Há
um sentido em que o que nós conhecemos hoje como "membresia de
igreja" não é bíblico. Não temos nenhum registro de um cristão do primeiro
século que vivia, por exemplo, em Jerusalém Central e aí precisasse decidir se
deveria se envolver com uma assembléia particular de cristãos em vez de alguma
outra. Até onde podemos perceber, não havia troca-troca de igrejas porque só
havia uma igreja em uma determinada comunidade. Nesse sentido, não sabemos de
nenhum rol de membros de igreja no Novo Testamento. Mas existem listas de
pessoas ligadas de alguma forma à igreja no Novo Testamento. Temos tanto as
listas de viúvas sustentadas pela igreja (1 Timóteo 5) quanto os nomes escritos
no Livro da Vida do Cordeiro (Filipenses 4:3; Apocalipse 21:27). E há passagens
no Novo Testamento que apontam para definição e limites claros à membresia de
uma igreja. As igrejas sabiam quem compunha o seu rol de membros. Por exemplo,
as cartas de Paulo para a igreja de Corinto mostram que alguns indivíduos
seriam excluídos (por exemplo, 1 Coríntios 5) e que alguns seriam incluídos
(por exemplo, 2 Coríntios 2). Nesse segundo exemplo, Paulo menciona até mesmo
uma "maioria" das pessoas (2 Coríntios 2:6) que são citadas como
tendo infligido a “punição" de exclusão da igreja. Essa
"maioria" só poderia estar se referindo a uma maioria do grupo das
pessoas que foram reconhecidas como membros da igreja.
A
prática da membresia de igreja entre cristãos desenvolveu-se como uma tentativa
para nos ajudar a perceber um ao outro em responsabilidade e amor.
Identificando-nos com uma igreja particular, permitimos que os pastores e
demais membros daquela igreja local saibam que nós pretendemos manter um
compromisso na freqüência, na oferta, na oração e no serviço. Nós ampliamos as
expectativas de outros em relação a nós mesmos nessas áreas, e tornamos claro
que estamos sob a responsabilidade desta igreja local. Nós asseguramos a igreja
quanto ao nosso compromisso com Cristo ao servir com eles, e pedimos o
compromisso deles quanto a nos servir em amor e nos encorajar em nosso
discipulado.
Neste
sentido, a membresia é uma idéia bíblica. Dentre outras coisas, procede do uso
que Paulo faz da imagem do corpo para a igreja local. Procede de Cristo nos
salvando por Sua graça e colocando-nos nas igrejas para servi-lO em amor
enquanto servimos uns aos outros. Procede de nossas obrigações mútuas expressas
nas passagens das Escrituras que falam sobre "juntos" e "uns aos
outros". Tudo isso está encapsulado no pacto de uma igreja saudável.
Não
deveria ser nenhuma surpresa que quando se traz a visão quanto ao evangelismo,
conversão e Evangelho para mais para perto da Bíblia há implicações quanto à
forma como se concebe a membresia de igreja. Quando isso ocorre começamos a ver
a membresia menos como uma ligação frouxa eventualmente útil e mais como uma
responsabilidade regular que envolve as vidas uns dos outros para o progresso
do evangelho.
Não
é nada incomum haver um abismo entre o rol de membros de uma igreja e o número
de pessoas ativamente envolvidas. Imagine uma igreja de 3.000 membros com uma
freqüência regular de apenas 600. Temo que, infelizmente, muitos pastores
evangélicos hoje se orgulham mais da membresia declarada do que se incomodam
com a baixa freqüência. De acordo com um recente estudo da Convenção Batista do
Sul, isto é normal nas igrejas da denominação. A igreja batista do sul típica
tem 233 membros e 70 pessoas no culto dominical matutino. Será que a nossa
igreja está em melhor estado? Que congregações têm orçamentos que igualam –
para não dizer excedem - 10% das rendas anuais combinadas dos seus membros?
Com
exceção dos casos em que há limitações físicas que impedem a freqüência ou
problemas financeiros que impedem a oferta, esta situação não sugere que a
membresia vem sendo apresentada como não necessariamente requerendo
envolvimento? Afinal o que este número de membros significa? Números escritos
podem tornar-se ídolos tão facilmente quanto imagens esculpidas - talvez até
mais facilmente. Entretanto será Deus que um dia avaliará nossas vidas, e Ele
verificará o peso do nosso trabalho, creio eu, em vez de contar nossos números.
