, para que o efeito desta teologia seja a iluminação de nossos corações, para que nos maravilhemos na nossa esperança, e nas riquezas da glória de nossa herança, e no poder de Deus que opera em nós – isto é, o poder para ressuscitar os mortos.
Todo motivo de vanglória é removido. Alegria e gratidão de um coração quebrantado abundam.
A piedade de Jonathan Edwards começa a crescer. Deus nos dá uma prova de Sua própria majestade e nossa própria perversidade e então, a vida Cristã se torna uma coisa muito diferente da piedade convencional. Edwards a descreve belamente quando ele diz,
“Os desejos dos santos, embora sérios, são desejos humildes: sua esperança é uma esperança humilde, e sua alegria, mesmo quando ela é indizível, e cheia de glória, é humilde, uma alegria de um coração quebrantado, e deixa o Cristão mais pobre em espírito, e mais semelhante a uma pequena criança, e mais disposto a uma submissão universal de comportamento (Religious Affections, New Haven: Yale University Press, 1959, pp. 339s).

4. Estas verdades me fazem alerta para os substitutos antropocêntricos que se apresentam como boas novas.
Em meu livro, Os Prazeres de Deus (2000), pp. 144-145, eu mostro que no século XVIII, na Nova Inglaterra, o declínio da crença na soberania de Deus levou ao Arminianismo, e então ao universalismo, e então ao Unitarismo. A mesma coisa aconteceu na Inglaterra no século XIX, após Spurgeon.
O livro de Iain Murray, Jonathan Edwards: Uma Nova Biografia (Edinburgh: Banner of Truth, 1987), p. 454, documenta a mesma coisa: “As convicções calvinistas diminuíram na América do Norte. No progresso do declínio que Edwards tinha com razão alertado de antemão, aquelas igrejas Congregacionais da Nova Inglaterra que tinham abraçado o Arminianismo após o Grande Despertamento, gradualmente se moveram para o Unitarismo e universalismo, guiados por Charles Chauncy”.
Você pode ler também no livro de J.I. Packer, Quest for Godliness [1] (Wheaton, IL: Crossway Books, 1990), p. 160, como Richard Baxter abandonou estes ensinamentos e como as gerações seguintes colheram uma colheita amarga na igreja de Baxter, em Kidderminster.
Estas doutrinas são um baluarte contra os ensinamentos antropocêntricos em muitas formas, que gradualmente corrompem a igreja e a fazem fraca internamente, enquanto tudo parece forte ou popular.
1 Timóteo 3:15, "A igreja do Deus vivo [é] o pilar e o baluarte da verdade”.

5. Estas verdades me fazem gemer diante da indescritível doença de nosso século: uma cultura que faz pouco caso de Deus.
Eu dificilmente posso ler o jornal ou ver um anúncio na TV ou na billboard [2] sem sentir o peso de que Deus está ausente.
Quando Deus é a principal realidade no universo e é tratado como uma não-realidade, eu tremo diante da ira que está sendo entesourada. Eu sou capaz de ficar chocado. Muitos cristãos estão sedados com a mesma droga que o mundo está. Mas estes ensinos são um grande antídoto.
E eu oro por despertamento e avivamento.
E tento pregar para criar um povo que são tão saturados de Deus, que eles mostrarão e falaram sobre Deus em tudo lugar, e em todo tempo.
Nós existimos para reafirmar a realidade de Deus e a supremacia de Deus em tudo da vida.

6. Estas verdades me fazem confiar que a obra que Deus planejou e começou, Ele terminará – tanto globalmente como pessoalmente.
Este é o ponto de Romanos 8:28-39.
E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou. Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica; Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós; quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.

7. Estas verdades me fazem ver tudo à luz dos propósitos soberanos de Deus – Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente.
Tudo da vida se relaciona com Deus. Não há compartimento onde Ele não seja todo-importante e Aquele que dá significado à todas as coisas. 1 Coríntios 10:31.
Vendo o soberano propósito de Deus se desenvolvendo na Escritura, e ouvindo Paulo dizer que “Ele faz todas as coisas segundo o conselho de Sua vontade” (Efésios 1:11) me faz ver o mundo desta maneira.

