sexta-feira, julho 08, 2011

9Marcas de Uma Igreja Saudável: Mark Dever

Que tipo de liderança uma igreja saudável possui? Uma congregação, comprometida com Cristo, preparada para servir? Sim. Diáconos que são modelos de serviço nos assuntos da igreja? Sim. Um pastor que é fiel na pregação da Palavra de Deus? Sim. Mas biblicamente, há uma outra coisa que também faz parte da liderança de uma igreja saudável: presbíteros.
Como pastor, eu oro para que Cristo levante na nossa congregação homens cujos dons espirituais e cuidado pastoral indiquem que Deus os chamou a serem presbíteros ou bispos (as palavras são usadas indistintamente na Bíblia; veja por exemplo, em Atos 20). Eu oro para que Deus faça crescer e capacite tais discípulos para o trabalho de supervisão pastoral da nossa congregação e para o seu ensino. Se ficar claro que Deus concedeu dons a certo homem na igreja, e se, depois de muita oração, a igreja reconhece seus dons, então ele deveria ser escolhido como um presbítero.
Todas as igrejas tiveram indivíduos que executaram as funções de presbíteros, mesmo que lhes tenham chamado por outros nomes. O dois nomes usados pelo Novo Testamento para este ofício são episcopos (supervisor, bispo) e presbuteros (presbítero, ancião). Quando evangélicos ouvem a palavra "presbítero", muitos imediatamente pensam em "presbiteriano", contudo os primeiros congregacionalistas, no século XVI, ensinavam que o presbiterato era um dos ofícios em uma igreja neotestamentária. Presbíteros podiam ser encontrados nas igrejas batistas nos Estados Unidos ao longo do século XVIII e no século XIX. De fato, o primeiro presidente da Convenção Batista do Sul, W. B. Johnson, escreveu um tratado no qual ele pedia que a prática de ter uma pluralidade de presbíteros fosse reconhecida como bíblica e seguida em um número maior de igrejas batistas. O argumento de Johnson foi ignorado. Seja por desatenção para com a Bíblia, ou pela pressão da vida na fronteira onde as igrejas estavam crescendo a uma taxa surpreendente, a prática de cultivar tal liderança declinou. Mas a discussão em documentos batistas quanto a reavivar este ofício bíblico continuou. Até no início do século vinte, publicações batistas continuavam se referindo a líderes pelo título de "presbíteros".
Batistas e presbiterianos tem tido duas diferenças básicas nas suas compreensões quanto aos presbíteros. Primeiro e fundamentalmente, batistas são congregacionalistas. Quer dizer, eles entendem que o discernimento final nos assuntos da igreja repousa não com os presbíteros em uma congregação (ou além dela, como no modelo presbiteriano), mas com a congregação como um todo. Então, batistas dão ênfase à natureza consensual de ação da igreja. Portanto, em uma igreja batista, os presbíteros e todas as outras comissões e comitês agem no que é, em última instância, uma capacidade aconselhadora para a congregação inteira.
Uma nota adicional se faz necessária sobre a autoridade da congregação reunida. Nada diferente da congregação local reunida é o tribunal final de apelação sob Cristo. Sempre de novo no Novo Testamento, nós achamos evidência do que parecia ser uma forma primitiva de congregacionalismo. Em Mateus 18 quando Jesus estava ensinando os Seus discípulos sobre como confrontar o irmão pecador, o tribunal final não é o grupo de presbíteros, nem um bispo ou um papa, nem um conselho ou uma convenção. O tribunal final é a congregação. Em Atos 6, os apóstolos entregaram a decisão quanto aos diáconos para a congregação.
Nas cartas de Paulo, também encontramos evidência desta suposição da responsabilidade final da congregação. Em 1 coríntios 5, Paulo não culpou o pastor, os presbíteros ou os diáconos, mas a congregação como um todo por tolerar o pecado. Em 2 Coríntios 2, Paulo refere-se ao que a maioria deles tinha feito disciplinando um membro errante. Em Galatás, Paulo conclamou as congregações para julgarem o ensino que eles estavam ouvindo. Em 2 Timóteo 4, Paulo não reprovou somente os falsos mestres, mas também aqueles que os pagavam para ensinar o que aqueles que tinham coceira nos ouvidos queriam ouvir. Os presbíteros lideram, mas eles assim fazem biblicamente e necessariamente dentro dos limites reconhecidos pela congregação.
A segunda discordância é quanto ao papel e responsabilidades dos presbíteros. Presbiterianos tenderam a dar ênfase à declaração de Paulo a Timóteo em 1 Timotéo 5:17, "Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino." A última frase, alguns argumentaram, claramente sugere que haviam anciões cujo trabalho principal não era pregar ou ensinar, mas governar ou reger. Esta é a origem da distinção entre os “presbíteros regentes” (presbíteros leigos) e “presbíteros docentes" (pastores) presbiterianos.