Se a igreja é um edifício, então nós devemos ser tijolos nele; se a igreja é um
corpo, então nós somos seus membros; se a igreja é a família da fé, presume-se
que nós fazemos parte dessa família. Ovelhas permanecem no rebanho, e ramos na
videira. Biblicamente, se uma pessoa é cristã ela precisa ser membro de uma
igreja. Deixando os aspectos particulares de lado - se o rol de membros é
mantido em fichários ou em discos de computador – o certo é que não devemos
deixar de congregar-nos (Hebreus 10:25). Esta condição de membro não é um
simples registro de uma declaração que fizemos uma vez no passado ou o apego a
um lugar familiar. Deve ser o reflexo de um compromisso vivo, ou então é inútil
e até mesmo pior que inútil: é uma condição perigosa.
Membros
descompromissados confundem tanto os verdadeiros membros quanto os não-cristãos
sobre o que significa ser cristão. E os membros "ativos" não fazem
nenhum bem aos voluntariamente "inativos" quando lhes permitem
permanecer como membros da igreja; porque a membresia é o endosso corporativo
da igreja quanto à salvação de uma pessoa. Mais uma vez, isto deve ser
claramente entendido: a membresia em uma igreja é o testemunho corporativo
daquela igreja quanto à salvação do membro individual. Entretanto, como pode
uma congregação testemunhar honestamente que alguém invisível para ela está
correndo a corrida com fidelidade? Se membros deixaram nossa companhia e não
foram para alguma outra igreja bíblica, que evidência nós podemos fornecer de
que eles alguma vez fizeram parte de nós? Não necessariamente nós sabemos se
tais pessoas descompromissadas são ou não cristãs; nós simplesmente não podemos
afirmar que elas são. Nós não precisamos lhes dizer que nós sabemos que elas
vão para Inferno, nós só não podemos lhes dizer que nós sabemos que eles vão
para o Céu.
Para
que uma igreja pratique uma membresia eclesiástica bíblica não é preciso
perfeição, mas honestidade. Não pede decisões nuas e cruas, mas um verdadeiro
discipulado. Não é composto somente de experiências individuais, mas de
afirmações corporativas daqueles que estão em aliança com Deus e uns com os
outros. Pessoalmente, eu espero ver os números da membresia da igreja em que
sirvo tornando-se mais significativos, de tal forma que todos os que são
membros de nome tornem-se membros de verdade. Para muitos, isto significou ter
seus nomes removidos de nosso rol (mas não de nossos corações). Para outros,
significou um compromisso renovado com a vida de nossa igreja. Novos membros
estão sendo instruídos na fé e na vida de nossa igreja. Muitos de nossos
membros antigos precisam de instrução semelhante e de encorajamento. Conforme
fomos nos tornando a Igreja Batista saudável que éramos historicamente, nossa
freqüência voltou a exceder o número de membros mais uma vez. Certamente este
deveria ser o seu desejo para a sua igreja também.
A
recuperação de uma cuidadosa de membresia de igreja trará muitos benefícios.
Tornará o nosso testemunho aos não-cristãos mais claro. Também ficará mais
difícil para a ovelha mais fraca vaguear longe do aprisco, enquanto ainda se
considera ovelha. Auxiliará a dar forma e foco ao discipulado de cristãos mais
maduros. Ajudará nossos líderes eclesiásticos a saberem com mais precisão por
quem eles são responsáveis. E em tudo isso, Deus será glorificado.
Ore
para que a o rol de membros das igrejas passe a ser algo mais do que é
atualmente, de forma que nós possamos conhecer melhor por quem nós somos
responsáveis, para possamos orar por eles, encorajá-los e desafiá-los. Jamais
deveríamos permitir às pessoas permanecerem no rol de membros de nossas igrejas
por razões sentimentais. Biblicamente falando, tal membresia não é membresia
alguma. No pacto de nossa igreja nós nos comprometemos a "Caso nos mudemos
deste lugar para outro, iremos procurar o mais rápido possível alguma outra
igreja onde possamos colocar em prática o espírito deste pacto e os princípios
da Palavra de Deus." Esse compromisso é parte integrante de um discipulado
saudável, particularmente em nossos dias altamente transientes.
Ser
membro de uma igreja significa ser incorporado de forma prática no corpo de
Cristo. Significa viajarmos juntos como estrangeiros e peregrinos neste mundo
enquanto caminhamos rumo ao nosso lar celestial. Certamente outra marca de uma
igreja saudável é uma compreensão bíblica quanto à membresia de igreja.
Esses textos são um resumo do livro 9Marca de Uma Igreja
Saudável publicado em português pela Editora Fiel. No livro é feita uma
abordagem mais ampla e detalhada de cada uma das 9 marcas. Editora
Fiel
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