8. Estas verdades me fazem esperançoso de que Deus tem a vontade, o direito e o poder de responder orações para que as pessoas sejam transformadas.
A garantia de oração é que Deus pode interromper e mudar as coisas – incluindo o coração humano. Ele pode mudar a vontade ao redor. “Santificado seja Teu nome” significa: faça com que as pessoas santifiquem Seu nome. “Possa Sua palavra correr e ser glorificada” significa: faça com que os corações sejam abertos para o evangelho.
Devemos tomar as promessas do Novo Concerto e implorar a Deus para que as cumpra em nossas crianças e em nossos vizinhos, e entre todas os campos missionários do mundo.
“Deus, tire o coração de pedra deles e lhes dê um coração de carne” (Ezequiel 11:19).
“Senhor, circuncide os seus corações, para que eles Te amem” (Deuteronômio 30:6).
“Pai, coloque Teu Espírito dentro deles e faça com que eles andem em Teus estatutos” (Ezequiel 36:27).
“Senhor, conceda-lhes arrependimento e o conhecimento da verdade, para que eles possam espaçar das ciladas do diabo” (2 Timóteo 2:25-26).
“Pai, abras os seus corações, para que eles creiam no evangelho” (Atos 16:14).

9. Estas verdades me fazem lembrar que o evangelismo é absolutamente essencial para que as pessoas venham a Cristo e sejam salvas, e que há grande esperança para o sucesso no conduzir as pessoas à fé, mas que a conversão não é, no final das contas, dependente de mim ou limitada pela dureza do incrédulo.
Assim, isto dá esperança ao evangelismo, especialmente nos lugares difíceis e entre povos duros.
João 10:16, " Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco; a essas também me importa conduzir, e elas ouvirão a minha voz”
Isto é obra de Deus. Se arremesse nela com abnegação.

10. Estas verdades me asseguram de que Deus triunfará no fim.
Isaías 46:9-10: “Eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antigüidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade;
Resumindo todos estes pontos: Deus recebe a glória e nós a alegria.

Por John Piper. © Desiring God. Website: desiringGod.org

sexta-feira, junho 10, 2011

Teísmo aberto por Franklin Ferreira

Durante mais ou menos dois mil anos a igreja cristã, em todas as suas vertentes, confessou unanimemente crer em Deus-Pai, todo poderoso, criador do céu e da terra. Essa sempre foi (e é) uma questão básica e inegociável para a igreja. Não havia dificuldade alguma em crer que há um único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo e que esse Deus é todo poderoso e criador do céu e da terra. Trata-se, portanto, de uma questão básica para a igreja. Os pais da igreja confirmaram isso e sempre enfatizaram a presciência divina. Dessa forma, todos antigos escritores cristãos afirmaram esse ponto.
Porém, em meados dos anos 1980, um teólogo canadense chamado Clark Pinnock, começou a publicar alguns textos questionando a presciência divina também afirmando a autonomia da vontade em relação a Deus.