Mas "especialmente" (ou “com especialidade”) é uma tradução questionável da palavra malista que, neste contexto, fica melhor traduzida por "certamente" ou "particularmente”. Um pouco antes em 1 Timóteo 4:10, lê-se, "porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente (malista) dos fiéis." Paulo parece estar indicando que tantas pessoas serão salvas sem crer quantas dirigirão os negócios da igreja sem pregar e ensinar: em outras palavras, nenhuma.
Batistas tenderam a dar ênfase ao caráter intercambiável dos termos "presbítero” (ou “ancião”), "bispo" (ou “supervisor”) e "pastor" no Novo Testamento, e mostraram que em 1 Timóteo 3:2, Paulo falou a Timóteo claramente que os anciões devem ser "aptos a ensinar." E ele escreveu a Tito que o presbítero deve ser "apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem" (Tito 1:9). Os batistas, portanto, freqüentemente negaram a conveniência de ter presbíteros que não são capazes de ensinar as Escrituras.
Porém, no que os batistas e os presbiterianos do século dezoito freqüentemente concordavam, era que deveria haver uma pluralidade de presbíteros em cada igreja local. Embora o Novo Testamento nunca sugira um número específico de presbíteros para uma congregação em particular, ele refere-se claramente a "presbíteros", no plural, nas igrejas locais (por exemplo, Atos 14:23; 16:4; 20:17; 21:18; Tito 1:5; Tiago 5:14). Minha própria experiência confirma para mim a utilidade de seguir a prática neotestamentária de ter, onde possível, mais presbíteros em uma igreja local do que simplesmente o solitário pastor, e de tê-los dentre as pessoas arraigadas na congregação. Esta prática é incomum entre as igrejas batistas hoje, mas há uma tendência crescente - e por uma boa razão. Foi necessário nas igrejas do Novo Testamento, e é necessário agora.
Isto não significa que o pastor não tem nenhum papel distintivo. Há muitas referências no Novo Testamento à pregação e pregadores que não se aplicariam a todos os presbíteros numa congregação. Assim, em Corinto, Paulo se entregou exclusivamente à pregação de uma forma que presbíteros leigos em uma congregação não poderiam (Atos 18:5; cf. 1 Coríntios 9:14; 1 Timóteo 4:13; 5:17). Pregadores pareciam ir expressamente a uma algum local para pregar (Romanos 10:14-15), apesar de aparentemente presbíteros já fazerem parte da comunidade (Tito 1:5). (Para mais informações sobre esta distinção, veja Uma Exibição da Glória de Deus - A Display of God’s Glory, [CCR: 2001].)
Entretanto, precisamos lembrar que o pregador, ou pastor, também é fundamentalmente um dos presbíteros da sua congregação. Isso significa que decisões que envolvem a igreja, mas que não requerem a atenção de todos os membros, não deveriam recair sobre o pastor apenas, mas sobre os presbíteros como um todo. Apesar de isso ser, às vezes, incômodo, traz os imensos benefícios de arredondar os dons do pastor, compensando alguns dos seus defeitos, complementando o seu julgamento, e criando apoio na congregação para as decisões, deixando os líderes menos expostos a críticas injustas. Também torna a liderança mais arraigada e permanente, e permite uma continuidade mais amadurecida. Também encoraja a igreja a assumir mais responsabilidade por sua própria espiritualidade e torna a igreja menos dependente dos seus empregados.
Muitas igrejas modernas têm uma tendência de confundir os presbíteros com a diretoria da igreja ou com os diáconos. Os diáconos, também, preenchem um ofício neotestamentário, fundamentado em Atos 6. Apesar de qualquer distinção absoluta entre os dois ofícios ser difícil, as preocupações dos diáconos são os detalhes práticos da vida da igreja: administração, manutenção, e o cuidado de membros da igreja com necessidades físicas. Em muitas igrejas hoje, os diáconos assumiram algum papel espiritual; mas a maior parte foi simplesmente deixada para o pastor. Seria benéfico para a igreja voltar a distinguir o papel de presbítero do de diácono.
O presbiterato é o ofício bíblico que eu exerço como pastor: Eu sou o principal presbítero pregador. Mas todos os presbíteros deveriam trabalhar juntos para a edificação da igreja, reunindo-se regularmente para orar e discutir, ou para formular recomendações para os diáconos ou para a igreja. Claramente, esta é uma idéia bíblica que tem grande valor prático. Se implementada em nossas igrejas, poderia ajudar imensamente os pastores removendo peso dos seus ombros e removendo até mesmo as suas próprias pequenas tiranias das suas igrejas. De fato, a prática de reconhecer leigos piedosos, perspicazes e fiéis como presbíteros é outra marca de uma igreja saudável.
Fonte: Extraído do livreto disponível online: 9 Marks of a Healthy Church
Esses textos são um resumo do livro 9Marca de Uma Igreja Saudável publicado em português pela Editora Fiel. No livro é feita uma abordagem mais ampla e detalhada de cada uma das 9 marcas. Editora Fiel

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