1. As Doutrinas da Graça enchem-me de temor a Deus e
levam-me à verdadeira adoração profunda centrada em Deus.
Recordo a época em que vi, pela primeira vez, enquanto
ensinava Efésios no Bethel College, no final dos anos 1970, a afirmação
concernente ao alvo de toda a obra de Deus — ou seja: “Para louvor da glória de sua graça” (Ef 1.6,
12, 14). Isso me fez perceber que não podemos enriquecer a Deus e que, por essa
razão, sua glória resplandece mais esplendidamente não quando tentamos
satisfazer as necessidades dEle, e sim quando nos satisfazemos nEle como a
essência de nossas obras. “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas
as coisas. A ele, pois, a glória eternamente” (Rm 11.36). A adoração se torna um fim em si mesmo. Isso
me faz sentir quão insignificantes e inadequadas são as minhas afeições, de
modo que os salmos de anseios se mostram vívidos e tornam a adoração intensa.
2. Estas verdades protegem-me de vulgarizar as coisas
divinas.
Um dos caminhos de nossa cultura é a banalidade, a
esperteza, a sagacidade. A televisão é o principal mantenedor de nosso desejo
compulsivo por superficialidade e trivialidade. Deus é incluído entre essas
coisas. Por isso, existe hoje a vulgarização das coisas espirituais. Seriedade
não está em excesso nestes dias. Foi abundante no passado. Sim, há
desequilíbrios em certas pessoas que parecem não ser capazes de relaxar e falar
sobre o clima. Robertson Nicole disse a respeito de Spurgeon: “O evangelismo
agradável [podemos dizer, o crescimento de igreja norteado por marketing] pode
atrair multidões, mas lança a alma nas cinzas e destrói as próprias sementes do
cristianismo. O Sr. Spurgeon tem sido reputado frequentemente, por aqueles que
não conhecem seus sermões, como um pregador que utilizava humor. De fato, não
havia nenhum outro pregador cujo tom era mais uniformemente sério, reverente e
solene” (Citado em The Supremacy of God in Preaching, p. 57).
3. Estas verdades me fazem admirar a minha própria salvação.
Depois de descrever a grande salvação em Efésios, Paulo
orou, na última parte daquele capítulo, para que o efeito daquela teologia
fosse a iluminação do coração, a fim de que nos maravilhássemos com a nossa
esperança, com as riquezas da glória de nossa herança em Deus e com o poder de
Deus que opera em nós — ou seja, o poder que ressuscitou a Jesus dentre os
mortos. Todos os motivos de vanglória são removidos. Há muita alegria e
gratidão. A piedade de Jonathan Edwards começa a crescer. Quando Deus nos dá um
vislumbre da sua majestade e de nossa impiedade, a vida cristã se torna uma
coisa bem diferente da piedade convencional. Edwards descreveu isso, de maneira
magnífica, quando disse: Os desejos dos santos, embora zelosos, são humildes.
Sua esperança é humilde; e sua alegria, ainda que indizível e cheia de glória,
é humilde e contrita, deixando o cristão mais pobre de espírito, mais
semelhante a uma criança e mais propenso a um comportamento modesto (Religious
Affections,New Haven: Yale University Press, 1959, p. 339ss).
4. Estas verdades tornam-me alerta quanto aos substitutos
centrados no homem que passam por boas-novas.
Em meu livro The Pleasures of God (2000), nas páginas 144 e
145, mostrei que, na Nova Inglaterra do século XVIII, o afastamento do ensino
sobre a soberania de Deus levou ao arminianismo e, deste, ao universalismo e,
deste, ao unitarismo. A mesma coisa aconteceu na Inglaterra do século XIX,
depois de Spurgeon. O livro Jonathan Edwards: A New Biography (Edinburgh:
Banner of Truth, 1987, p. 454), escrito por Iain Murray, documenta a mesma
coisa: “As convicções calvinistas empalideceram na América do Norte. No
andamento do declínio que Edwards antecipara corretamente, aquelas igrejas
congregacionais da Nova Inglaterra que tinham abraçado o arminianismo, depois
do Grande Avivamento, moveram-se gradualmente ao unitarismo e ao universalismo,
lideradas por Charles Chauncy”. No livro Quest for Godliness (Wheaton, IL:
Crossway Books, 1990, p. 160), escrito por J. I. Packer, você pode perceber
como Richard Baxter abandonou estes ensinos e como as gerações seguintes
tiveram uma colheita horrível na igreja de Baxter, em Kidderminster. Estas
doutrinas são uma proteção contra os ensinos centrados no homem que, sob muitas
formas, corrompem gradualmente a igreja, tornando-a fraca em seu interior,
enquanto parece forte e popular. 1 Timóteo 3.15 — “Para que, se eu tardar,
fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus
vivo, coluna e baluarte da verdade”.