Mais recentemente, na metade do século XX, arminianos radicais, como o já citado Clark Pinnock, Richard Rice, Greg Boyd, John Sanders e David Basinger, reconheceram que se Deus prevê algo, então este forçosamente vai acontecer – em outras palavras, a presciência de Deus também é uma limitação do livre-arbítrio e, por isso, eles negaram que Deus conheça o futuro. Deus só conhece as possibilidades futuras. Nessa altura devemos fazer uma pergunta provocadora: quem criou o que Deus prevê? – se a resposta a esta pergunta for eco do ensino bíblico, só se pode concluir que Deus determinou aquilo que ele quer que aconteça, já que ele é o criador de todas as coisas. Mas, para tais autores, não havia como crer numa autonomia do ser humano mantendo a crença tradicional da onisciência divina. Dessa forma, esses escritores reinterpretaram os atributos de potência e onisciência em Deus. Segundo eles, Deus ao criar o ser humano, o criou livre dos seus atributos de poder e onisciência.
Assim, o chamado teísmo do livre-arbítrio (ou teísmo aberto) é um modelo novo, uma tentativa de encontrar uma posição mediana entre o teísmo clássico e a teologia do processo.2
O teísmo aberto pode ser resumido em quatro proposições:
1. O conhecimento que Deus tem de todas as coisas não é estabelecido na eternidade;
2. Sua presciência não é exaustiva, porque ele se auto-limita;
3. Seu relacionamento providencial com o mundo não é meticuloso;
4. O futuro não está totalmente seguro.
Estes escritores costumam dar mais fundamentação bíblica para as suas afirmações do que outros movimentos costumeiramente fazem. Todavia, no seu próprio interesse, eles dizem que a linguagem bíblica não é simplesmente fenomenológica ou antropológica, mas literal. Tomando literalmente muitos textos, eles formulam a abertura de sua teologia no que respeita a Deus.3
Numa série de livros, Clark Pinnock e John Sanders têm promovido uma visão de um Deus finito e limitado em seu poder e conhecimento. Eles afirmam que se o homem tem livre-arbítrio de verdade, então Deus não pode ordenar nem conhecer os eventos que irão acontecer no futuro. O futuro está em aberto, no sentido de ser tanto criação do homem como de Deus.4 Como Pinnock escreve:
A ideia da responsabilidade moral exige que acreditemos que as ações não são determinadas, nem interna nem externamente. Uma importante implicação desta forte definição de livre-arbítrio é que a realidade permanece, em certa extensão, aberta, e não fechada. Isto significa que uma novidade genuína pode aparecer na história, que não pode ser prevista por ninguém, nem mesmo por Deus. (...) Tal conceito implica em que o futuro realmente está em aberto, e não disponível à exaustiva presciência nem mesmo da parte de Deus. Fica bem claro que a doutrina bíblica do livre-arbítrio humano exige de nós que reconsideremos a perspectiva convencional da onisciência de Deus.5
Em outras palavras, o que se infere é que quase que a totalidade da tradição cristã, incluindo aí o arminianismo clássico, desde o primeiro século até agora, tem afirmado uma noção equivocada quanto à natureza de Deus – mas, felizmente, no fim do século XX, Pinnock, Sanders e outros conseguiram finalmente entender a verdade! Essa postura soa arrogante quando se observa que a Escritura é clara ao refutar tal ensino. Uma rápida checada nas Escrituras mostra que um dos fatores que distingue o Deus verdadeiro de Israel dos falsos deuses é precisamente o fato de que Deus conhece o futuro absolutamente e, assim, é capaz de predizer o que acontecerá com certeza (Is 46.10). Os planos de Deus não são frustrados (Sl 33.10-11), porque ele faz tudo segundo o conselho da sua vontade (Ef 1.11).
A fim de facilitar nossa compreensão, segue abaixo uma comparação entre a visão “aberta” e a visão reformada tradicional.

Os problemas do teísmo aberto são muitos. Roger Nicole, numa resenha que escreveu sobre um dos principais textos deste movimento, The Openness of God, levanta vários problemas e perguntas a respeito do teísmo aberto.
Primeiro, ele nota que o teísmo aberto não é consistente com a existência de profecias detalhadas nas Escrituras. “Como Deus poderia saber que Judas trairia Jesus por 30 moedas de prata, quando o pagamento e aceitação de tal soma dependiam de decisões imprevisíveis dos principais sacerdotes e de Judas?” De fato, uma profecia, como a crucificação de Jesus, não apenas exige que Deus conheça o que acontecerá no futuro, mas que ele também tenha controle soberano sobre cada decisão livre de todos os agentes que participaram nos eventos, como de Pôncio Pilatos e dos soldados que lançaram sortes sobre a túnica de Jesus. Mas, como Nicole afirma, se Deus nem soubesse com certeza que Adão cairia em pecado, certamente ele não poderia “prever a morte de Cristo antes da fundação do mundo” (1Pe 1.20; Ap 13.8; 17.8). A visão de Pinnock e Sanders, segundo Nicole, faz com que Simeão tivesse mais conhecimento do que Deus (Lc 2.35).
Roger Nicole também está correto ao indicar a futilidade da oração, se o teísmo aberto fosse verdadeiro. “O que dá direito aos autores [do The Openness of God] a aconselharem Deus em suas orações? O que eles sabem que Deus não sabe?” E por que perder tempo pedindo que Deus intervenha para salvar os pecadores? Já que Deus não interfere com o livre-arbítrio das pessoas, ele não poderá fazer nada para influenciar a pessoa para se tornar uma cristã. Sem conhecer o futuro, Deus nem pode saber como as pessoas reagiriam a qualquer influência colocada em seu caminho. Deus estaria completamente desamparado diante da autonomia do pecador.
Concordamos com a avaliação de Nicole. O caminho para aqueles que têm abraçado o teísmo aberto parece ser o completo abandono da fé cristã histórica. Uma por uma, as outras doutrinas centrais da fé cristã serão abandonadas, ou por estes autores, ou por seus discípulos, exatamente como já aconteceu no passado. O caminho para o liberalismo e, depois, para o naturalismo, começa com a doutrina da autonomia do homem. A conclusão dele está correta:
Não é muito difícil prever para onde estas pessoas se moverão, se elas seguirem a lógica de sua própria posição. Eles brevemente abandonarão a doutrina cristã do pecado original, porque ela será vista como incompatível com o livre-arbítrio de todo ser humano que entra neste mundo (conforme Pelágio). O passo lógico seguinte é renunciar a expiação substitutiva penal, como tem frequentemente acontecido no liberalismo e até mesmo no arminianismo. Quando a expiação se vai, não há nenhuma grande necessidade de se manter a deidade de Cristo, e quando isto se vai, geralmente se descarta a doutrina da Trindade. Então, a pessoa estará em pé de igualdade com o socinismo, que é o último passo antes da total negação do cristianismo. Na outra direção, a sedução da teologia do processo, que os presentes autores são ávidos em repelir, indubitavelmente exercerá algum poder sobre suas mentes. Quando alguém lê este livro, tem a impressão de que muitas vezes algumas páginas foram escritas por John Hick.6
Para concluir, precisamos notar que alguns dos defensores do teísmo aberto têm afirmado que este seria uma recuperação da cosmovisão judaica, afastando a fé cristã das influências da filosofia grega. Mas é necessário perguntar: que cosmovisão judaica? Ao se estudar a literatura judaica antiga, o que fica evidente, por um lado, é o desprezo destes pela cultura helênica e, por outro lado, a ênfase na onipotência absoluta de Deus. Basta um pouco de familiaridade com alguns dos textos de Efraim Urbach, Akiba, Tanchuma bar Abba, Hanima, Joshua ben Hananiah, entre outros, para perceber esta diferença. A ideia básica do antigo judaísmo é que Deus dirige todos os atos dos homens rumo ao fim que ele mesmo estabeleceu. E é nesse ponto que o judaísmo antigo foi mais acentuadamente contrastado com o paganismo. No fim se descobre que não existe nada novo nas atuais posições dos defensores do teísmo aberto que não tenha sido ensinado no passado, por Heráclito, por exemplo, ou, na atualidade, pelos adeptos da teologia do processo.7
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1Resumido e adaptado de Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2007), p. 308-310, 337-341.
2Heber Carlos de Campos, “O teísmo aberto: um ensaio introdutório”, em Fides Reformata, v. 9, n. 2, p. 34: “O Teísmo Aberto tem afinidade com o arminianismo de um lado e com o Teísmo da Teologia do Processo, de outro. À semelhança do arminianismo, o Teísmo Aberto crê que o conhecimento de Deus é dependente das escolhas humanas, mas, em contraste com o arminianismo, o Teísmo Aberto rejeita a ideia de que Deus tenha um conhecimento exaustivo das coisas. O arminianismo clássico nunca sustentou essa visão do futuro aberto”.
3Heber Carlos de Campos, “O teísmo aberto: um ensaio introdutório”, p. 38.
4Cf. Clark Pinnock (ed.), The openness of God e John Sanders, The God who Risks; a theology of providence.
5Clark Pinnock, “Deus Limita Seu Conhecimento”, em David Basinger e Randall Basinger (ed.), Predestinação e livre-arbítrio, p. 182-183.
6Roger Nicole, resenha do livro Clark Pinnock (ed.), The openness of God; a Biblical challenge to the traditional understanding of God, disponível em: http://www.monergismo.com/textos/presciencia/open.htm, acessado em 10.12.2005.
7Cf. especialmente Russell Fuller, “Os rabinos e as declarações dos defensores do teísmo aberto”, em John Piper, Justin Taylor e Paul Helseth, Teísmo aberto; uma teologia além dos limites bíblicos, p. 27-49.

Franklin Ferreira


É Bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, foi professor de teologia sistemática e história da igreja no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil no Rio de Janeiro (1997-2007) e professor visitante no Seminário Teológico Servo de Cristo, São Paulo (2002-2006). É autor dos livros Gigantes da Fé e Agostinho de A a Z e também Teologia Sistemática publicado por Edições Vida Nova

 
 
Fonte :Edições Vida Nova