5. Estas verdades fazem-me gemer diante da indescritível
enfermidade de nossa cultura secular que milita contra Deus.
Não posso ler o jornal, assistir a uma propaganda na TV ou ver
um outdoorsem o intenso pesar de que Deus está ausente. Quando Ele, a principal
realidade do universo, é tratado como se não existisse, tremo ao pensar na ira
que está sendo acumulada. Fico chocado. Tantos cristãos estão sedados pela
mesma droga que entorpece o mundo. Mas estes ensinos são um antídoto poderoso.
Oro por um despertamento e avivamento. Esforço-me para pregar tendo em vista
criar um povo tão impregnado de Deus, que O mostrará e falará sobre Ele onde
quer que esteja, em todo o tempo. Existimos para afirmar a realidade de Deus e
a sua supremacia em toda a vida.
6. Estas verdades tornam-me confiante de que a obra
planejada e começada por Deus chegará ao final — tanto no que diz respeito ao
universo como ao indivíduo.
Este é o argumento de Romanos 8.28-39: “Sabemos que todas as
coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou;
e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses
também glorificou. Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós,
quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por
todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as
coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os
justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem
ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos
separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou
fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos
entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro.
Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que
nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os
anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os
poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá
separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
7. Estas verdades fazem com que eu veja todas as coisas à
luz dos propósitos soberanos de Deus: dEle, por meio dEle e para Ele são todas
as coisas; a Ele seja a glória para sempre e sempre.
Todas as coisas da vida se relacionam a Deus. Não há
qualquer aspecto de nossa vida em que Ele não seja extremamente importante —
Aquele que dá sentido a tudo (cf. 1 Co 10.31). Ver os propósitos soberanos de
Deus sendo desenvolvidos nas Escrituras e ouvir o apóstolo Paulo dizendo: Ele
“faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11) faz-me perceber
o mundo desta maneira.
8. Estas verdades enchem-me da esperança de que Deus tem
vontade, direito e poder de responder as súplicas para que pessoas sejam
mudadas.
A garantia da oração é que Deus pode irromper e mudar as
coisas — incluindo o coração humano. Pode transformar a vontade. “Santificado
seja o teu nome” significa faze as pessoas santificarem o teu nome. “Que a tua
palavra se propague e seja glorificada” significa faze os corações abrirem-se
para o evangelho. Devemos tomar as promessas da nova aliança e rogar a Deus que
sejam trazidas à realização em nossos filhos, vizinhos e todos os campos
missionários do mundo. “Ó Deus, remove deles o coração de pedra e dá-lhes um
coração de carne” (Ez 11.19). “Senhor,
circuncida o coração deles para que Te amem” (Dt 30.6). “Ó Pai, coloca dentro deles o teu Espírito e
faze-os andar nos teus estatutos” (Ez 36.27).
“Senhor, concede-lhes arrependimento e conhecimento da verdade, para que
fiquem livres das armadilhas do diabo” (2 Tm 2.25-26). “Pai, abre-lhes o coração
para crerem no evangelho” (At 16.14).
9. Estas verdades recordam-me que o evangelismo é
absolutamente essencial para que as pessoas venham a Cristo e sejam salvas.
Recordam-me também que há esperança de sucesso em levar as pessoas à fé e que,
em última análise, a conversão não depende de mim, nem está limitada à
insensibilidade do incrédulo.
Portanto, isso nos proporciona esperança na evangelização,
especialmente em lugares difíceis e entre pessoas de coração empedernido.
“Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las;
elas ouvirão a minha voz” (Jo 10.16). É
a obra de Deus. Dedique-se a ela com resignação.
10. Estas verdades deixam-me convicto de que Deus triunfará
no final.
“Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou
Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o
princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que
ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a
minha vontade” (Is 46.9-10). Reunindo todas estas verdades: Deus recebe a
glória, e nós, o gozo.
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